UnicaPhoto - Ed.18
Revista do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Revista do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
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um lado as(os) fotógrafas(os)
criam as imagens, por outro, as
pessoas que as veem, por sua
vez, participam da publicação
desse instante, que fora tornado
documento. Para dar continuidade
a tal estudo, o autor desdobra o
tema no texto “O terceiro clique
da fotografia: reindicialização
das imagens efêmeras em telas
flutuantes”, em que problematiza
o caráter indicial da fotografia,
por conta da criação e do
tratamento de cenas através de
programas editores de imagens,
assim após os estágios de
fotografar e compartilhar, eis que
surge o “dar o print”, ação que
registra o fluxo do tempo dentro
da ótica da vigilância do que está
acontecendo.
Pelo texto “Fotografia vernacular,
uma história silenciada da
fotografia”, Afonso Júnior joga
luz na produção fotográfica
doméstica, já que este foi
um ponto de apagamento na
história da fotografia. São
imagens do cotidiano, feitas
pelas famílias com câmeras
compactas (atualmente com
telefones celulares) e que não
teve merecido reconhecimento
na construção teórica, ao mesmo
tempo que movimenta toda a
indústria fotográfica. Afonso
Júnior (2021, p. 140) afirma que
“é essa situação que negligencia o
repertório de imagens domésticas
esquecendo, de maneira óbvia, que
os modelos de representação desse
visual-vernacular acumulados no
correr do tempo são um fragmento
possível para se entender a
própria fotografia”.
“O retrato da tristeza: a
representação do sujeito público
na carte-de-visite oitocentista na
Coleção Francisco Rodrigues”
traz a investigação das imagens
feitas pela nobreza açucareira do
período de 1840 a 1920, ao todo
é composta por 17 mil peças, mas
a Fundação Joaquim Nabuco (que
preserva tal coleção) publicou
uma obra com um recorte de 500
fotografias, especificamente de
retratos (ou melhor, cartes de
visite), em que se pode ver as
pessoas que viviam na época,
bem como os lugares que foram
registrados, suas vestimentas,
móveis e poses. Esta coleção
permite vários olhares que se
abrem para diversos campos de
pesquisa, na sua perspectiva,
Afonso Júnior indica que não
há sorrisos e questiona: “Eram
os sujeitos oitocentistas pessoas
tristes?” (2021, p. 148). E
responde que essa expressão se
dá em função do ato fotográfico
daquele momento, que precisava
de um certo tempo para as placas
emulsionadas com material
fotossensível registrar as
imagens, e pelo comportamento
social da época, onde os sorrisos
ficaram ausentes, com o objetivo
de construir a imagem pública dos
sujeitos daquele tempo específico.
O que uma fotografia revela e
o que ela esconde pelas várias
escolhas que são operadas por
quem fotografa e por quem é
fotografado é descrito no texto
“Diante de uma foto de Chichico
Alkmim: equívocos entre as
molduras de enquadramento
e composição no retrato
fotográfico”, em que o professor
Afonso Júnior discute a produção
de uma fotografia de família feita
pelo fotógrafo mineiro Chichico
Alkmin entre o enquadramento
e a composição, em que pesa
questões sociais onde mostra
pai, mãe e filhos e esconde uma
mulher e duas crianças que
seguram um cenário artificial ao
fundo na trama entre realidades e
ficções em que as fotografias são
atravessadas pelos recortes feitos.
O livro encerra com uma
discussão acerca da fotografia
documental, visto que é um
discurso elaborado através de
uma narrativa imagética que fica
entre a criação e a informação
das situações sociais discutido
no texto “O segundo pêndulo da
fotografia documental: entre os
paradogmas de informar e os
impasses do enformar”. Afonso
Júnior (2021, p. 179) discute
que “é um modelo, portanto, no
qual o outro assume uma forma
(é enformado) a partir de um
olhar externo, construído menos
pela alteridade ou empatia. E
do que, certamente, pelo exótico
que o outro passa a ser enquanto
representação”.
A fotografia permite um amplo
de pesquisa, por uma lado,
pela criação da imagem em si,
analisando a forma e o conteúdo
que agrega conhecimentos
tecnológicos, estéticos e culturais,
por outro lado, é pelo registro
fotográfico que vemos as pessoas,
os lugares, as situações (dentro
de um específico contexto),
para discutir os discursos, as
intencionalidades e o sintomas
que a narrativa visual apresenta.
Como pesquisador, professor e
fotógrafo Afonso Júnior apresenta
sua compreensão acerca da
produção imagética que serve
para fundamentar tantas outras
pesquisas que busca discutir a
complexa criação fotográfica
atual.
Instantâneos
da fotografia
contemporânea
José Afonso Jr.
Appris Editora
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