UnicaPhoto - Ed.18
Revista do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Revista do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
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O ucraniano Arthur Fellig,
a.k.a. Weegee, (Zolochiv,
Ucrânia, 1899–1968 New
York) com sua câmera
Speed Graphic, por volta
de 1944.
Fotografia por Weegee
(Arthur Fellig)/
International Center of
Photography
O auge do fotojornalismo aconteceu
em meados do século XX e seu
modelo era a revista Life, que criou
uma estética: guerras, pobreza,
costumes eram espetacularizados
pelas lentes, em tom comovente,
algumas vezes kitsch.
Quanto maior impacto emocional,
menos reflexão.
Uma das primeiras pulsões da
prática fotográfica foi a vontade
de registrar lugares, eventos,
pessoas distantes, exóticas. O
fotojornalismo só deu continuidade
à pulsão.
Sobre a fotorreportagem, Barthes
dizia: as pessoas pensam enxergar
“o real” mas, na verdade, criam
mitologias.
Nessa criação, se destacam alguns
fotojornalistas. Eddie Adams
e suas fotos do Vietnam. Quais
imagens dele foram encenadas e
quais teriam sido “reais”? Gordon
Parks: seu apelo melodramático
fotografando as favelas do Rio
é imitado ad nauseam pela TV
brasileira.
No Brasil, nos Diários Associados,
à moda de Life, há Pierre
Verger e Jean Manzon. Estilos
diferentes, fotografavam povos
indígenas e religiões afrocentradas,
de forma “documental”, mas
espetacularizavam a identidade
mais íntima dos brasileiros.
Para entender a fotografia é preciso
enxergar não apenas a foto, mas
o sistema de distribuição, dizia
Vilém Flusser. O sistema “arte”
busca a beleza nas imagens. O
sistema “jornalismo”, a “verdade”.
Se essas imagens são “mitologias”
é importante olhar para o
fotojornalismo para além kitsch,
da Life. É o caso do americano
Weege cobrindo as guerras entre
máfias na NY entre 1930 e 40:
“de mau gosto”, “sensacionalista”,
“sangrenta”, se dizia de suas
fotos. Vistas agora, as fotos de
Weege revelam um olhar singular,
mordaz, irônico, ousado sobre a
violência da vida urbana. Uma obra
fotojornalística que sempre tentou
corroer a postura mitológica.
E, hoje, onde estariam os
Weegees?
Nem todas as suas fotos
eram de crime e morte.
Algumas eram, aliás,
bastante delicadas – como
“Boy Meets Girl – From
Mars” (1955), uma das
fotos mais românticas,
poéticas e surreais
de seu tempo, como
se vê na página inteira.
Depois da ópera,
no Sammy’s Night Club,
Bowery, Nova York, 1943-45
© Weegee Archive/
International Center
of Photography
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