um lado as(os) fotógrafas(os)criam as imagens, por outro, aspessoas que as veem, por suavez, participam da publicaçãodesse instante, que fora tornadodocumento. Para dar continuidadea tal estudo, o autor desdobra otema no texto “O terceiro cliqueda fotografia: reindicializaçãodas imagens efêmeras em telasflutuantes”, em que problematizao caráter indicial da fotografia,por conta da criação e dotratamento de cenas através deprogramas editores de imagens,assim após os estágios defotografar e compartilhar, eis quesurge o “dar o print”, ação queregistra o fluxo do tempo dentroda ótica da vigilância do que estáacontecendo.Pelo texto “Fotografia vernacular,uma história silenciada dafotografia”, Afonso Júnior jogaluz na produção fotográficadoméstica, já que este foium ponto de apagamento nahistória da fotografia. Sãoimagens do cotidiano, feitaspelas famílias com câmerascompactas (atualmente comtelefones celulares) e que nãoteve merecido reconhecimentona construção teórica, ao mesmotempo que movimenta toda aindústria fotográfica. AfonsoJúnior (2021, p. 140) afirma que“é essa situação que negligencia orepertório de imagens domésticasesquecendo, de maneira óbvia, queos modelos de representação dessevisual-vernacular acumulados nocorrer do tempo são um fragmentopossível para se entender aprópria fotografia”.“O retrato da tristeza: arepresentação do sujeito públicona carte-de-visite oitocentista naColeção Francisco Rodrigues”traz a investigação das imagensfeitas pela nobreza açucareira doperíodo de 1840 a 1920, ao todoé composta por 17 mil peças, masa Fundação Joaquim Nabuco (quepreserva tal coleção) publicouuma obra com um recorte de 500fotografias, especificamente deretratos (ou melhor, cartes devisite), em que se pode ver aspessoas que viviam na época,bem como os lugares que foramregistrados, suas vestimentas,móveis e poses. Esta coleçãopermite vários olhares que seabrem para diversos campos depesquisa, na sua perspectiva,Afonso Júnior indica que nãohá sorrisos e questiona: “Eramos sujeitos oitocentistas pessoastristes?” (2021, p. 148). Eresponde que essa expressão sedá em função do ato fotográficodaquele momento, que precisavade um certo tempo para as placasemulsionadas com materialfotossensível registrar asimagens, e pelo comportamentosocial da época, onde os sorrisosficaram ausentes, com o objetivode construir a imagem pública dossujeitos daquele tempo específico.O que uma fotografia revela eo que ela esconde pelas váriasescolhas que são operadas porquem fotografa e por quem éfotografado é descrito no texto“Diante de uma foto de ChichicoAlkmim: equívocos entre asmolduras de enquadramentoe composição no retratofotográfico”, em que o professorAfonso Júnior discute a produçãode uma fotografia de família feitapelo fotógrafo mineiro ChichicoAlkmin entre o enquadramentoe a composição, em que pesaquestões sociais onde mostrapai, mãe e filhos e esconde umamulher e duas crianças queseguram um cenário artificial aofundo na trama entre realidades eficções em que as fotografias sãoatravessadas pelos recortes feitos.O livro encerra com umadiscussão acerca da fotografiadocumental, visto que é umdiscurso elaborado através deuma narrativa imagética que ficaentre a criação e a informaçãodas situações sociais discutidono texto “O segundo pêndulo dafotografia documental: entre osparadogmas de informar e osimpasses do enformar”. AfonsoJúnior (2021, p. 179) discuteque “é um modelo, portanto, noqual o outro assume uma forma(é enformado) a partir de umolhar externo, construído menospela alteridade ou empatia. Edo que, certamente, pelo exóticoque o outro passa a ser enquantorepresentação”.A fotografia permite um amplode pesquisa, por uma lado,pela criação da imagem em si,analisando a forma e o conteúdoque agrega conhecimentostecnológicos, estéticos e culturais,por outro lado, é pelo registrofotográfico que vemos as pessoas,os lugares, as situações (dentrode um específico contexto),para discutir os discursos, asintencionalidades e o sintomasque a narrativa visual apresenta.Como pesquisador, professor efotógrafo Afonso Júnior apresentasua compreensão acerca daprodução imagética que servepara fundamentar tantas outraspesquisas que busca discutir acomplexa criação fotográficaatual.Instantâneosda fotografiacontemporâneaJosé Afonso Jr.Appris Editora38
Manoel Tavares Fiúza e Maria AdelaideSaboya de Albuquerque, com as filhas Mariado Carmo, Saboya Fiúza, Maria CarolinaSaboya Fiúza e Maria Dulce Saboya FiúzaPernambuco, gelatina, carte cabinet, porLouis Piereck .Coleção Francisco Rodrigues.Acervo da Fundaj.39