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edição de 23 de janeiro de 2023

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Mehmet Turgut Kirkgoz/Unsplash<br />

Fascinação<br />

“Os sonhos mais lindos, sonhei,<br />

<strong>de</strong> quimeras mil um castelo ergui...”<br />

Marchetti e Féraudy<br />

Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />

No início dos anos 1960 eu morava na<br />

Rua São Vicente <strong>de</strong> Paulo, em São Paulo,<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, e compartilhava<br />

um quarto com meu querido e saudoso irmão,<br />

que partiu semanas atrás. E a quem<br />

homenageio e agra<strong>de</strong>ço neste momento<br />

pelo infinito amor com que sempre me acolheu<br />

no correr <strong>de</strong> nossas vidas. Ele, José<br />

Carlos Madia <strong>de</strong> Souza. Sauda<strong>de</strong>s.<br />

Chegávamos da rua, colocávamos o pijama<br />

e, num pequeno rádio <strong>de</strong> cabeceira, ouvíamos<br />

todos os dias um programa <strong>de</strong> fim<br />

<strong>de</strong> noite na rádio Excelsior, com entrevistas.<br />

Numa das noites, uma moça que chegava<br />

do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, em companhia<br />

<strong>de</strong> sua mãe, e iniciando sua carreira artística.<br />

Por coincidência, tinha o mesmo nome<br />

<strong>de</strong> uma querida amiga, Elis Regina, e assim<br />

e imediatamente guar<strong>de</strong>i seu nome.<br />

No dia seguinte, como fazia todas as noites,<br />

antes <strong>de</strong> ir para casa batia o ponto no<br />

João Sebastião Bar, da Rua Major Sertório,<br />

do Paulo Cotrim. Era amigo dos porteiros e<br />

garçons e, como era menor, não <strong>de</strong>ixavam<br />

eu sentar nas mesas, mas sempre guardavam<br />

um lugar para mim no balcão do bar.<br />

E só concordavam em <strong>de</strong>ixar eu beber uma<br />

dose <strong>de</strong> absinto com gelo picado por noite.<br />

Abre a porta e entra a Elis Regina da rádio<br />

Excelsior do dia anterior, acompanhada<br />

pela mãe. Como as mesas estavam cheias,<br />

veio sentar-se ao meu lado no bar e começamos<br />

a conversar. E, por alguma razão,<br />

o assunto convergiu para Nat King Cole, e<br />

sua interpretação monumental <strong>de</strong> Fascination.<br />

Anos antes, Nat King Cole mudara-se<br />

para Beverly Hills, numa linda casa, e passou<br />

a ser hostilizado pelos seus vizinhos<br />

envergonhados <strong>de</strong> morarem ao lado <strong>de</strong><br />

um negro. Num <strong>de</strong>terminado momento da<br />

conversa, somos interrompidos pelo Paulo<br />

Cotrim que pe<strong>de</strong> para Elis Regina dar uma<br />

canja. E ela vai e canta Fascinação.<br />

Corta para 1980, Roberto Medina me<br />

convida para trabalhar na Artplan. E<br />

manda passagens para eu e Katinha, o<br />

amor <strong>de</strong> minha vida, passarmos um fim<br />

<strong>de</strong> semana no Rio. Combinamos um almoço,<br />

levamos um presentinho para sua<br />

filha Roberta, que nascera naqueles dias,<br />

mas o Roberto teve um problema <strong>de</strong> última<br />

hora e pediu para o VP da Artplan<br />

representá-lo no almoço. Mas, a conversa<br />

não evolui e meses <strong>de</strong>pois eu montava a<br />

Madia e Associados.<br />

Aproveitando que estávamos no Rio<br />

fomos assistir ao espetáculo Falso Brilhante,<br />

e lá no palco, ela, aquela menina<br />

do João Sebastião Bar <strong>de</strong> anos atrás, Elis,<br />

e cantando... Fascinação.<br />

Outro salto e no fim dos anos 2010 Katinha<br />

e eu estamos em Nova York. Consultamos<br />

o Time Out, e <strong>de</strong>scobrimos um<br />

show da Maria Rita no sul da ilha, Greenwich<br />

Village. E lá vamos nós. Abrem as<br />

cortinas, entra Maria Rita, e começa seu<br />

show com... Fascinação...<br />

É isso, amigos. Estamos nós, aqui, uma<br />

vez mais, diante <strong>de</strong> um país governado<br />

por pessoas que já não <strong>de</strong>ram certo, por<br />

notória incompetência e comportamento<br />

ético tóxico e <strong>de</strong>letério. Mas, e mesmo assim,<br />

acredito, nenhum <strong>de</strong> nós abre mão<br />

<strong>de</strong> seus sonhos <strong>de</strong> um dia e, finalmente,<br />

construirmos um país <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. E a hora<br />

é agora, diante da oportunida<strong>de</strong> única<br />

e espetacular <strong>de</strong>corrente do tsunami tecnológico.<br />

Não é possível que sejamos protagonistas<br />

<strong>de</strong> termos recebido o melhor espaço <strong>de</strong><br />

todo o planeta Terra e, por preguiça e incompetência,<br />

não consigamos transformá-<br />

-lo num paraíso. Para todos os brasileiros<br />

e para os que queiram prosperar conosco.<br />

“Os sonhos mais lindos, sonhei...”. Chegou<br />

a hora <strong>de</strong> colocá-los em pé. Vamos?<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

é consultor <strong>de</strong> marketing<br />

famadia@madiamm.com.br<br />

32 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>23</strong> - jornal propmark

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