You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
negócios &<br />
sustentabilida<strong>de</strong><br />
Alê Oliveira<br />
O casamento<br />
das marcas com<br />
o terceiro setor<br />
Ricardo Esturaro<br />
é escritor, administrador <strong>de</strong> empresas<br />
e especialista em marketing, estratégia<br />
e sustentabilida<strong>de</strong><br />
ricardo@esturaro.com<br />
Ricardo Esturaro<br />
As Organizações da Socieda<strong>de</strong> Civil (OSCs) têm<br />
conquistado uma crescente importância no PIB<br />
e na dinâmica da socieda<strong>de</strong>, representando os<br />
anseios e necessida<strong>de</strong>s da população, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo direitos<br />
individuais e coletivos e promovendo o bem comum.<br />
Em uma socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, elas <strong>de</strong>sempenham<br />
um papel fundamental.<br />
Apesar dos avanços na profissionalização do terceiro<br />
setor nos últimos anos e da ampliação <strong>de</strong> sua<br />
atuação na socieda<strong>de</strong>, ainda persiste um olhar míope<br />
e reducionista em relação ao seu papel, especialmente<br />
no Brasil, on<strong>de</strong> a filantropia é, em alguns setores,<br />
vista como uma prática assistencialista. A socieda<strong>de</strong><br />
brasileira, como um todo, ainda não compreen<strong>de</strong> a<br />
importância e os benefícios, inclusive econômicos, do<br />
investimento no terceiro setor.<br />
A história do terceiro setor no Brasil remonta ao<br />
período colonial, quando predominava o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
assistência social voltado para comunida<strong>de</strong>s carentes,<br />
li<strong>de</strong>rado pela Igreja Católica. Com o tempo, outras<br />
religiões e grupos também se envolveram na formação<br />
<strong>de</strong> organizações sociais <strong>de</strong> assistência baseadas<br />
no trabalho voluntário. Ao longo do século 20, houve<br />
um aumento na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos e organizações<br />
que trabalharam para sanar <strong>de</strong>ficiências na<br />
proteção social das populações mais carentes. Simultaneamente,<br />
a pauta e as ações do terceiro setor se<br />
sofisticaram, acompanhando as novas <strong>de</strong>mandas da<br />
socieda<strong>de</strong> e esten<strong>de</strong>ndo sua atuação para assuntos<br />
como educação, meio ambiente, apoio a refugiados e<br />
outros temas relevantes.<br />
A publicação “Perfil das organizações da socieda<strong>de</strong> civil<br />
no Brasil” <strong>de</strong> 2018, do IPEA, oferece um retrato do terceiro<br />
setor no país. Os números são expressivos: existem<br />
820 mil OSCs com CNPJs ativos no Brasil. O processo <strong>de</strong><br />
formação e consolidação <strong>de</strong>ssas organizações ocorreu<br />
principalmente a partir das décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980. De<br />
acordo com o IPEA, 12,3% das OSCs ativas foram fundadas<br />
até o fim da década <strong>de</strong> 1980; 69,1% entre 1990 e 2010 e<br />
18,6% nos últimos 10 anos.<br />
A transformação do perfil das OSCs formadas nas últimas<br />
décadas é evi<strong>de</strong>nte: atualmente, 86% são formadas<br />
por associações privadas, 2% por fundações privadas e<br />
12% correspon<strong>de</strong>m a organizações religiosas. Da mesma<br />
maneira, o setor passa por uma transformação no perfil<br />
<strong>de</strong> sua força <strong>de</strong> trabalho: em sua origem, as ativida<strong>de</strong>s<br />
eram executadas primordialmente por voluntários; agora,<br />
estruturas híbridas, que incluem trabalho remunerado,<br />
começam a ganhar espaço.<br />
Nos últimos anos, houve um crescimento na colaboração<br />
entre as marcas e o terceiro setor, resultando em<br />
parcerias estratégicas que impulsionam o seu impacto<br />
social. As marcas têm buscado associar suas imagens a<br />
causas sociais relevantes, o que se mostra uma estratégia<br />
valiosa para fortalecer a percepção positiva nos<br />
consumidores. Ao apoiar projetos e iniciativas sociais,<br />
as empresas <strong>de</strong>monstram um compromisso com a responsabilida<strong>de</strong><br />
social e contribuem para a construção <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> mais justa e sustentável.<br />
No entanto, é importante <strong>de</strong>stacar que essas parcerias<br />
<strong>de</strong>vem ser construídas visando ao longo prazo, permitindo<br />
que os impactos positivos sejam duradouros e<br />
alcancem resultados mais profundos e significativos na<br />
socieda<strong>de</strong>. Dada a realida<strong>de</strong> do terceiro setor, que atua<br />
com estruturas frágeis e carência <strong>de</strong> recursos, uma marca<br />
não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sembarcar <strong>de</strong> um projeto social <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> alcançar seus objetivos mercadológicos - isto seria<br />
uma miopia. Ao contrário, o compromisso <strong>de</strong> longo prazo<br />
<strong>de</strong>ve ser visto como uma oportunida<strong>de</strong> para as marcas<br />
<strong>de</strong>senvolverem parcerias estratégicas sólidas para impulsionar<br />
os seus projetos sociais - um casamento on<strong>de</strong><br />
todos ganham.<br />
“Apesar dos avanços<br />
na profissionalização<br />
do terceiro setor, ainda<br />
persiste um olhar míope<br />
em relação ao seu papel”<br />
<strong>14</strong> <strong>14</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark