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edição de 22 de janeiro de 2024

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esg no mkt<br />

Alê Oliveira<br />

Um país mestiço<br />

As cotas são políticas afirmativas que visam a<br />

minimizar a exclusão social, cultural e econômica<br />

Alexis Thuller Pagliarini<br />

Ah! Esse Brasil lindo e trigueiro, cantado em prosa<br />

e verso pela sua linda miscigenação. Um levantamento<br />

recente do IBGE corrobora a rica mestiçagem<br />

brasileira, com os auto<strong>de</strong>clarados pardos superando<br />

os brancos.<br />

Esta última medição, divulgada em <strong>de</strong>zembro do ano<br />

passado, revela, pela primeira vez, uma maioria <strong>de</strong> pardos<br />

no Brasil, alcançando 45,3%, superando os brancos,<br />

que agora representam 43,5% da população.<br />

É a primeira vez que isso acontece. E é natural que<br />

seja assim. À medida em que a população se miscigena,<br />

prevalecem matizes <strong>de</strong> cores que vão bem além do preto<br />

e branco.<br />

A propósito, os que se <strong>de</strong>claram pretos passaram <strong>de</strong><br />

7,6% para 10,2%. Na mesma medição, os que se <strong>de</strong>claram<br />

amarelos (<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> asiáticos) são apenas 0,4%<br />

(contra 1,1% do censo anterior).<br />

Com uma migração iniciada no início dos anos<br />

1900, os japoneses no Brasil são consi<strong>de</strong>rados a maior<br />

população nipônica fora do Japão. Mas muitos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

já estão na terceira geração, com brasileiros<br />

<strong>de</strong> olhos amendoados, mas já adquirindo traços <strong>de</strong><br />

não asiáticos, por conta das múltiplas uniões com<br />

parceiros <strong>de</strong> outras etnias.<br />

Se, por um lado, esse fenômeno dá um colorido especial<br />

ao nosso país, por outro, gera uma certa confusão<br />

na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições mais precisas, principalmente nas<br />

ações afirmativas. Vejamos, por exemplo, a questão das<br />

cotas nas universida<strong>de</strong>s.<br />

Sabidamente, as escolas públicas são obrigadas a<br />

<strong>de</strong>stinar vagas para candidatos pretos, pardos, indígenas<br />

e PCDs. Tempos atrás, bastava a auto<strong>de</strong>claração para<br />

uma pessoa se apresentar como preta ou parda, justificando<br />

sua postulação a uma vaga especial.<br />

Com o tempo, foram observadas claras transgressões,<br />

com pessoas nitidamente brancas fazendo-se passar<br />

por pardas para facilitar seu acesso às universida<strong>de</strong>s.<br />

Ora, as cotas são políticas afirmativas que visam a<br />

minimizar a exclusão social, cultural e econômica <strong>de</strong><br />

indivíduos pertencentes a grupos que sofrem qualquer<br />

discriminação. Não era justo permitir que pessoas não<br />

condizentes com esse espectro se utilizassem in<strong>de</strong>vidamente<br />

do sistema <strong>de</strong> cotas para facilitar seu acesso à<br />

universida<strong>de</strong>.<br />

Agora, o candidato que preten<strong>de</strong>r inscrição em universida<strong>de</strong><br />

por meio das vagas <strong>de</strong> cotas (pretos e pardos),<br />

<strong>de</strong>ve se submeter à análise <strong>de</strong> uma comissão <strong>de</strong> heteroi<strong>de</strong>ntificação.<br />

A avaliação é feita em um primeiro momento silenciosa,<br />

em que o candidato põe-se à frente <strong>de</strong> três avaliadores<br />

(que <strong>de</strong>vem possuir pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raças), é tirada<br />

uma foto, chegando-se assim ao resultado <strong>de</strong> pertinência,<br />

ou não, do direito à vaga.<br />

Por basear-se numa observação <strong>de</strong> terceiros, o processo<br />

é frágil e sujeito a contestações. O próprio sistema<br />

<strong>de</strong> cotas é questionado.<br />

E ao chegarmos à situação <strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> pardos no Brasil,<br />

os críticos ganham mais argumentos para contestação.<br />

A simples questão <strong>de</strong> levar-se em conta um matiz<br />

<strong>de</strong> cor que induz a uma ancestralida<strong>de</strong> que remonta à<br />

época dos escravizados e ainda alijados dos privilégios<br />

inerentes àqueles <strong>de</strong> cor branca, por exemplo, po<strong>de</strong> se<br />

mostrar um critério questionável, quando esses pardos<br />

são maioria no país.<br />

Sempre foram tratados como minorias ou minorizados. E<br />

agora, que são maioria? Devemos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as ações afirmativas,<br />

que são necessárias para reverter anos <strong>de</strong> alijamento<br />

e falta <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> pessoas pretas a sistemas educacionais<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ou mesmo a vagas <strong>de</strong> emprego digno.<br />

Mas o crescimento da população parda, mestiça,<br />

<strong>de</strong>ve se intensificar na mesma medida em que acontece<br />

uma maior miscigenação no país, complicando ainda<br />

mais o estabelecimento <strong>de</strong> políticas afirmativas para<br />

esse público.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>ssas questões, nosso <strong>de</strong>sejo<br />

é que essa rica mistura potencialize um diferencial que<br />

já existe e nos coloca entre os povos mais belos e criativos<br />

do mundo.<br />

É o borogodó brasileiro, formado na mistura, na diversida<strong>de</strong><br />

e, admitamos, fruto também da adversida<strong>de</strong><br />

e necessida<strong>de</strong>.<br />

Alexis Thuller Pagliarini<br />

é sócio-fundador da ESG4<br />

alexis@criativista.com.br<br />

34 <strong>22</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark

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