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edição de 22 de janeiro de 2024

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mkt<br />

Alê Oliveira<br />

Ven<strong>de</strong>ndo o que<br />

jamais será entregue<br />

“O sábado é uma ilusão.”<br />

Nelson Rodrigues<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

Na medida em que faltam terrenos, na medida em<br />

que supostamente as pessoas querem – claro, as<br />

que têm dinheiro – morar nos melhores lugares<br />

da cida<strong>de</strong>, o chamado Jardins, aquela região que vai da<br />

Al. Santos, <strong>de</strong>sce a Pamplona, pega a Estados Unidos, e<br />

sobe a Consolação, passa, neste momento, pelo último<br />

pente fino das incorporadoras, e em menos <strong>de</strong> cinco<br />

anos estará completamente <strong>de</strong>sfigurada.<br />

E assim, aquilo que é realida<strong>de</strong> hoje, o cenário maravilhoso<br />

on<strong>de</strong> corretores levam compradores <strong>de</strong>satentos<br />

que gostam <strong>de</strong> ser enganados, mostrando as maravilhas<br />

<strong>de</strong> morar, finalmente, num lugar encantador e <strong>de</strong>scolado,<br />

não passa <strong>de</strong> um estelionato. Jamais entregarão<br />

os sonhos. No lugar do sonho, torres <strong>de</strong> concreto on<strong>de</strong><br />

incautos e <strong>de</strong>lirantes morarão... Depois <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>rem o<br />

sonho, levam pra tomar um café no acolhedor e legendário<br />

Cristallo...<br />

Corta para o Estadão, 9 <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong>, ca<strong>de</strong>rno Metrópole,<br />

matéria quase crônica assinada por Ítalo Lo Re. “Despedida<br />

da Cristallo da Oscar Freire reúne clientes... “Era por<br />

volta <strong>de</strong> 17 horas quando a aposentada Leni Colaferri,<br />

<strong>de</strong> 71 anos, se acomodou em uma mesa <strong>de</strong> calçada da<br />

confeitaria Cristallo, quase esquina da Rua Oscar Freire<br />

com a Bela Cintra... A unida<strong>de</strong> da Cristallo da Oscar Freire,<br />

aberta por ali há 46 anos, viveu seu dia <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida<br />

do número 914, em tar<strong>de</strong> marcada por comoção entre<br />

funcionários e frequentadores assíduos... e conclui Ítalo,<br />

“A confeitaria, assim como outros estabelecimentos vizinhos,<br />

será <strong>de</strong>molida para a construção <strong>de</strong> um resi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong> alto padrão...”.<br />

É isso, amigos. Corretores mais que necessitados – só<br />

ganham se ven<strong>de</strong>rem e precisam comer – ven<strong>de</strong>m um<br />

paraíso on<strong>de</strong> passará a existir um inferno ainda que<br />

presumivelmente chique. Ou, no mínimo, um purgatório.<br />

Ven<strong>de</strong>m o que jamais será entregue porque as encantadoras<br />

ilhas <strong>de</strong> alegria, prazer e felicida<strong>de</strong>, todas, serão<br />

<strong>de</strong>spejadas e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>molidas para a construção das<br />

tais torres...<br />

Pessoas que compraram, como <strong>de</strong>screve Alberto Dines<br />

em seu clássico ‘Morte no paraíso - A tragédia <strong>de</strong><br />

Stefan Zweig’. Terminar seus dias ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> prazeres,<br />

alegrias e felicida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>scobrirá, tardiamente, que<br />

compraram gato por lebre, com todo respeito aos gatos<br />

que não têm nada a ver com essa história, com esse estelionato<br />

emocional...<br />

Nota <strong>de</strong> falecimeNto<br />

Faleceu no último dia 15 <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong>, por falência<br />

generalizada dos órgãos, um dos campeões <strong>de</strong><br />

sucesso do mercado financeiro <strong>de</strong> décadas atrás. O DOC.<br />

Queridinho das empresas e das pessoas. Morreu mais ignorado<br />

que o faquir <strong>de</strong> Kafka, sem nenhuma chance <strong>de</strong><br />

ressuscitação. Quase chegou aos 40 anos. Des<strong>de</strong> a virada<br />

do milênio vinha revelando <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s. Assim mesmo<br />

ganhou alguma sobrevida, mas não resistiu os ventos da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, e, <strong>de</strong>spediu-se. Mais uma das vítimas do<br />

tsunami tecnológico.<br />

Criado no ano <strong>de</strong> 1985, revolucionou. Permitia, finalmente,<br />

a realização <strong>de</strong> transferências entre contas<br />

bancárias. Eliminava a necessida<strong>de</strong> do tal <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito<br />

em cheque. Aliás, e por falar em cheque... Agora, em<br />

seu lugar, ele, todo mo<strong>de</strong>rnoso e em vez <strong>de</strong> um C no<br />

final, um X, transmitindo velocida<strong>de</strong> e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o<br />

PIX. Ainda em 2023, primeiro semestre, revelava alguns<br />

sinais <strong>de</strong> vida: foram realizados 18,3 milhões <strong>de</strong> operações<br />

<strong>de</strong> DOC... mas, e no mesmo período, 17,6 bilhões <strong>de</strong><br />

PIX... Dispensam-se comentários. Trata-se da maior crise<br />

estrutural da história da economia e dos negócios <strong>de</strong><br />

todos os tempos. Assim, esqueça as crises conjunturais.<br />

São simples resfriados, que po<strong>de</strong>m, no máximo, em poucos<br />

casos, virar pneumonia. O mundo velho está em seus<br />

estertores. E todas as empresas que não tiverem essa<br />

consciência e não tomarem as providências no mais que<br />

<strong>de</strong>vido tempo terão o mesmo <strong>de</strong>stino do... DOC. Que parte<br />

sem <strong>de</strong>ixar sauda<strong>de</strong>s...<br />

Somos ingratos, interesseiros, oportunistas, aproveitadores...?<br />

Lembram o que um dia nos ensinou, em 1960,<br />

o saudoso Theodore Levitt, com seu artigo monumental,<br />

‘Marketing Myopia?’, que “não compramos produtos,<br />

compramos os serviços que os produtos prestam...”. E no<br />

dia seguinte que um novo produto preste melhor aquele<br />

mesmo serviço trocamos no ato.<br />

Assim somos nós, os humanos, não <strong>de</strong>sumanos... Queremos<br />

sempre, e para sempre, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acessível, e<br />

apenas, o melhor...<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

é consultor <strong>de</strong> marketing<br />

fmadia@madiamm.com.br<br />

36 <strong>22</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark

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