z o o n o s e spor milhares de anos e as descobertas da epidemiologiamolecular atestam que algumas dessas amostras de vírusteriam surgido há milhares de anos (BLANCOU, 2004).No tratado médico intitulado “De Modo Prognosticandiet Curandi Febres”, escrito por Frederico Grisogono, daEra da Renascença, e publicado em Veneza em 1528,consta que “no caso da mordedura de um cão raivoso oprocesso leva vários meses, porque o veneno fica escondidono sangue por 3, 4, ou 5 meses até o coração tornar-se infectado.Quando o coração é afetado, seguem-se alteraçõesabruptas e reações adversas – o paciente começa a perdersua memória, tem medo de água e morde com mordidavenenosa e contagiosa, em consequência à agressão porum cão raivoso” (MUTINELLI et al., 2004). Outro médicoitaliano, Girolamo Fracastoro, no seu tratado “DeContagione et Contagiosis Morbis et Curatione”, de 1530,descreveu que a doença era transmitida por meio da salivade um animal infectado e o período de incubaçãonão era inferior a 20 dias, em média de 30 dias, podendoestender-se de quatro a cinco meses ou, em raras vezes,de um a cinco anos (FERREIRA, 2005).Na metade do século XVIII, a raiva urbana que acometeos cães surgiu na Europa, transmitida provavelmentepor um animal silvestre (desconhecido), devidoprincipalmente ao aumento da população de cães associadoàs grandes aglomerações humanas (ADAMSON,1977). Os cães infectados com o vírus da raiva viajarampelo mundo com os colonizadores europeus, disseminandoo vírus para novos continentes e territórios.Subsequente à introdução da doença para novas áreasgeográficas, o vírus pode ter sido transmitido para novasespécies de animais silvestres, o que, ao longo do tempo,possibilitou a evolução para novas estirpes de vírus. Osestudos moleculares sugerem que a Europa foi origemdo vírus da raiva para o mundo, transmitido pelos cães,e o vírus foi denominado de “linhagem cosmopolita”(NADIN-DAVIS; BINGHAM, 2004).Distribuição geográficaÁfricaÉ provável que a raiva esteja presente no Norte daÁfrica por milênios, uma vez que as civilizações humanasdessa região têm mantido comunicação com a regiãodo Oriente Médio e Sul da Europa, onde a ocorrência dadoença é conhecida desde a antiguidade. No entanto, araiva transmitida pelos cães não era comum na Áfricaantes do estabelecimento de colonizadores europeus. Háregistros de ocorrência da raiva canina na África do Sulentre 1770 e 1880. Entretanto as primeiras constataçõesconfiáveis aconteceram no final do século XIX, quandounidades do Instituto Pasteur foram estabelecidas naArgélia e na Tunísia, para a produção de vacina antirrábicadestinada à imunização humana. O primeiro focode raiva na África Subsaariana aconteceu em 1893, emPort Elizabeth, na costa Sudoeste da África do Sul, atingindoprincipalmente cães, gatos e herbívoros domésticos.A epidemia foi relacionada à importação de umcão da raça aire dale terrier da Inglaterra em 1892. A colonizaçãoeuropeia introduziu a raiva em toda a ÁfricaOriental e Ocidental, e os estudos de análises antigênicase genéticas realizadas com as amostras de vírus isoladasda região Sul indicaram que há, pelo menos, dois biótiposdistintos de raiva terrestre. Um biótipo é mantidoem cães domésticos e canídeos silvestres, enquanto queo outro biótipo está associado com vários herpestídeos(Cynictis penicillata, Galerella sanguinea, Suricata suricatta)e viverrídeos (Genetta genetta) (NADIN-DAVIS;BINGHAM, 2004).América do Norte (Canadá e os Estados Unidos da América– EUA)O primeiro registro da raiva canina nos EUA aconteceuno Estado da Virgínia em 1753 e no final do séculoatingiu a costa Oeste dos EUA. No Canadá, o primeirocaso humano foi registrado em 1819, tendo como transmissoruma raposa. O segundo caso ocorreu em Quebec,em 1839, associado a um cão. Casos esporádicos deraiva foram registrados ao Sul de Saskatchewan, provavelmentetransmitidos por cães introduzidos do Estadode Dakota do Norte, EUA. Entre 1907 e 1945, foram relatadasepidemias de raiva em cães em Ontário e Quebec,com cães raivosos cruzando o Estado de Nova Iorqueatravés da península do Niágara.Em relação à raiva em animais silvestres, lobos e raposascom sinais de raiva foram encontrados em Ohio,no início de 1800. Em Massachusetts, as raposas já haviamsido incriminadas por causarem raiva em cães em1812. As epidemias de raiva em animais silvestres envolviamprincipalmente as raposas-cinzentas (Urocyon cinereoargenteus)e as raposas-vermelhas (Vulpes vulpes),no estado da Flórida entre 1953 e 1958. Outros canídeossilvestres, como as raposas do Ártico (Alopex lagopus),são importantes reservatórios no Norte do ContinenteAmericano, conhecidas desde a época de 1800 na Groenlândia.A partir de 1907, casos de raiva em cães e em humanosforam registrados no Alasca e Norte do Canadá.Outros carnívoros silvestres, como o cangambá (stripedskunk, Mephitis mephitis; spotted skunk, Spirogale gracilis,Spirogale putorius), são conhecidos como fontes deinfecção da raiva ao ser humano, com o registro mais22 mv&z c r m v s p . g o v . b r
z o o n o s e santigo datado de 1826 no Estado da Califórnia, e desde1940 o cangambá tem sido reconhecido como importantereservatório da raiva nos EUA e no Canadá. Em 1988, noTexas, na região de fronteira com o México, uma variantedo vírus da raiva de cão foi responsável por uma epidemiaem coiotes (Canis latrans).A partir de 1947, surgiu uma variante do vírus daraiva em raccoons (Procyon lotor) no Estado da Flórida.Na década de 50 do século passado, a doença tornou-seendêmica na Costa Leste dos EUA e, em 1999, a epidemiaatingiu os raccoons da Província de Ontário, Canadá,atravessando o rio Saint Lawrence (NADIN-DAVIS;BINGHAM, 2004).América Latina e CaribeAnterior ao estabelecimento da colonização europeia,não há registros de ocorrência da raiva canina na Américado Sul. No México, a doença era conhecida desde1709, enquanto que, no Peru, foi reconhecida em 1803,e na Argentina, em 1806, em cães de caça introduzidospelos soldados ingleses. O Uruguai registrou o primeirocaso em 1807, a Colômbia em 1810 e o Chile em 1835. Nofinal do século XX, numerosos casos foram registradosno México e no Brasil, enquanto Equador e Colômbiaregistraram menor número de casos (NADIN-DAVIS;BINGHAM, 2004).Um estudo sobre a história evolutiva do vírus da raivacanina no Brasil, realizado por meio de análise filogenética,indicou que a introdução do vírus ocorreu por voltado final do século XIX e no início do século XX, muitotempo depois do período de colonização europeia. Noentanto, esse período corresponde ao de grande movimentoimigratório da Europa para o Brasil. O vírus daraiva posteriormente disseminou-se entre os animaiscarnívoros nativos durante o século XX, quando ocorreuo processo acelerado de desenvolvimento e urbanizaçãono país (KOBAYASHI et al., 2011).No Nordeste do Brasil, variantes do vírus da raiva caninaforam isoladas de cachorros-do-mato (Cerdocyonthous)(CARNIELI et al., 2009) e raposinhas do Nordeste(Dusicyon vetulus) (BERNARDI et al., 2005), além deuma variante do vírus da raiva isolada de saguis (Callithrixjacchus) (BATISTA-MORAIS et al., 2000).No Caribe, a raiva em cães era conhecida desde aépoca da colonização espanhola, como em Barbados(1741), Guadalupe (1776), República Dominicana e Jamaica(1783). O mangusto (Herpestes auropunctatus),introduzido da Índia nas décadas de 1870 e 1880 paracombater os roedores nas plantações de cana-de-açúcar,inicialmente, na Jamaica e, posteriormente, em outrasilhas caribenhas, é considerado importante reservatóriopara o vírus da raiva em Cuba, Granada, República Dominicana,Haiti e Porto Rico (NADIN-DAVIS; BIN-GHAM, 2004).Oriente Médio, Ásia e OceaniaUma revisão histórica da raiva menciona vários relatosde raiva em cães na Turquia, em 1586. Por volta de1850, um incidente de raiva na cidade de Adália, territórioturco, envolveu um lobo raivoso que havia atacadomais de cem pessoas. Várias delas apresentaram quadrode raiva e morreram semanas depois. Na China, o primeirorelato da raiva humana aconteceu em 1857, emHong Kong, causado por um cão inglês, e o segundo casoaconteceu em Cantão, no ano de 1860. Alguns nativoschineses e dois europeus que moravam próximo à cidadede Beijing morreram devido à hidrofobia causada porcães pertencentes aos europeus. Assim, a raiva passouentão a ser conhecida como doença comum em cães criadospelos europeus (NADIN-DAVIS; BINGHAM, 2004).Em 1893, na cidade de Nagasaki, Japão, ocorreu umaepidemia de raiva em um bairro habitado por estrangeiros,com 76 pessoas agredidas por cães e dez óbitoshumanos. Na província de Aomori, Norte do Japão, umcão infectado procedente da Rússia agrediu 47 pessoas e11 delas foram a óbito. O Japão registrou muitos casos deraiva a cada ano, pelo menos até 1906, e em 1923 ocorreuuma epidemia com 235 mortes humanas. Entre 1959e 1968, foram considerados livres de raiva Hong Kong(último caso em 1955), Taiwan (desde 1959), Japão (1956),Malásia e Cingapura (último caso em 1953) (NADIN-DAVIS; BINGHAM, 2004).Índia e Filipinas atualmente registram maior númerode ocorrência de raiva na região Sudeste da Ásia.Outros países, como Tailândia e Indonésia, apresentamum número elevado de casos de raiva humana, assimcomo Sri Lanka e países da Indochina. Os reservatóriossilvestres da raiva são virtualmente desconhecidosna Ásia e, em muitas regiões tropicais, o “raccoon-dog”(Nictereutes procyonoides) está migrando da Ásia Centralpara a Europa, representando uma séria ameaça àreintrodução do vírus da raiva para os cães e raposasda Europa Ocidental. Na Jordânia e Israel, lobos e chacaissão os principais reservatórios do vírus da raiva(YAKOBSON; DAVID; ALDOMY, 2004), assim comono Irã, Afeganistão, Paquistão, Nepal e Índia (NADIN-DAVIS; BINGHAM, 2004).Por outro lado, as ilhas do Pacífico, bem como a Austráliae a Nova Zelândia, têm conseguido manter-se livreda raiva. A Austrália apresentou um caso de raiva caninana Tasmânia em 1867 e, desde então, mantém-se livre dadoença (NADIN-DAVIS; BINGHAM, 2004).c r m v s p . g o v . b rmv&z23
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