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146 Direita, volver!<br />
todos esses exemplos notórios, entre outros, podem ser identificados como os<br />
sintomas mais recentes do crescimento da chamada onda conservadora. 5<br />
Quando olhamos por essa perspectiva geral – e o termo onda conservadora<br />
pode nos levar a tomar essa posição analítica –, somos tentados a caracterizar o<br />
fenômeno como um movimento de direção única, isento de ambiguidades ou<br />
composto por atores mais ou menos homogêneos e com fins parecidos. Entretanto,<br />
uma análise mais detida sobre o problema coloca em dificuldades essa<br />
compreensão abrangente, revelando uma diversidade de posicionamentos à direita.<br />
O que está desenhado é uma multiplicidade de movimentos que buscam<br />
caminhar em direções próprias. Possuem discursos, finalidades e públicos distintos,<br />
mas, por manterem alguns pontos de contato mais ideológicos do que práticos<br />
– e se aproveitando de um contexto político favorável –, acabam ganhando<br />
corpo e uma direção mais ou menos consistente e articulada de acordo com a<br />
situação e os interesses em jogo. Ronaldo Almeida, em um recente debate 6 sobre<br />
os rumos e a natureza dessa nova direita, cunhou uma expressão que permite um<br />
enquadramento mais preciso da composição deste fenômeno: a direção política<br />
e social da direita brasileira contemporânea é o produto resultante de diversas<br />
forças, que estão em justaposição, mas acenam em direções próprias. Nesse sentido,<br />
cada fenômeno pode ser interpretado como uma pequena onda, mas que<br />
no plano geral configuram, portanto, uma maré conservadora.<br />
Se pensamos na composição do legislativo brasileiro como um espelho<br />
mais ou menos fiel da correlação de forças e interesses consolidados na sociedade<br />
brasileira, conseguimos perceber as vertentes constituidoras da diversidade<br />
deste fenômeno. Uma radiografia geral do perfil do parlamento na atual<br />
legislatura nos permite a identificação de três grupos de direita mais ou menos<br />
coesos: em primeiro lugar, uma bancada empresarial; expressiva em termos<br />
numéricos, 7 defensora do liberalismo econômico e de medidas de redução da<br />
5<br />
Sobre o conceito de onda conservadora, cf. Brasilino (2012).<br />
6<br />
Refiro-me ao seminário “Conservadorismo e Nova Direita: ideias e movimento”, realizado<br />
no dia 21 de maio de 2015, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp,<br />
em Campinas.<br />
7<br />
Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a bancada empresarial<br />
se constitui como a maior do Congresso. Cf. (DEPARTAMENTO INTERSINDI-<br />
CAL, 2014).<br />
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