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Classe média e conservadorismo liberal 187<br />
ção liberal de resolução de problemas sociais, na medida em que a sociedade é<br />
vista como uma divisão de ricos e pobres. Os pobres, nesse esquema, não são<br />
aqueles produzidos por um tipo específico de desenvolvimento do capitalismo,<br />
mas apenas os que não têm “ainda” a chance de serem ricos. – não é à toa<br />
que seus principais formuladores foram economistas liberais que conseguiram<br />
reduzir propostas originais de renda básica universal a políticas focalizadas<br />
compensatórias com certas condicionalidades.<br />
Já os programas de cotas atingem frontalmente a ideologia meritocrática<br />
que, embora subproduto da ideologia burguesa de valorização do trabalho<br />
em geral, é uma ideologia orgânica de trabalhadores de classe média. Por<br />
fim, a expansão do ensino superior, ao elevar (com qualidade ou não) o<br />
número de diplomados, altera as relações de oferta e demanda por força<br />
de trabalho qualificada e potencialmente acirra a disputa por determinados<br />
postos de trabalho.<br />
4. Hipóteses sobre a revolta de classe média<br />
Como, afinal, esse conjunto de mudanças afeta a reprodução social da alta<br />
classe média? As respostas que oferecemos a seguir tentam incorporar o “econômico”<br />
sem cair no economicismo.<br />
a) o resultado da soma de efeitos causados pela queda do desemprego, aumento<br />
da renda média do trabalho com queda da desigualdade e pelo Bolsa<br />
Família é um impacto considerável tanto em termos econômicos quanto<br />
simbólicos, o que significa dizer que há uma série de variáveis que pressiona<br />
os gastos que socialmente caracterizam uma vida de classe média. E, nesse aspecto,<br />
os serviços pessoais tradicionalmente prestados pelo subproletariado,<br />
especialmente o emprego doméstico, ganham destaque. E, nesse aspecto,<br />
os serviços pessoais tradicionalmente prestados pelo subproletariado, especialmente<br />
o emprego doméstico, ganham destaque 13 . Não se trata apenas<br />
13<br />
Alguns dados da cidade de São Paulo são bastante expressivos nesse sentido. Serviços “essenciais”<br />
para a alta classe média tiveram seus preços elevados em patamares muito superiores aos<br />
da inflação no período de 2008 a 2013. Nesse período, a inflação (pelo índice IPC-Fipe) foi de<br />
31%. A variação dos preços de serviços pessoais ficou acima dos 50%: babá (102%), caseiro em<br />
São Paulo (89%), caseiro no interior/litoral (80%), faxineira/lavadeira/passadeira (66%), moto-<br />
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