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178 Direita, volver!<br />
projetos desses governos. O foco deste texto, portanto, é a análise da tendência<br />
conservadora que se acentuou nas camadas superiores da classe média brasileira. 1<br />
O indício mais evidente desse processo é o mesmo descrito por André<br />
Singer por meio da tese do realinhamento eleitoral, ocorrido especialmente<br />
a partir das eleições de 2006. Essa eleição é importante por explicitar dois<br />
movimentos fundamentais subjacentes ao “lulismo” na política brasileira: a<br />
adesão do subproletariado e o afastamento da alta classe média em relação à<br />
plataforma política representada pelos governos do PT. 2<br />
O objetivo aqui é sugerir e desenvolver hipóteses explicativas que conjugam<br />
esses dois movimentos, com vistas a compreender os impactos causados<br />
por esse projeto na reprodução social da classe média nesse período, de modo<br />
a destacar as tendências conservadoras que se fortalecem em seu interior. 3<br />
Nesse sentido, também de forma aproximativa, indicaremos um quadro com<br />
contornos ainda indefinidos de um conservadorismo liberal que repercute nas<br />
práticas da classe média tipicamente brasileira: uma combinação singular de<br />
ideais meritocráticos com uma histórica dificuldade ou aversão à inclusão social<br />
e política de amplo alcance.<br />
Além do realinhamento eleitoral, fenômenos recentes corroboram a oposição<br />
mais acirrada proveniente da classe média: a formação e radicalização de<br />
grupos liberais e/ou conservadores com presença marcante da classe média nos<br />
protestos de rua de 2013 4 e, principalmente, de 2015, que foram conclamados<br />
1<br />
Centrar o foco nessa camada e no problema do conservadorismo não significa dizer que a<br />
classe média é um grupo homogêneo que reage na mesma direção ao longo dos últimos anos.<br />
Ainda que seja um movimento mais limitado, houve posicionamentos distintos de grupos de<br />
classe média. Especialmente assalariados que reagiram “à esquerda” após as primeiras reformas<br />
tipicamente neoliberais do governo Lula, como a reforma da previdência. Outra questão,<br />
que não será desenvolvida aqui, é o fato de que programas desses governos contemplaram<br />
interesses da baixa classe média, como a ampliação do acesso ao ensino superior.<br />
2<br />
É preciso observar, contudo, que entendemos o subproletariado e a alta classe média como<br />
“classes-apoio” de programas políticos distintos e não como as classes que têm seus interesses<br />
priorizados por esses programas. Ver Boito Jr. (2013).<br />
3<br />
Deixaremos de lado, neste texto, a polêmica sobre a existência ou não do “conservadorismo<br />
popular” que, segundo Singer, explicaria a adesão do subproletariado a um programa de<br />
reformas sem quebra da ordem.<br />
4<br />
Evidentemente que a referência não é ao “junho de 2013” de caráter popular, em que demandas<br />
de grupos que não se satisfizeram com a melhoria vivenciada da “porta para dentro<br />
de casa” exigiram um desenvolvimento mais agudo da “porta para fora”. Trata-se do momen-<br />
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