You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Velhas e novas direitas religiosas na América Latina 167<br />
rossexual e patriarcal), ameaçada pelas mudanças sociais e culturais de final do<br />
século (Schäffer, 2009).<br />
Entretanto, os sistemas de partidos políticos se consolidam como uma<br />
mediação institucional entre o Estado e a sociedade civil. Por um lado, os<br />
novos convertidos evangélicos, especialmente as classes altas, acostumadas à<br />
atividade política, formam partidos que se apresentam perante a sociedade<br />
como “a voz dos evangélicos” (mas, em geral, sem votações significativas) ou<br />
organizações sociais como a Federação de Indígenas Evangélicos no Equador.<br />
Por outro lado, o voto evangélico de setores populares serve para consolidar<br />
relações clientelistas entre atores políticos e líderes religiosos e incluir representantes<br />
nas listas de diversos partidos, como no Brasil, Peru ou Guatemala<br />
(Bastian, 2007). Neste contexto, tende-se a instrumentalizar o apoio eleitoral<br />
evangélico a favor dos interesses mais diversos.<br />
Movimentos “pró-vida” e “pró-família” no início do século XXI. A construção<br />
de cosmos sagrados orientados à estabilidade/segurança, como resposta<br />
às situações de desintegração social e familiar de final do século XX, gerou<br />
uma atitude de resistência à mudança em vários agrupamentos evangélicos<br />
do início do século XXI. As estruturas de plausibilidade, ou seja, os contextos<br />
relacionais que permitem um cosmos sagrado estável e ordenado, são<br />
basicamente hierárquicas, tanto nas famílias quanto nas comunidades religiosas.<br />
Neste contexto, as propostas para ampliar a promoção e o respeito<br />
dos direitos sexuais e reprodutivos, principalmente o reconhecimento legal<br />
das famílias homoparentais e a descriminalização do aborto, são percebidas<br />
como uma ameaça direta à família tradicional (Córdova, 2006). Assim<br />
como na Igreja católica, no âmbito evangélico se formam movimentos “pró-<br />
-vida” e “pró-família”. Estes não procuram mais uma representação política<br />
evangélica como na etapa anterior; eles tentam, antes, pressionar os atores<br />
políticos para rejeitar o que chamam de “agenda gay” e de “ideologia de<br />
gênero” (Vaggione, 2009).<br />
Conversões e cosmos sagrados<br />
Peter Berger chama de “estruturas de plausibilidade” os contextos vitais que<br />
servem como suporte social para que as comunidades religiosas construam<br />
Direita volver Final.indd 167 28/10/2015 15:59:17