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DIREITA VOLVER!

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184 Direita, volver!<br />

financeiras devem ser avaliadas em termos absolutos e relativos. Se, por um<br />

lado, é possível que as classes populares tenham se aproximada da classe média<br />

em geral – o que se conclui a partir da queda de índices que expressam a<br />

desigualdade social – por outro lado, alguns dos espaços mais importantes de<br />

reprodução socioeconômica dos indivíduos de classe média perceberam um<br />

crescimento importante em comparação à década de 1990. É o caso, sobretudo,<br />

da trajetória de expansão dos concursos públicos e do emprego em geral<br />

no funcionalismo vinculado ao Estado 10 .<br />

Evitar o economicismo das análises significa não reduzir um problema sociológico<br />

a um cálculo utilitário de ganhos e perdas. Em verdade, não se deve<br />

entender o “econômico” de modo limitado, como um sinônimo de problema<br />

“monetário” ou “financeiro”, mas numa concepção mais ampla, que o concebe<br />

simultaneamente como estrutura determinada e determinante na relação<br />

que estabelece com as estruturas políticas e ideológicas.<br />

A hipótese aqui levantada é a seguinte: mesmo que existam possíveis perdas<br />

em termos de renda, o impacto econômico só pode ser avaliado por “perturbações”<br />

ideológicas e simbólicas que atingem um modo de vida de classe<br />

média. Indo além, diríamos que é o componente ideológico que parece potencializar<br />

de forma mais aguda a revolta da classe média. Essa revolta será<br />

marcada, nesse sentido, por uma reação político-ideológica particular: para<br />

sustentar o privilégio de classe média – produto da formação brasileira que<br />

resistiu à incorporação completa da ordem competitiva de classes –, recorre-se<br />

a um apego peculiar à meritocracia que se combina com uma aversão conversadora<br />

à massa “ignorante e preguiçosa”, “complacente” com a corrupção ou<br />

“comprada” pelo governo.<br />

Mas, como a ideologia e condições materiais não se dissociam, comecemos<br />

por analisar o grau e sentido de algumas transformações do mercado de<br />

trabalho. A característica mais importante do ciclo foi promover um crescimento<br />

econômico que, embora moderado na média, permitiu, ao ser com-<br />

10<br />

Ver Gomes e Sória (2014) que mostram a interrupção, nos governos Lula e Dilma, da trajetória<br />

de declínio do funcionalismo público. O setor recuperou os índices de emprego do<br />

começo da década de 1990, ou seja, antes dos programas mais abrangentes de redução de<br />

empregos públicos. Importante destacar que o campo mais positivamente afetado foi a área<br />

de educação: quase metade dos novos servidores públicos, no período de 2002 a 2013, eram<br />

vinculados ao Ministério da Educação, principalmente via o programa REUNI.<br />

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