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DIREITA VOLVER!

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194 Direita, volver!<br />

É digno de nota perceber como as declarações mais comuns nas manifestações<br />

recentes explicam a permanência dos governos do PT, lançando mão<br />

justamente da ideia de um caráter “infantilizado” e “corruptível” dos mais<br />

pobres. O liberalismo aqui converge na medida em que dá uma explicação<br />

adicional para o problema: é o Estado grande e protetor que cria indivíduos<br />

parasitários, ineficientes e dependentes de bolsas e assistencialismos. E, no<br />

Brasil, como bem atentou Singer (2012), esses posicionamentos fazem que<br />

necessariamente se discuta a nossa “questão setentrional”, já que é o Nordeste<br />

especialmente o alvo dos ataques – o que ficou claro com as reações de ódio<br />

explicitadas na internet com os resultados das eleições presidenciais.<br />

Contudo, se esse conservadorismo liberal é mais claro e discernível em “formadores<br />

de opinião” de diversos canais da imprensa, não o é no segmento da<br />

população a que esse discurso se dirige e é recebido. 24 Em parte, porque certos<br />

temas morais “progressistas” podem encontrar um respaldo maior do que algumas<br />

posições mais conservadores gostariam. Mas o que mais chama atenção<br />

é o fato de o programa propriamente liberal das lideranças dos movimentos<br />

ir de encontro ao que a maioria do público manifestante acredita. A pesquisa<br />

coordenada por Ortellado, Solano e Nader (2015) sobre a manifestação do dia<br />

16 de agosto em São Paulo contra o governo Dilma indicou que mais de 95%<br />

dos entrevistados eram favoráveis a sistemas de educação e saúde públicos e gratuitos.<br />

Até mesmo uma bandeira nada liberal, como a gratuidade do transporte<br />

coletivo, é apoiada total ou parcialmente por 49% dos manifestantes.<br />

Esses aspectos não alteram, contudo, o sentido do protesto. É importante<br />

entender as consequências do fato de a tônica recair sempre na tecla da corrupção.<br />

Ainda sobre a manifestação de 16 agosto em São Paulo, a maioria (73%)<br />

entende que a má qualidade dos serviços públicos não se deve à falta de recursos.<br />

Para quase 90%, o problema é a má gestão e corrupção. Os dados também<br />

permitem uma interpretação segundo a qual a demanda aí mobilizada irá se<br />

satisfazer apenas quando um governo “técnico e neutro” for instituído. 25<br />

24<br />

Agradeço a Alvaro Bianchi por ter apontado essa questão em seminário realizado na Unicamp<br />

em maio de 2015.<br />

25<br />

Ortellado, Solano e Nader (2015) consideram que as respostas dos manifestantes são ambíguas<br />

sobre esse aspecto, porque tanto soluções de maior ativismo político quanto “recusa” da<br />

política são mencionadas em proporções não muito distantes.<br />

Direita volver Final.indd 194 28/10/2015 15:59:17

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