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DIREITA VOLVER!

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152 Direita, volver!<br />

uma ação policial repressiva. Tampouco se aventa a possibilidade de crítica 24<br />

à instituição policial ou aos seus procedimentos militares. 25 O que unifica e<br />

permite o enquadramento desses candidatos em uma Bancada da Bala, no<br />

entanto, é sua perspectiva de ação política que se orienta pela exigência de<br />

um maior recrudescimento das leis como forma de resolver os problemas da<br />

segurança pública, especialmente visando atenuar o problema do sentimento<br />

de impunidade supostamente generalizado entre a população.<br />

Uma análise mais detida deste tipo de discurso – que chamarei de securitário-autoritário<br />

– nos permite diagnosticar, especialmente em sua versão<br />

extremista, a existência de uma representação social de um princípio de cidadania<br />

não universal e inigualitário. O termo “cidadão de bem”, usado constantemente<br />

pelos seus defensores, pressupõe uma cidadania cindida; uma divisão<br />

dos direitos civis e fundamentais – especialmente do direito à vida – entre<br />

aqueles que “merecem” (de bem) e os que “voluntariamente” abdicaram dela<br />

(bandidos). O ideário do discurso securitário-autoritário se estrutura em uma<br />

concepção que prescinde do princípio de igualdade fundamental, instaurando<br />

uma desigualdade na distribuição formal dos direitos sob critérios moralistas<br />

e dependente do juízo arbitrário da força policial. Nesse sentido, contemplam<br />

um conteúdo de distribuição inigualitária 26 de direitos, não apenas enquanto<br />

24<br />

Em pesquisa com PMs do Sergipe, Marcos Santana de Souza evidencia como a percepção<br />

dos próprios policiais sobre o que entendem ser as raízes da violência policial se sustenta<br />

sobre causas psicológicas ou de caráter social. Nesse sentido, a violência policial é sempre<br />

um problema do outro: da sociedade, da política ou das frustrações do indivíduo, e nunca<br />

da corporação e das estruturas de poder interna. Salienta-se, assim, a uma “teoria das maçãs”,<br />

na medida em que se passa a crer que bastaria extirpar as “maçãs podres” do cesto para que o<br />

problema fosse resolvido. A única ressalva feita pelos policiais é a identificação de que a violência<br />

policial advém, muitas vezes, da precariedade do trabalho nos batalhões. Tal opinião<br />

torna muito difícil qualquer proposta de mudança institucional. A pesquisa foi feita com<br />

policiais de Sergipe, porém acreditamos que a mesma opinião deve ser compartilhada entre<br />

policiais no Brasil todo. Cf. Souza (2012, p.221-248).<br />

25<br />

Em artigo na Folha de S.Paulo, o ex-comandante geral da PM, Álvaro Camilo, expõe sua<br />

opinião contrária à proposta de desmilitarização da polícia. Ele argumenta que existe um<br />

desconhecimento na sociedade sobre as práticas da formação policial e que os valores militares<br />

são uma “forma de internalizar valores éticos, morais, de ordem e respeito às pessoas”<br />

(Cf. Camilo, 2013).<br />

26<br />

É nesse sentido preciso que podemos enquadrar o discurso da Bancada da Bala como sendo<br />

de direita. Para um melhor rigor, julgamos necessário entender os pressupostos que permitem<br />

o enquadramento conceitual desse discurso, mais do que necessariamente apenas<br />

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