11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta
11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta
11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
aviadoras. É inútil tentar chegar diretamente<br />
ao seringueiro como pretendíamos fazer. Assim<br />
nós planejamos no vácuo, em uma larga<br />
escala 12 , sem sequer conhecer as condições<br />
locais e esperando que um homem, cuja mão<br />
direita foi corta<strong>da</strong>, nos ofereça a esquer<strong>da</strong>’.<br />
(Walmsley, apud Martinello, 1988 p. 279) 13 .<br />
Reconheci<strong>da</strong> está, portanto, a Amazônia como território <strong>da</strong>s antigas<br />
oligarquias, por meio de quem se poderá acessar os recursos; região que<br />
não se pode entrar, posto que proprie<strong>da</strong>de alheia, se ignorarmos o dono’.<br />
É o reconhecimento explícito de que se está diante de um território.<br />
Seja porque os países europeus, mesmo com a emancipação política<br />
<strong>da</strong>s suas antigas colônias na Ásia e na África, conseguiram restabelecer o<br />
abastecimento <strong>da</strong> borracha <strong>da</strong>s suas plantations nos novos países<br />
independentes no pósguerra; seja porque a borracha sintética começou a<br />
ocupar uma faixa do mercado ca<strong>da</strong> vez mais significativa, o fato é que a<br />
borracha brasileira voltou a perder posições nos mercados externos.<br />
Já em 1950, o Brasil passara a ser importador de borracha. E, como<br />
nos alertara Vitor Nunes Leal, o coronelismo se expressa como uma<br />
relação em que a decadência do grande proprietário de terras, no caso<br />
acreano os seringalistas, o obriga a recorrer ao seu prestígio político para<br />
obter as benesses dos poderes públicos. Assim<br />
‘A borracha produzi<strong>da</strong> nos seringais e, de modo<br />
geral, no território, é envia<strong>da</strong> às praças de<br />
Manaus e Belém, por via fluvial (navios do<br />
SNAPP e batelões particulares).<br />
(...) Os seringalistas vendem o seu produto<br />
diretamente ao Banco de Crédito <strong>da</strong> Amazônia,<br />
to<strong>da</strong>via reclamam, pedindo financiamento maior<br />
para poder explorar maior número de estra<strong>da</strong>s.<br />
Assim, por exemplo, os grandes seringais <strong>da</strong><br />
bacia do Purus, no rio Acre e no rio Iaco,<br />
como é o caso dos seringais Mercês e<br />
12 Observese aqui, mais uma vez, o uso dessa expressão, escala, no sentido de hierarquia de poder,<br />
de que há degraus como se fosse uma esca<strong>da</strong> (echelle).<br />
13 Creio estar aqui diante de uma <strong>da</strong>s melhores caracterizações que se poderia ter feito do porque do<br />
sucesso dos plantios de borracha pelos europeus, sobretudo os ingleses, de borracha no sul e sudeste<br />
asiáticos. E, como se vê, não é porque lá se fez ‘plantio racional <strong>da</strong> borracha’, como procuram<br />
afirmar análises de cunho estritamente econômico e que ignoram o contexto sociopolíticocultural, em<br />
que se insere qualquer economia, mas sim porque, no caso <strong>da</strong> Amazônia, não se podia ignorar o poder<br />
que essas oligarquias haviam consoli<strong>da</strong>do e que qualquer um que quisesse explorar os recursos<br />
naturais <strong>da</strong> região haveria que, mais cedo ou mais tarde, se aliar, ou para ser mais explícito, partilhar<br />
com elas o excedente econômico. No sudeste asiático, o estatuto político no início do século era de<br />
colônia.<br />
244