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11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta

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espetacular. Foi nesta ocasião que vi a festa<br />

ser uma coisa difícil de contar, inclusive.<br />

Nos anos seguintes observou­se a borracha não<br />

alcançar preço igual a (19)46, com a última<br />

grande guerra. Contudo, ela continuou com<br />

preço compatível ao <strong>da</strong> mercadoria produtos de<br />

consumo. Então, como a situação financeira do<br />

país mantinha­se num equilíbrio quase<br />

perfeito, a festa não se ressentia de um<br />

preço exagerado <strong>da</strong> borracha porque ela se<br />

espelhava, na ver<strong>da</strong>de, no valor dos produtos<br />

de consumo e esse equilíbrio proporcionava um<br />

cunho de grandeza. Já de 46 a 70, a festa se<br />

manteve bem porque a borracha tinha os seus<br />

preços estabilizados pelo Banco <strong>da</strong> Amazônia.<br />

De 70 para cá, quando houve a desativação dos<br />

seringais, a festa de São Sebastião foi<br />

perdendo não a sua religiosi<strong>da</strong>de, mas a sua<br />

freqüência, os seus grandes estimuladores,<br />

que eram exatamente os seringueiros. Entramos<br />

numa fase em que o seringueiro passou a ser<br />

um intruso dentro dos seringais, por força<br />

<strong>da</strong>s circunstâncias, vendidos.’ (Souza, p. 32­33).<br />

Esse depoimento de Alberto Zaire se revela de uma enorme<br />

relevância não só por ter sido feito por um ex­seringalista, como ele se<br />

auto­identifica mas também pelo fato de estarmos diante de um historiador<br />

e, portanto, de um intelectual que, como tal, organiza suas idéias, as<br />

compara, as analisa. Sua periodização do que considera o período áureo <strong>da</strong><br />

borracha, para ele, de 1944 a 1946 e <strong>da</strong>í até 1970, corresponde exatamente<br />

àquele a que chegamos em nossas pesquisas a denominar como o período<br />

<strong>da</strong> Territoriali<strong>da</strong>de dos Coronéis de Barranco.<br />

No entanto, por maior que seja a importância que A . Zaire atribui ao<br />

seringueiro, é preciso que não se perca de vista o lugar social de quem está<br />

falando, o de seringalista, onde essa importância do seringueiro se revela<br />

na medi<strong>da</strong> que este produz borracha.<br />

O caráter desbravador do nordestino, que nos legou, primeiramente,<br />

este território, existe na medi<strong>da</strong> que produzia a borracha. Tudo aquilo que<br />

se passou no Acre entre o período desse ‘desbravamento’ e que consistiu<br />

na afirmação <strong>da</strong> autonomia do seringueiro(a)­agricultor não é aqui<br />

mencionado. Aqui o saber indígena não cumpre nenhum papel; nem a<br />

constituição <strong>da</strong>s famílias pelos que ficaram e, assim as mulheres não são<br />

considera<strong>da</strong>s, nem tão pouco a prática <strong>da</strong> agricultura que, no fundo,<br />

tornaram possível a socie<strong>da</strong>de acreana, até mesmo que os próprios<br />

patrões seringalistas pudessem existir, como já salientamos. Por esse olhar<br />

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