11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta
11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta
11 DOS CORONÉIS DE BARRANCO - Biblioteca da Floresta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
economicamente racional 16 , porque torna suas ativi<strong>da</strong>des competitivas,<br />
como o provam a pecuária extensiva ou o garimpo, não só do diamante e<br />
do ouro, como também <strong>da</strong>s árvores raras. Eis uma <strong>da</strong>s razões por que a<br />
produção empresarial de borracha na Amazônia encontra dificul<strong>da</strong>des para<br />
competir.<br />
Não se acuse aqui, como um preconceito já profun<strong>da</strong>mente<br />
arraigado costuma afirmar, a incapaci<strong>da</strong>de ou incompetência dos<br />
seringalistas para fazer o ‘plantio racional de seringueiras’ na Amazônia.<br />
Warren Dean, em seu excelente livro A luta pela borracha no<br />
Brasil(Dean, 1992), esclarece sobre as dificul<strong>da</strong>des tanto técnico<br />
ecológicas, como sociopolíticas, para que isso se desse e informa sobre as<br />
tentativas que foram feitas, desde o final do século passado, nos mais<br />
diferentes estados <strong>da</strong> Amazônia, para que se implantassem seringais de<br />
cultivo. Lembremos aqui do esforço de Henry Ford que, certamente, não<br />
pode ser acusado de incompetência técnica, que viu malogrado seus<br />
investimentos em seringais em Fordlândia e Belterra, no vale do Tapajós,<br />
tendo que vendêlos em 1945 17 .<br />
Esse quadro sociopolítico que reorganiza a geografia econômica <strong>da</strong><br />
borracha é extremamente importante para que se compreen<strong>da</strong> aquilo que a<br />
fala de Alberto Zaire notara e que expressa a contradição que, no fundo,<br />
coman<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de acreana, entre os seringalistas e os seringueiros.<br />
Contrariamente ao que costuma afirmar o ‘cálculo econômico<br />
racional’, o Acre continuou a produzir borracha. Para aqueles que<br />
acreditam numa racionali<strong>da</strong>de econômica independentemente do contexto<br />
político e cultural que a torna possível, e natural, a explicação para essa<br />
continui<strong>da</strong>de estaria na aju<strong>da</strong> política que se <strong>da</strong>va por meio de subsídios<br />
do Banco <strong>da</strong> Amazônia. Por tudo que arrolamos até aqui é possível<br />
afirmar, com segurança, que ‘a aju<strong>da</strong> política’ longe de explicar a<br />
continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produção de borracha contribui , sim, para explicar as<br />
condições de sustentabili<strong>da</strong>de dos Coronéis de Barranco, posto que o que<br />
16 A racionali<strong>da</strong>de econômica tem uma temporali<strong>da</strong>de própria em constante processo de aceleração. O<br />
curto prazo predomina sobre o longo prazo no ‘cálculo econômico racional’, como se depreende <strong>da</strong><br />
máxima de Keynnes ‘no futuro, estaremos todos mortos’.<br />
17 Aliás o que a Ford procurava no Brasil era ter o controle de to<strong>da</strong> as etapas do ciclo de produção de<br />
borracha, o que era estratégico, se for olhado a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1920 quando a grande empresa<br />
norteamericana implanta seus seringais no Brasil. A produção de elastômeros sintéticos obrigou a<br />
que fossem redefini<strong>da</strong>s as estratégias. Enquanto a Alemanha importava borracha do Brasil, se<br />
preparando para a guerra durante os anos trinta, investia pesa<strong>da</strong>mente na borracha sintética,<br />
considerado um projeto com forte componente geopolítco, pois tornaria a Alemanha insensível ao<br />
possível bloqueio de borracha <strong>da</strong> Ásia numa situação de conflito, os Estados Unidos, assim como<br />
Ford, negligenciaram essa alternativa, o que viria lhes custar caro.<br />
250