Seu - Geia Plural
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não a estivessem apoquentando com perguntas!...<br />
E tossia mais, sufocada.<br />
– Vês?! Estás achacada! Levas nesse chrum<br />
chrum! chrum, chrum!<br />
E arremedava a tosse da filha: – E é só. – Não<br />
vale a pena! Não precisa chamar o médico! –<br />
Não, senhora, com moléstias não se brinca!<br />
O médico receitou banhos de mar na Ponta<br />
d’Areia. Foi um tempo delicioso para Ana<br />
Rosa os três meses que passou lá – os ares da<br />
costa, os banhos de choque, os passeios a pé<br />
abriram-lhe o apetite e trouxeram-lhe algum<br />
sangue; ficou mais forte, chegou a engordar.<br />
Na Ponta d’Areia travara uma nova amizade:<br />
D. Eufrasinha. Era viúva de um oficial do<br />
Quinto d’Infantaria, que morreu na guerra do<br />
Paraguai.<br />
Eufrásia era muito romântica – falava, requebrando-se,<br />
do marido e poetizava-lhe a curta<br />
história. – Dez dias depois de casado partira<br />
para o campo de batalha e, no denodo de sua<br />
coragem, fora atravessado por uma bala de artilharia,<br />
morrendo a balbuciar com o lábio ensanguentado<br />
o nome da esposa estremecida!<br />
E com um enorme suspiro histérico a viúva<br />
concluía, pesarosa: – Que conhecera prazeres<br />
nesta vida apenas dez dias e dez noites!...<br />
Ana Rosa lamentava muito a amiga e ouvia-lhe<br />
de boa-fé as frioleiras, com atenção e<br />
recolhimento, cheia de ingênua sinceridade.<br />
Identificava-se facilmente com a história singular<br />
daquele casamento tão triste e simpático<br />
– por mais de uma vez chegou a chorar pela<br />
morte do moço oficial de infantaria.<br />
D. Eufrasinha ensinou a sua nova amiga<br />
muitas cousas que esta ignorava –instruiu-a<br />
em certos segredinhos do casamento; pode-<br />
-se dizer que deu-lhe lições de amor. Falou-lhe<br />
Índice<br />
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