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Seu - Geia Plural

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apenas a tristeza de nunca ter tido notícias do<br />

Balbino. Mas consolava-se com a certeza de<br />

que, onde quer que estivesse, na Terra ou no<br />

Céu, não andaria fazendo má figura.<br />

– Que Deus olhe por ti, meu filho – suspirou.<br />

E ainda com o dedo indicador interposto nas<br />

folhas do livro, os olhos no ar, reclinou a cabeça<br />

no espaldar da cadeira, de coração reconhecido.<br />

Vira nascer agora o seu primeiro<br />

trineto, e era ainda um homem de cabeça lúcida,<br />

passo firme e memória feliz. Vivia rodeado<br />

de lembranças, na velha casa onde duas<br />

vezes se casara, e ali aprimorara a inclinação<br />

para encontrar nos livros a complementação<br />

da vida, com o gosto da leitura. Para ler, graças<br />

a Deus, nunca precisara de óculos. De vez<br />

em quando, sem qualquer aviso, entrava-lhe<br />

corredor adentro, com seu cavanhaque bem<br />

aparado, os olhos faiscantes, muito bem vestido,<br />

um cravo vermelho na lapela, o Dr. Luís<br />

Domin- gues, governador do Estado, sempre<br />

lhe trazendo um novo livro de presente, além<br />

da lembrança de uma rosa ou de um vidro de<br />

perfume para a Benigna, a quem chamava<br />

de “minha madrinha”. Aos domingos, reunia<br />

à sua volta, com os panelões que a Benigna<br />

preparava como ninguém, a filha, os netos e<br />

os bisnetos, com as mulheres e os maridos, e<br />

ainda alguns amigos mais chegados, e era tão<br />

grande a algazarra dentro de casa, que até<br />

o papagaio protestava, ralhando todo mundo<br />

de cima de seu poleiro. No Largo do Carmo,<br />

dia sim, dia não, tinha a sua roda de companheiros,<br />

em volta de uma fonte onde cantava e<br />

reluzia um repuxo. Nos outros dias, ia à Biblioteca<br />

Pública, e ali conversava com o seu amigo<br />

Astolfo Marques, que andava a coligir uma<br />

seleta de autores maranhenses, a que dava<br />

também a sua colaboração. Se mandava um<br />

Índice<br />

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