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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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tento acentuar na minha memória dos acasos felizes que me<br />

associam a Luciano, frisaria que de imediato me acerquei do<br />

sociólogo autor de um artigo sobre Cidadão Kane, celebrando<br />

assim sua cinefi lia. Acerquei-me ainda mais do autor de<br />

Brasil via Paris, um imaginoso e penetrante ensaio, por isso<br />

infelizmente inédito, no qual ele traça alguns paralelos entre<br />

a cultura brasileira, em particular a nordestina, e a francesa.<br />

O outro sociológico de Luciano, o que lhe rendeu notoriedade<br />

intra e extra-acadêmica como autor de livros e ensaios embasados<br />

em investigações empíricas e outros ossos do ofício, este<br />

ocupa lugar bem mais discreto na nossa amizade e na linha<br />

dos interesses intelectuais que prioritariamente compartilhamos.<br />

Mas mesmo nesta <strong>parte</strong> de sua obra o leitor atento tem<br />

pronta ciência de que não lê um autor de estilo convencionalmente<br />

acadêmico. Pois o fato é que ele, dotado de virtudes<br />

literárias irreprimíveis, reveste com forma inventiva e singularmente<br />

sua os assuntos mais áridos catalogados nos escaninhos<br />

acadêmicos como sociologia do direito, ciência política,<br />

criminologia, jurisprudência e outras especialidades solenes.<br />

Um dia Luciano me trouxe das margens do Sena uma frase<br />

assinada por Alphonse Allais. Veio enquadrada em uma moldura<br />

que conservo em lugar visível de minha sala. A frase:<br />

“Les gens qui ne rient jamais ne sont pas des gens sérieux”. Se<br />

Allais tem razão, de minha <strong>parte</strong> não duvido, Luciano é um<br />

autor muito sério. Recolheu num vasto registro da expressão<br />

humana, que vai da chanchada brasileira a Machado de Assis<br />

— ele cruza rotineiramente esses extremos da cultura isento<br />

de qualquer preconceito —, a sábia lição de que a existência<br />

humana seria intolerável apartada do riso que a reinventa e<br />

lhe alivia o fardo. Mas presumo ser esta uma lição enraizada<br />

na própria disposição temperamental que espontaneamente<br />

o encaminha para o humor e o riso que tudo transfi guram e<br />

iluminam a realidade e suas materializações mais sisudas com<br />

tons e entretons antes neutralizados ou obscurecidos. Penso<br />

que é bem essa disposição temperamental, evidentemente<br />

somada a seu olhar de leitor penetrante e interrogante, que<br />

12 • O <strong>Bruxo</strong> e o <strong>Rabugento</strong> • Luciano Oliveira

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