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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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entre esferas sociais distintas: religião e economia,<br />

mística e política etc.<br />

O exemplo mais conhecido disso é o encontro aparentemente<br />

inesperado entre “ética protestante e espírito do capitalismo”,<br />

conforme estudado no clássico do sociólogo alemão. 16<br />

Aqui, porém, se estamos em presença de fenômenos disparatados,<br />

verifi camos também a presença de um movimento<br />

de “eleição” no sentido de sua aproximação, daí justamente a<br />

defi nição dessas afi nidades como eletivas. Ora, no caso das<br />

afi nidades que julgo ver entre Machado e Graciliano, elas não<br />

se dão em razão de uma escolha de qualquer dos pólos na direção<br />

um do outro. Machado, mesmo tendo sido um “defunto<br />

autor”, que aboliu as fronteiras do tempo, não esperou a vinda<br />

de Graciliano ao mundo para escrever as suas Memórias Póstumas!<br />

E Graciliano, que poderia ter escrito seu São Bernardo<br />

depois de ler Dom Casmurro, rejeitava vigorosamente qualquer<br />

infl uência do <strong>Bruxo</strong>. Quando se falou nisso, o <strong>Rabugento</strong><br />

se defendeu com o “argumento fulminante” de que “nunca<br />

havia lido antes Machado de Assis...” 17 Argumento incrível no<br />

sentido mais etimológico da expressão: impossível de ser acreditado!<br />

Quando Graciliano começou a escrever seu primeiro<br />

romance, Caetés, já ia bem adiantado na terceira década de<br />

vida; mas, segundo seu biógrafo, a descoberta de Machado teria<br />

se dado quando ele estava na casa dos vinte! 18 Como quer<br />

que seja, o argumento — a ser verdadeiro — é mais um elemento<br />

a demonstrar o quanto o <strong>Rabugento</strong> fazia questão de<br />

manter a distância do <strong>Bruxo</strong>. Daí a defi nição de suas afi nidades<br />

como sendo não eletivas. Neste caso, a aproximação é feita<br />

na suposição de que elas existem, mas por uma terceira <strong>parte</strong>:<br />

o analista que os lê. É o caso de Álvaro Lins, já citado, descobrindo<br />

uma visão pessimista sobre os homens partilhada por<br />

ambos. No meu caso, irei tentar demonstrar a hipótese da<br />

afi nidade sobre outros aspectos de sua obra. Quais?<br />

Comecemos por voltar a explorar o tema da problematização<br />

da escrita — dito de outra forma, da metalinguagem<br />

26 • O <strong>Bruxo</strong> e o <strong>Rabugento</strong> • Luciano Oliveira

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