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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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ção criticamente isenta daquela. Luciano vai antes de tudo à<br />

obra, que é o que de fato importa para a atividade crítica, e<br />

aí destaca e ilumina aproximações bem fortes entre ambos.<br />

Importaria ainda acentuar que a resistência de Graciliano a<br />

Machado encobre sentidos bem mais abrangentes. Quero dizer,<br />

outros escritores contemporâneos do <strong>Rabugento</strong>, igualmente<br />

importantes e reconhecíveis pela penetração com que<br />

apreciaram muito da nossa literatura, incorreram em reservas<br />

semelhantes que, ao cabo, comprometem o apreciador, eles,<br />

não o apreciado, Machado.<br />

É o caso ainda mais signifi cante do famoso ensaio de Mário<br />

de Andrade, igualmente considerado por Luciano. Seria<br />

ainda o caso de lembrarmos Gilberto Freyre, sobrepondo José<br />

de Alencar, Euclides da Cunha e José Lins do Rego ao mestre<br />

supremo do Cosme Velho; também Jorge Amado, que re<strong>parte</strong><br />

nossa tradição narrativa em duas vertentes, uma representada<br />

por José de Alencar, outra por Machado, para em seguida<br />

coerentemente alinhar-se com a <strong>primeira</strong>. Há certamente outros<br />

que omito, pois não é minha intenção recensear o assunto<br />

numa breve consideração espremida nas linhas de um prefácio.<br />

A menção a este fato parece-me todavia importar na medida<br />

em que aponta para um reconhecimento mais sólido e<br />

consensual da singularidade estética de Machado no conjunto<br />

da nossa história literária.<br />

Presumo que atualmente nenhum crítico, salvo a fração<br />

residualmente provinciana dos que lhe medem a excelência<br />

indiscutível, erra na avaliação substancial de sua universalidade,<br />

tantas vezes no passado incompreendida por estudiosos,<br />

ora turvados por nossa renitente tradição atada ao par<br />

romantismo e nacionalismo cultural — doença crônica e camaleônica<br />

da cultura brasileira, como observou Sérgio Paulo<br />

Rouanet em tom polêmico —, ora por outras formas de estreiteza<br />

ideológica, ou ainda psicológica, como aparenta ser<br />

o caso de Lima Barreto e a resistência de Graciliano Ramos<br />

já acima sublinhada. Resumindo, o fato imperativo é que a<br />

recepção da obra de Machado de Assis vale hoje como me-<br />

14 • O <strong>Bruxo</strong> e o <strong>Rabugento</strong> • Luciano Oliveira

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