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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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dida de sensibilidade e inteligência literária. No Brasil, como<br />

no estrangeiro, sucedem-se estudos de qualidade unânime no<br />

reconhecimento de valores artísticos que elevam Machado à<br />

altura dos seus melhores contemporâneos e pósteros. Luciano<br />

tem ciência disso. Essa é uma das razões de, em vários pontos<br />

da sua obra, centrar o foco argumentativo em críticos como<br />

Augusto Meyer, Roberto Schwarz, John Gledson, Sérgio Paulo<br />

Rouanet, José Guilherme Merquior, Alfredo Bosi e outros que<br />

tanto concorreram para consolidar um ponto de consenso em<br />

torno da obra de Machado.<br />

Sem querer abusar da elasticidade do conceito de obra<br />

aberta, acredito que muitas leituras, mesmo aquelas mais aderentes<br />

às linhas de sentido objetivamente aferíveis na obra do<br />

autor analisado, projetam em graus variáveis algo da personalidade<br />

e até diria das idiossincrasias do crítico. Desconfi o de<br />

que isso efetivamente ocorre no modo como Luciano Oliveira<br />

nos devolve sua recriação de Graciliano Ramos. O aspecto<br />

dessa recriação ou releitura que objetivo salientar prende-se<br />

aos elementos de humor acaso espelhados na obra do <strong>Rabugento</strong>.<br />

Este designativo já por si trai o vinco de humor intencionado<br />

pelo crítico. Visando a melhor articular meu argumento,<br />

valho-me da longa intimidade que tenho o privilégio<br />

de compartilhar com Luciano para sugerir em linhas menos<br />

turvas a medida em que um traço decisivo da sua personalidade<br />

incide sobre as camadas de humor supostamente inscritas<br />

na obra do <strong>Rabugento</strong>.<br />

Esperando ainda não incorrer numa chave psicologicamente<br />

redutora, ressalto o fato de que Luciano é um dos seres<br />

mais entranhadamente engraçados que conheço. Seu senso<br />

de humor — o termo vai aqui compreendido também na<br />

sua acepção inglesa, cuja expressão brasileira mais plena está<br />

contida na obra do <strong>Bruxo</strong> do Cosme Velho — tende sempre a<br />

desatar-se ao estímulo do primeiro contato. Mais que senso de<br />

humor, nele se somam e se sobrepõem o galhofeiro, o palhaço<br />

de picadeiro (ele de resto deplora não ser na vida efetivamente<br />

um deles), o menino trocista rebelde às convenções impostas<br />

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