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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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direta de um autor sobre o outro, mas de uma certa identidade<br />

de sentimentos em face da vida e da literatura” 43 que, obviamente,<br />

cabe ao leitor/intérprete intuir num primeiro momento<br />

e, em seguida, demonstrar — se não com a exatidão e a<br />

certeza das demonstrações científi cas, pelo menos com uma<br />

verossimilhança razoável; em todo caso, possível.<br />

Retomemos a hipótese da “identidade de sentimentos em<br />

face da vida e da literatura” de que fala Álvaro Lins. A princípio<br />

parece uma temeridade sugerir tal coisa a propósito de<br />

duas fi guras cujas diferenças não podem ser escamoteadas.<br />

Nada, numa <strong>primeira</strong> mirada, parece aproximá-los. Machado,<br />

de temperamento acomodado, viveu e escreveu sobre o<br />

mundo da Corte brasileira no pachorrento Segundo Reinado;<br />

Graciliano, um enfezado, viveu e escreveu sobre o pedaço de<br />

chão entre o litoral e o sertão do nordeste brasileiro — com o<br />

estreito agreste de permeio. Entretanto, se a hipótese e os elementos<br />

que a sustentam aqui apresentados são bons, haveria,<br />

abaixo da superfície enganosa, uma signifi cativa homologia<br />

freática entre os textos de ambos. Afi nal, a surpreendente semelhança<br />

na gozação que um e outro fazem do bacharelismo e<br />

o exercício de abjeção em que ambos se comprazem — para só<br />

fi car nesse dois elementos — acodem em favor de tal hipótese.<br />

Vamos explorá-la um pouco.<br />

Identidade de sentimentos em face da vida — é o primeiro<br />

elemento da proximidade que Lins vê entre os dois. É verdade<br />

que, aqui, ele está se referindo a um elemento por assim<br />

dizer fi losófi co: o pessimismo de ambos. Mas talvez seja interessante<br />

explorar um outro tipo de sentimento comum: o<br />

estranhamento de um e de outro em relação à sociedade em<br />

que viveram. Referida a Graciliano — um comunista que não<br />

escondia o famoso “ódio ao burguês” —, a afi rmação chega a<br />

ser um truísmo; referida a Machado — o exemplar servidor<br />

apegado ao seu “funcionarismo garantido” —, parece um despropósito.<br />

Talvez não seja. John Gledson, num dos livros que<br />

dedicou ao <strong>Bruxo</strong>, deu-lhe o subtítulo de “Impostura e realismo”.<br />

Nele, Gledson sugere que a “agudeza, a lâmina pontia-<br />

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