O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes
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pela sociedade e a experiência acumulada pelo profi ssional<br />
maduro. Se Oswald de Andrade perdia um amigo para não<br />
perder uma piada, Luciano perde ambos, amigo e piada, contanto<br />
que ele e os circunstantes riam. Ora, essa matizada e irrefreável<br />
força de humor e galhofa pulsa no centro da vida e<br />
da personalidade do nosso crítico. É assim compreensível que<br />
a projete num estudo de apreciação literária. O que de certo<br />
modo desorienta o leitor mais austero é a circunstância de Luciano<br />
— operando num quadro no qual livremente se mesclam<br />
os sentidos objetivamente dados pela obra e sua indócil personalidade<br />
de crítico — ressaltar no velho Graça precisamente<br />
essa tão inesperada componente de humor e riso inscrita no<br />
cerne de alguns dos ensaios aqui reunidos. A tudo adicionaria,<br />
tanto em defesa do meu argumento quanto em defesa das<br />
pérolas que recolhe e exibe ao cabo de sua jornada, que eu<br />
próprio aprendi com ele a enxergar nas pernas entrançadas<br />
de Julião Tavares uma irresistível cena de humor. Foi lendo e<br />
ouvindo Luciano, sobretudo acompanhando sua alegre e ao<br />
mesmo tempo angustiada tarefa de composição do livro, que<br />
passei a reler Julião Tavares, assim como outros personagens<br />
e cenas descritas na obra do <strong>Rabugento</strong>, que enfi m assimilei à<br />
minha leitura de uma obra, sempre apreciada como áspera e<br />
opressiva, esse ingrediente de humor tão original e desconcertante<br />
inscrito nas linhas de O <strong>Bruxo</strong> e o <strong>Rabugento</strong>.<br />
O que Luciano acrescenta às leituras correntes no paralelo<br />
que ensaia entre Machado de Assis e Graciliano Ramos é precisamente<br />
essa camada de sentido dentro da qual subitamente<br />
irrompe uma gargalhada inusitada. Que o leitor confi ra por<br />
si próprio. No caso de concordar com o autor, atestando que<br />
somente as pessoas sérias gozam do privilégio de rir dos disparates<br />
de Julião Tavares narrados por Luís da Silva, concluirá<br />
assim que fora antes traído pelas aparências quando opunha<br />
Machado de Assis a Graciliano Ramos, preso a incompatibilidades<br />
sem dúvida aferíveis, mas nunca substantivas. De humor<br />
e de riso já se disse muito quando a obra em questão era<br />
16 • O <strong>Bruxo</strong> e o <strong>Rabugento</strong> • Luciano Oliveira