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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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versalismo eram ideologia na Europa também”. Mas lá, pelo<br />

menos, “correspondiam às aparências, encobrindo o essencial<br />

— a exploração do trabalho.” Já entre nós, nem isso: “a Declaração<br />

dos Direitos do Homem, por exemplo, transcrita em<br />

<strong>parte</strong> na Constituição Brasileira de 1824, não só não escondia<br />

nada, como tornava mais abjeto o instituto da escravidão”. E<br />

pergunta: “Que valiam, nestas circunstâncias, as grandes abstrações<br />

burguesas que usávamos tanto?” 21<br />

Ao Vencedor é de 1977. Apenas em 1990 aparecerá sua<br />

continuação, Um Mestre na Periferia do Capitalismo, no qual<br />

Schwarz, abordando com especial ênfase o romance inaugural<br />

da segunda fase de Machado, Memórias Póstumas de Brás<br />

Cubas, enriquece sua análise com a preciosa hipótese de que<br />

os dois traços onipresentes no texto do defunto autor — a “volubilidade<br />

do narrador” e o “constante desrespeito de alguma<br />

norma” —, sendo comportamentos típicos da nossa classe<br />

senhorial de então, representariam “uma estilização de uma<br />

conduta própria à classe dominante brasileira”. 22 Teríamos<br />

aqui um bom exemplo da internalização do externo de que<br />

falamos logo acima. Brás Cubas, dentro dessa leitura, é um<br />

“fi lhinho de papai” que se compraz em montar cavalinho com<br />

o “moleque de casa”, Prudêncio, e praticar estripulias com os<br />

convidados, sob o olhar complacente do pai que, “passado o<br />

alvoroço, dava-[lhe] pancadinhas na cara e exclamava a rir:<br />

Ah! brejeiro! Ah! brejeiro!” Para Schwarz, esse mesmo capricho<br />

de classe embrenha-se no texto, e Brás Cubas, com uma<br />

desfaçatez inédita na literatura brasileira, agride os leitores ao<br />

adotar o arbítrio e a volubilidade como princípios condutores<br />

da trama.<br />

Um dos elementos desse ambiente histórico-social aparece<br />

no verdadeiro “show de cultura geral caricata, uma espécie<br />

de universalidade de pacotilha, na melhor tradição pátria”,<br />

que constitui o discurso de Brás Cubas apresentando o famoso<br />

“emplasto” com que pretendia salvar a humanidade de<br />

sua melancolia. 23 Trata-se do mundo do “bacharel com bela<br />

cultura” 24 tipicamente nosso, tão bem ilustrado pelo próprio<br />

29

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