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O Bruxo e o Rabugento primeira parte.indd - Livraria Martins Fontes

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sido homem de proclamações ou de gestos temerários, o famoso<br />

absenteísmo político de Machado de Assis deve ser encarado<br />

com muitas nuances. Mas, de outro lado, deve também<br />

ser encarado com vários bemóis o engajamento político de<br />

Graciliano. No plano da arte que praticou, ele não foi propriamente<br />

um escritor engajado.<br />

Numa analogia — só que trafegando em sentido contrário<br />

— com a revisão por que o suposto absenteísmo político de<br />

Machado tem passado, deve ser também revista a visão, pertencente<br />

a um certo senso comum alimentado pelo fato de Vidas<br />

Secas ter-se tornado seu livro mais conhecido, de um Graciliano<br />

praticando uma literatura “social”, por oposição a um<br />

Machado praticando uma literatura “psicológica”. A literatura<br />

do <strong>Rabugento</strong> nunca teve o caráter de “denúncia” — bastando<br />

sobre isso lembrar que, apesar de comunista literalmente de<br />

carteirinha (pois era inscrito no PCB), Graciliano Ramos<br />

sempre recusou as diretrizes estéticas do Partido, devotando<br />

especial horror ao chamado “realismo socialista” à época em<br />

voga. De toda forma, provavelmente pela suposta oposição<br />

profunda entre os dois, Machado e Graciliano não têm sido<br />

objeto de estudos comparativos sistemáticos. 8<br />

É verdade que não faltam referências aproximando um e<br />

outro — uma evocação, afi nal, natural, dada a proeminência<br />

que ambos desfrutam na literatura brasileira. Mas são rápidas<br />

e esporádicas observações a respeito de um ou outro aspecto<br />

geral da obra — como o óbvio “classicismo” detectado em ambos<br />

por Tristão de Athayde 9 , ou o “tom dubitativo, de eterno<br />

fronteiriço do ‘sim’ e do ‘não’”, que seria de Machado e que<br />

Agripino Grieco vê na obra de estreia de Graciliano Ramos<br />

— Caetés. 10 Já Álvaro Lins aproxima a visão de mundo de um<br />

e de outro pelo traço de união do pessimismo, sustentando<br />

que os dois partilham “a mesma concepção da vida, o mesmo<br />

julgamento dos homens”, fazendo até uma diferença entre<br />

o humour de ambos: enquanto o do primeiro seria “destruidor,<br />

mas sereno”, o do segundo seria “sombrio e áspero”, concluindo<br />

com um julgamento sobre o conjunto da obra do Velho<br />

22 • O <strong>Bruxo</strong> e o <strong>Rabugento</strong> • Luciano Oliveira

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