SERVIÇO DE APOIO JURÍDICO – SAJU: - AATR
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Para superar esta educação dominadora, Freire (1987, p. 68) propõe uma<br />
pedagogia do oprimido, uma vez que defende que “NINGUÉM EDUCA NINGUÉM,<br />
NINGUÉM SE EDUCA A SI MESMO, OS HOMENS SE EDUCAM ENTRE SI,<br />
MEDIATIZADOS PELO MUNDO” (grifo nosso). Pois,<br />
“o educador já não é mais quem educa, mas o que,<br />
enquanto educa, é educado, em um diálogo com o educando, que ao ser<br />
educado, também educa. Ambos, assim, tornam-se sujeitos do processo<br />
em que crescem juntos e em que os argumentos da autoridade já não<br />
valem.” ( FREIRE, 1987, p. 68).<br />
A pedagogia do oprimido propõe, ao invés da educação dominadora, uma<br />
prática problematizadora, calcada na crítica e na reflexão. A sua concepção de educação<br />
perpassa a inconclusão do homem enquanto ser histórico que mesmo condicionado, pode<br />
recriar a realidade, como pensa Freire (1987, p. 72), que considera “o homem como ser<br />
inconcluso, consciente de sua inconclusão, e seu permanente movimento em busca do ser<br />
mais”. Essa inconclusão desvela o fatalismo da realidade porque, em busca do ser mais, nós<br />
homens podemos transformar a realidade.<br />
A premissa fundamental da pedagogia do oprimido é a dialogicidade,<br />
entendida como a essência da educação para a libertação. “O diálogo é o encontro de<br />
homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na<br />
relação eu-tu” (FREIRE, 1987, p. 78). O diálogo não é “discussão guerreira” em busca de<br />
impor a sua verdade ao outro, pelo contrário, é “exigência existencial”, uma vez que<br />
significa o encontro de sujeitos que querem “solidarizar o refletir e agir” para um mundo<br />
transformado e humanizado.<br />
Para Freire, o diálogo é um ato de amor, humildade e fé. O amor é o<br />
compromisso com a causa dos oprimidos, considerando o outro como sujeito. Assim, o<br />
amor e o diálogo só ocorrem entre sujeitos, diferente da dominação, que acaba sendo uma<br />
“patologia do amor: sadismo de quem domina, masoquismo dos oprimidos” (FREIRE,<br />
1987, p. 81). A humildade pressupõe a vida em comunhão com o outro, ou seja, “a autosuficiência<br />
é incompatível com o diálogo. Os homens que não têm humildade não podem<br />
aproximar-se do povo” (FREIRE, 1987, p. 81). A fé é também componente do diálogo, não<br />
no sentido sacro e imobilizador, mas na acepção de crença na possibilidade de “poder fazer<br />
e transformar a realidade, mesmo que negada em situações concretas” (FREIRE, 1987, p.<br />
81). Portanto, a junção do amor, humildade e fé geram, como conseqüência, a confiança,<br />
instaurando a possibilidade concreta de um diálogo verdadeiro, verdadeiro porque crítico.<br />
Tendo em vista uma educação enquanto prática libertária, o diálogo deve<br />
começar pela determinação dos conteúdos a serem trabalhados. Cabe, num ato dialógico, ao<br />
educador-educando e o educando-educador 2 , a partir da realidade concreta e da situação de<br />
opressão sofrida, determinarem os temas. Freire pensa que a reflexão sobre situações<br />
concretas pode revelar, mediante a problematização, a dominação e opressão social, que<br />
antes eram mascaradas pelos sentimentos e idéias de fatalidade, alienação e ideologia. “O<br />
que temos de fazer, na verdade, é propor ao povo, através de certas contradições básicas,<br />
sua situação existencial, concreta, presente como problema que, por sua vez, desafia e,<br />
2 Freire propõe uma nova nomenclatura mais coerente com sua proposta. Agora, o educador é educadoreducando<br />
e o educando é educando-educador (FREIRE, 2000).<br />
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