17.04.2013 Views

Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa

Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa

Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Já tinham a capa do disco. Um miúdo<br />

em primeiro plano, ao lado <strong>de</strong> um coluna<br />

<strong>de</strong> som, com tanga vestida e dança<br />

preparada num terreiro do Sambila,<br />

o calão <strong>de</strong> Luanda para o bairro<br />

Sambizanga. Já tinham as fotos para<br />

o interior. O dia <strong>de</strong>scendo sobre a baía<br />

e os prédios na paisagem. Já tinham<br />

isto e sabiam como queriam trabalhálo.<br />

Eles que já tinham isto são Pedro<br />

Coquenão (DJ Mpula), Bruno Lobato<br />

(Beat La<strong>de</strong>n) e Luaty Beirão (Ikonoklasta),<br />

nomes chave <strong>de</strong> um projecto,<br />

Batida, que não se esgota neles. E<br />

sabiam como queriam trabalhar aquelas<br />

imagens, como inscrever nelas<br />

aquilo que viria a ser este Batida que<br />

agora chega até nós.<br />

A Luanda que vemos daqui<br />

É uma colisão entre a música angolana <strong>de</strong> ontem e os ritmos <strong>de</strong> hoje.<br />

Nasceu da “uma nova sauda<strong>de</strong>” <strong>de</strong> uma nova geração e nela espelha-se uma Luanda<br />

que se re<strong>de</strong>scobre enquanto se abre ao mundo. Batida é isto. Mário Lopes<br />

12<br />

DJ Mpula elenca: “arte zulu e arte<br />

pop, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser tradicional<br />

e urbano”.<br />

Roda, <strong>de</strong>signer, concretizou: o miúdo<br />

em primeiro plano ganhou capa<br />

e coroa <strong>de</strong> super-herói, a coluna <strong>de</strong><br />

som dinamismo <strong>de</strong> BD e a paisagem<br />

<strong>de</strong> Luanda palancas voadoras, muito<br />

naifs, sóis que brilham perguntas<br />

(“Sauda<strong>de</strong>?”), divisões territoriais <strong>de</strong>finidas<br />

(gueto, colinas, kandongueiro).<br />

Aquilo po<strong>de</strong> não nos dizer o que é<br />

exactamente <strong>esta</strong> Batida, projecto <strong>de</strong>senvolvido<br />

entre <strong>Lisboa</strong> e Luanda,<br />

entre o passado da música angolana<br />

preservado nos arquivos da Valentim<br />

<strong>de</strong> Carvalho e o presente <strong>de</strong> um Por-<br />

tugal que agora dança o kuduro que<br />

Angola inventou. Mas diz-nos muito<br />

sobre aquilo que Mpula, Beat La<strong>de</strong>n<br />

e Ikonoklasta i<strong>de</strong>alizaram.<br />

Batida é isto: felicíssima colisão entre<br />

a música angolana <strong>de</strong> ontem e os<br />

ritmos <strong>de</strong> hoje. Como um encontro <strong>de</strong><br />

almas gémeas separadas por contingência<br />

cronológica. Os Águias Reais<br />

da década <strong>de</strong> 60 e 70 a “rebentar” no<br />

kuduro <strong>de</strong> “Bazuka”, os berimbaus do<br />

Grupo <strong>de</strong> Folclore <strong>de</strong> Angola a ressoar<br />

como ritmo ancestral entre os graves<br />

e os sintetizadores convulsivos criados<br />

por Mpula e Beat La<strong>de</strong>n.<br />

Ao Ípsilon, Pedro Coquenão e Luaty<br />

Beirão acentuam: “Tendo os pés<br />

em Angola, este disco tem a cabeça<br />

“Tendo os pés em<br />

Angola, este disco<br />

tem a cabeça noutros<br />

sítios. E tirámos<br />

partido disso. Um<br />

português cá não o<br />

conseguiria fazer, um<br />

angolano lá também<br />

não” Pedro Coquenão<br />

e Luaty Beirão<br />

noutros sítios. E tirámos partido <strong>de</strong>ssa<br />

situação. Um português cá não o<br />

conseguiria fazer, um angolano lá também<br />

não. Assim, po<strong>de</strong>mos arremessálo<br />

lá para <strong>de</strong>ntro, po<strong>de</strong>mos celebrá-lo<br />

aqui, envergonhar quem <strong>de</strong> direito e<br />

<strong>de</strong>senvergonhar quem acha que tem<br />

vergonha seja do que for”.<br />

N<strong>esta</strong> música, reflecte-se aquilo que<br />

<strong>de</strong>finem como “nova sauda<strong>de</strong>”. Ouçamos<br />

Pedro Coquenão, filho <strong>de</strong> portugueses<br />

nascido em Angola, no Huambo:<br />

“Já não é a sauda<strong>de</strong> da vida<br />

Martini Bianco dos anos 60 e 70, mas<br />

uma sauda<strong>de</strong> da própria terra, só possível<br />

para aqueles que estão afastados”.<br />

Escutemos Luaty Beirão, angolano<br />

que viveu anos fora: “Os primei-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!