Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa
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Com “Love<br />
2” foi tudo<br />
rápido:<br />
é o primeiro<br />
disco dos Air<br />
lançado em<br />
menos <strong>de</strong> três<br />
anos <strong>de</strong>pois<br />
do anterior<br />
Quando lhe<br />
perguntamos se os<br />
Air se vão tornar<br />
uma banda <strong>de</strong> culto<br />
ou se acha que ainda<br />
têm hipóteses <strong>de</strong><br />
crescer, Nicolas<br />
Godin não hesita:<br />
“Não faço i<strong>de</strong>ia<br />
porque tentamos<br />
o mais que po<strong>de</strong>mos<br />
ser ‘outsi<strong>de</strong>rs’”<br />
comparação com a obra feita e lá vai<br />
dizendo que “10000 Hz” era “um disco<br />
<strong>de</strong> produtor”, e “foi sobre-produzido”,<br />
que os r<strong>esta</strong>ntes eram “discos<br />
<strong>de</strong> canções” em que não sentiam<br />
“obrigação <strong>de</strong> fazer canções canónicas”,<br />
enquanto “este é um disco <strong>de</strong><br />
músicos”. Para provar a afirmação faz<br />
ver que tocaram “tudo no estúdio”<br />
em “regime jam”. “Vamos todos os<br />
dias para o estúdio às 15 e saímos às<br />
21. Encontramo-nos cara a cara, é tudo<br />
feito ali, no osso, sem planos, apenas<br />
com improviso”.<br />
O estúdio, localizado em Paris, on<strong>de</strong><br />
os Air vivem, está na posse da dupla<br />
“apenas há ano e meio”. Normalmente<br />
compõem e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>moram<br />
“seis meses a gravar”. Agora foi tudo<br />
mais rápido: é o primeiro disco dos<br />
Air lançado em menos <strong>de</strong> três anos<br />
<strong>de</strong>pois do anterior. E tudo aconteceu<br />
com menos dose <strong>de</strong> planeamento do<br />
que era costume: “Primeiro tínhamos<br />
uma i<strong>de</strong>ia do que íamos fazer e <strong>de</strong>pois<br />
as canções vinham <strong>de</strong>pressa. <strong>Conhece</strong>mo-nos<br />
bem, conhecemos bem os<br />
instrumentos: uma i<strong>de</strong>ia tornava-se<br />
numa canção em segundos”.<br />
Fizeram tudo entre eles e um baterista,<br />
e sentiam “uma liberda<strong>de</strong> enorme”.<br />
Pelo que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazerem<br />
tudo certinho, divertiram-se a escavar:<br />
“Neste disco há canções que têm<br />
partes muito diferentes porque quando<br />
uma canção <strong>esta</strong>va acabada apetecia-nos<br />
adicionar-lhe uma coda<br />
completamente diferente ou uma parte<br />
nova que não fosse óbvia”. Godin<br />
diz que pareciam “crianças no jardimescola<br />
com os brinquedos”.<br />
Não há – novamente – uma canção<br />
tão óbvia como “Sexy Boy”. E, muto<br />
possivelmente, não voltará a haver<br />
coisa assim na carreira dos Air. Mas<br />
há um punhado <strong>de</strong> canções que se<br />
não <strong>de</strong>ixarem um tremendo sorriso<br />
nos lábios à primeira, à segunda poem<br />
ombros a menear, pezinhos a bater<br />
e ancas a <strong>de</strong>sencaminhar-se. Em<br />
particular a magnífica “Eat my beat”,<br />
que se aproxima do funk, do disco,<br />
<strong>de</strong> uma Bollywood imaginária.<br />
“Disco? Não, não”, nega Godin, verda<strong>de</strong>iramente<br />
surpreso. É picuinhas:<br />
“Um pouco <strong>de</strong> funk, sim”. Mas a terceira<br />
parte da receita está correcta:<br />
“Houve um certo roubo em BSOs <strong>de</strong><br />
Blaxpoitation e andámos a ouvir muita<br />
música indiana <strong>de</strong> cinema. Somos<br />
gran<strong>de</strong>s fãs <strong>de</strong> alguns compositores”.<br />
Lá pelo meio ouve-se uma cítara.<br />
Godin explica que não é uma cítara,<br />
é uma emulação do som d<strong>esta</strong> feita<br />
num órgão antigo. Depois <strong>de</strong>sata a<br />
falar do órgão com visível prazer, o<br />
que prova que nunca po<strong>de</strong>rá ser Erroll<br />
Flynn: é <strong>de</strong>masiado “geek” para<br />
isso.<br />
Nessa meta<strong>de</strong> mais avariada as vozes,<br />
que nunca foram primordiais nos<br />
Air, são tratadas <strong>de</strong> forma ainda menos<br />
canónica: quando surgem é, por<br />
norma, no final da canção, e nunca<br />
em forma <strong>de</strong> refrão. “A voz para nós<br />
é um instrumento como outro qualquer.<br />
Pomo-la quando queremos, seja<br />
a meio da canção, seja no fim, seja<br />
uma frase, sejam duas palavras. Já é<br />
uma marca nossa. Não ter a obrigatorieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> colocar vozes em todas as<br />
canções num refrão formatado dá-nos<br />
gran<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>”.<br />
Godin diz que isto é o que sempre<br />
fizeram. E que no fundo se trata <strong>de</strong><br />
“<strong>de</strong>sconstruir géneros”, <strong>de</strong> “retirar<br />
[elementos]”, e reduzir ao mínimo<br />
<strong>de</strong>nominador comum. Só que o feito<br />
“é especialmente notório no último<br />
álbum”. Mas mais que tudo a dupla<br />
cuidou “em não preencher <strong>de</strong>masiado<br />
as canções, para não per<strong>de</strong>rem a<br />
frescura”. E é por isso, termina, que<br />
“este disco foi uma benção”.<br />
Ver crítica <strong>de</strong> discos págs. 31 e segs.<br />
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