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Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Discos<br />

Pop<br />

Com<br />

que som!<br />

Aliar os prodígios da<br />

engenharia a uma voz<br />

prodigiosa era só o que<br />

faltava a Amália. Agora já não<br />

falta. Há um passado melhor,<br />

no futuro que nos espera.<br />

Nuno Pacheco<br />

Amália<br />

Rodrigues<br />

Coração<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

mmmmn<br />

IPlay<br />

Amália Secreta<br />

mmmmn<br />

Tradisom, Tr Trad a isom, , Farol<br />

Sings Fa Fado<br />

do From<br />

Portugal<br />

and Flamenco<br />

Flamenco<br />

From Spain<br />

mmmnn<br />

CNM<br />

Seja febre ou moda, a, a onda <strong>de</strong><br />

r<strong>esta</strong>uros que se apossou possou da<br />

chamada música popular opular é<br />

reconhecidamente e bem-vinda.<br />

bem-vinda.<br />

Quem já ouviu os “novos” Beatles<br />

sabe do que se trata. a. Um vidro baço<br />

que se torna nítido fazendo <strong>de</strong> uma<br />

antiga paisagem um m alvo renovado renovado<br />

<strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>slumbramento.<br />

eslumbramento.<br />

Por via da exposição ição que assinala<br />

os <strong>de</strong>z anos da morte rte <strong>de</strong> Amália,<br />

também um lote consi<strong>de</strong>rável onsi<strong>de</strong>rável das<br />

suas gravações foi sujeito a r<strong>esta</strong>uro.<br />

“Coração In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”, <strong>de</strong>nte”, disco com<br />

o mesmo nome da exposição exposição a<br />

inaugurar no Museu eu Berardo, surge<br />

como fulcral neste processo.<br />

Primeiro porque o trabalho <strong>de</strong><br />

engenharia sonora nele aplicado é,<br />

<strong>de</strong> facto, extraordinário. nário. Des<strong>de</strong> os<br />

temas <strong>de</strong> “Com Que e Voz” (“Gaivota”,<br />

“Maria <strong>Lisboa</strong>”) até é aos (agora mais)<br />

magníficos “Povo Que Lavas no Rio”<br />

e “Estranha Forma a <strong>de</strong> Vida”<br />

(“Busto”), não só a voz <strong>de</strong> Amália se<br />

torna mais encantadora adora nas suas<br />

cambiantes cromáticas, ticas, como os<br />

acompanhamentos s instrumentais<br />

ganham novo e significativo nificativo<br />

relevo, sejam guitarras rras (Raul<br />

Nery, Fontes Rocha, a,<br />

Domingos Camarinha), nha),<br />

violas (Santos Moreira, eira,<br />

Castro Mota, Joel Pina), ina),<br />

orquestras ou mesmo mo<br />

instrumentos<br />

inesperados (ouça-se, -se,<br />

por exemplo, o contrabaixo no “Aï<br />

mourir pour toi” <strong>de</strong> 1958).<br />

Os 20 temas do disco (há também<br />

uma outra edição, em CD duplo,<br />

com 35 temas mas <strong>de</strong> tiragem<br />

limitada) vão dos anos 50 aos 70,<br />

numa sequência harmónica e<br />

sedutora para o ouvinte (a selecção é<br />

<strong>de</strong> David Ferreira) e permitem<br />

escutar com “novos ouvidos” o<br />

brilho incomparável da voz <strong>de</strong><br />

Amália em registos muito diversos:<br />

“Solidão”, vinda do “<strong>de</strong>sencontro”<br />

histórico com o saxofonista Don<br />

Byas, permite enten<strong>de</strong>r melhor a<br />

branda excelência <strong>de</strong>ssa versão;<br />

“Barco negro” ou “Fallaste<br />

corazón”, <strong>de</strong> 1955, reluzem como<br />

nunca; “Foi Deus”, das gravações <strong>de</strong><br />

Abbey Road <strong>de</strong> 1952, é único, até<br />

pelo insólito (Amália engana-se, ao<br />

cantar “o pranto nos rosto” em vez<br />

<strong>de</strong> “o pranto no rosto”); e os dois<br />

temas vindos do célebre concerto do<br />

Olympia em 1956, “Amália” e “Nem<br />

às pare<strong>de</strong>s confesso”, fazem-nos<br />

querer ouvir, agora, todo o concerto<br />

assim, como se tivesse sido gravado<br />

ontem. O trabalho <strong>de</strong> engenharia<br />

sonora, a cargo <strong>de</strong> um técnico que é<br />

também músico (o peruano Jorge<br />

Cervantes), Cervante s), ) foi feito a partir das ddas<br />

fitas ffitas<br />

originais, com uma uma única excepção:<br />

“Aï mourir pour toi”,<br />

gravado em Paris.<br />

Apesar da excelência<br />

do resultado, há<br />

falhas no<br />

libreto, para<br />

lá dos bons s<br />

textos:<br />

pequenos<br />

erros,<br />

ausência<br />

dos anos<br />

aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

Air: meia reinvenção, meio gran<strong>de</strong> disco<br />

<strong>de</strong> gravação das faixas e dos<br />

títulos dos discos originais. A<br />

corrigir, espera-se.<br />

Uma outra edição on<strong>de</strong> o r<strong>esta</strong>uro<br />

é também notável, mas feito a partir<br />

<strong>de</strong> discos <strong>de</strong> 78 rotações, é o terceiro<br />

volume da série Arquivos do Fado.<br />

Com um libreto irrepreensível,<br />

chama-se “Amália Secreta” porque a<br />

quase totalida<strong>de</strong> dos seus 20 temas<br />

era inédita em CD, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

parte do disco “Amália Rodrigues”<br />

(1957), só editado em França e no<br />

Brasil (<strong>esta</strong> edição inclui 10 das 12<br />

faixas originais, entre as quais a<br />

raríssima “Ai <strong>Lisboa</strong>” e uma versão<br />

excelente <strong>de</strong> “Foi Deus”, que é<br />

muito curioso comparar com a do<br />

disco antes citado) até à dilacerante<br />

ranchera “Grítenme piedras <strong>de</strong>l<br />

campo”.<br />

Por último, essencial a<br />

coleccionadores, o primeiro LP <strong>de</strong><br />

Amália, editado nos EUA em 1954. A<br />

remasterização não anulou por<br />

completo as reverberações, mas a<br />

voz <strong>de</strong> Amália resiste aos <strong>de</strong>feitos e,<br />

quer nas oito faixas do LP original<br />

(há, também, uma edição limitada<br />

em vinil) quer nos quatro bónus<br />

incluídos no CD, impõe-se pela<br />

força. Mas MMas<br />

basta bbasta<br />

comparar, por<br />

exemplo, dois “Fallaste corazón” (o<br />

<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ste disco é o mesmo <strong>de</strong> “Coração<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”) para<br />

confirmar que o<br />

“coração” da<br />

engenharia<br />

vale ouro.<br />

Por via da exposição que assinala os <strong>de</strong>z anos<br />

da morte <strong>de</strong> Amália, um lote consi<strong>de</strong>rável das suas<br />

gravações foi sujeito a r<strong>esta</strong>uro<br />

Air<br />

Love 2<br />

EMI<br />

mmmmn<br />

Onze anos <strong>de</strong>pois<br />

da estreia com<br />

“Moon Safari”<br />

ninguém espera<br />

revoluções dos Air<br />

– quando muito<br />

há uma vaga<br />

esperança <strong>de</strong> ver retornar aquela<br />

impon<strong>de</strong>rável aliança entre<br />

reaccionarismo e invenção pop que<br />

dominava o primeiro disco. Porque é<br />

nisso que eles (só por vezes e nunca<br />

durante um disco inteiro) são<br />

extraordinários: na criação <strong>de</strong> papel<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong> que emana ternura. Foi,<br />

aliás, a recusa da superficialida<strong>de</strong><br />

que tornou “10000 HZ”, o segundo<br />

tomo, um disco falhado: se antes o<br />

talento <strong>de</strong> Dunckel e Godin se<br />

revelava na precisão dos <strong>de</strong>talhes<br />

escondidos sob mantos <strong>de</strong> melodias<br />

retro, nesse disco amaldiçoado por<br />

muitos fãs havia um nítido excesso<br />

<strong>de</strong> produção. Digamos que: o<br />

primeiro era disco <strong>de</strong> produtor<br />

apaixonado por canções, o segundo<br />

era disco <strong>de</strong> cientista, e “Talkie<br />

Walkie” (2004) e “Pocket Simphony”<br />

eram meios termos. “Love 2”, não<br />

<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser imaculadamente<br />

produzido, toma outros rumos: não<br />

tem um plano estético, uma cartilha<br />

a nivelá-lo, não procura <strong>de</strong>senhar<br />

canções, antes, movendo-se <strong>de</strong>ntro<br />

do espectro limitado e dolente dos<br />

Air, vira à esquerda e à direita<br />

quando bem lhe apetece, sem<br />

obe<strong>de</strong>cer a regras, a um som – ao<br />

ponto <strong>de</strong> as faixas <strong>de</strong> típica beleza-<br />

Air serem exactamente aquelas que<br />

pen<strong>de</strong>m para o insosso, casos <strong>de</strong><br />

“Love”, “So light is her football”,<br />

“Sing sang sung” e “African velvet”.<br />

O oposto acontece quando os temas<br />

se abrem ao inesperado: aí, quando<br />

as canções têm várias partes, e em<br />

muito poucas ocorre algo vagamente<br />

semelhante a um refrão, os Air<br />

quase proce<strong>de</strong>m a uma reinvenção –<br />

porque apesar <strong>de</strong> os arranjos<br />

recorrerem bastas vezes a<br />

instrumentos clássicos (além dos<br />

costumeiros órgãos laranja-tépido<br />

há metais, flautas, guitarras sli<strong>de</strong>,<br />

pianos), parecem não <strong>de</strong>sempenhar<br />

as funções que lhes são habituais ou<br />

surgirem quando menos se espera.<br />

Acaba por ser um disco <strong>de</strong> pequenas<br />

brinca<strong>de</strong>iras: na estranha “Missing<br />

the light of day” uma linha <strong>de</strong> piano<br />

percorre os órgãos vintage enquanto<br />

uma voz robotizada aparece e<br />

<strong>de</strong>saparece para dar lugar a um solo<br />

<strong>de</strong> harpa (?); na lindíssima “Tropical<br />

Disease” metais acompanham uma<br />

simples melodia à Satie em sobe e<br />

<strong>de</strong>sce, antes <strong>de</strong> se entrar numa coda<br />

com inflexões jazzy; em “Heaven’s<br />

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