Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa
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alais<br />
vessar a Mancha para se juntar à sua<br />
noiva que vive com a família em Inglaterra,<br />
que chega agora a Portugal.<br />
“É a actualida<strong>de</strong> que acompanha o<br />
filme, que se pega a ele. Não fiz um<br />
filme com intuito político. Mas é certo<br />
que não há coincidências [entre<br />
aquilo que o filme conta e a realida<strong>de</strong>]”,<br />
diz Lioret, que <strong>de</strong>scobriu “o que<br />
se está a passar na Europa” num microcosmos,<br />
num ponto <strong>de</strong> concentração,<br />
Calais. “Os imigrantes continuam<br />
a chegar, a polícia continua a persegui-los,<br />
as rusgas policiais continuam<br />
a acontecer. Mas o que aconteceu [na<br />
semana passada] é uma entre outras,<br />
Os imigrantes voltarão a Calais, tudo<br />
continuará como sempre”.<br />
Não fez um filme com intuito político<br />
e não faz também um documentário,<br />
sublinha. “Uma parte do filme<br />
po<strong>de</strong> parecer um documentário, mas<br />
é tudo reconstituição, tudo foi feito<br />
por nós. É um filme relativamente<br />
caro, porque tivemos que reconstituir<br />
tudo, Acredito na ficção, as personagens<br />
são mais importantes para mim<br />
do que a história. Fui a Calais à procura<br />
<strong>de</strong> personagens. Encontrei pessoas<br />
que me levaram a construir a<br />
personagem do jovem, Bilal, até dos<br />
polícias e <strong>de</strong> Simon”.<br />
O par<br />
É o par central <strong>de</strong> “Welcome”: Simon,<br />
um professor <strong>de</strong> natação (Vincent<br />
Lindon), e Bilal (Firat Ayverdi), um<br />
jovem iraquiano que piorou a sua si-<br />
Na política<br />
“repressiva” dos<br />
imigrantes ilegais e na<br />
legislação penal que<br />
contempla pena <strong>de</strong><br />
prisão para quem<br />
aju<strong>de</strong> um clan<strong>de</strong>stino,<br />
Lioret vê um lastro<br />
comum com a forma<br />
<strong>de</strong> actuação da<br />
“polícia francesa<br />
durante a Ocupação”.<br />
“É, antes <strong>de</strong> tudo, um<br />
incitamento à<br />
<strong>de</strong>lação”, atira<br />
tuação <strong>de</strong> clan<strong>de</strong>stino em Calais, isto<br />
é, isolou-se ainda mais, ao estragar<br />
involuntariamente a fuga do seu grupo<br />
- a sua respiração <strong>de</strong>nunciou presença<br />
humana num camião. Bilal quer<br />
agora ter aulas <strong>de</strong> natação. Para se<br />
preparar para o seu objectivo, chegar<br />
a Inglaterra on<strong>de</strong> vive a noiva. E chegar<br />
a nado...<br />
O que une Simon a Bilal – melhor,<br />
o que atrai o quarentão Simon para o<br />
adolescente Bilal – é algo <strong>de</strong> misterioso.<br />
Claro, lá está a parte <strong>de</strong> “Welcome”<br />
em que se percebe que o casamento<br />
<strong>de</strong> Simon acabou mas este<br />
tenta tudo para ainda conseguir impressionar<br />
a ex-<strong>mulher</strong>: mostrar-lhe,<br />
por exemplo, que se preocupa com<br />
os outros, que tem consciência - há<br />
um significativo diálogo entre o excasal,<br />
em que ela critica o alheamento<br />
<strong>de</strong>le, por passar por cima do que a<br />
História ensinou. Mas os silêncios da<br />
personagem interpretada por Vincent<br />
Lindon, a sombra <strong>de</strong> nostalgia que<br />
passa nos seus olhos cansados (foi um<br />
ex-nadador, ex-campeão), e a obsessão<br />
<strong>de</strong> Bilal enchem essa parte do<br />
melodrama <strong>de</strong> uma tristeza mais in<strong>de</strong>finível.<br />
O filme aí aguenta-se numa<br />
tensão que não esmorece. É a parte<br />
mais obsessiva <strong>de</strong> “Welcome”, e chegamos<br />
a dizer a Lioret que <strong>de</strong>via ser<br />
mais monomaníaco ainda, não per<strong>de</strong>r<br />
energias nem com a situação conjugal<br />
<strong>de</strong> Simon nem com as cenas em Inglaterra<br />
com a família da noiva <strong>de</strong><br />
Bilal. Lioret não gostou da sugestão,<br />
Um grupo <strong>de</strong> imigrantes ilegais <strong>de</strong>ambula por Calais,<br />
espreitando camiões, em busca <strong>de</strong> uma aberta para<br />
atravessarem o Canal da Mancha<br />
Vincent Lindon<br />
e Philippe Lioret na rodagem<br />
está-se a ver. “É um filme que fala da<br />
vida, não é a história que me interessa,<br />
são as personagens. São as personagems<br />
que me guiam. O meu filme<br />
é como a vida, faz-se <strong>de</strong> relações múltiplas.<br />
Não tenho a impressão que o<br />
filme se perca”.<br />
A crispação esmorece quando lhe<br />
dizemos que Lindon, actor com quem<br />
ele criou uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong><br />
(“tornámo-nos próximos, falamos praticamente<br />
todos os dias, temos projectos<br />
comuns”), nos lembrou o sonambulismo<br />
<strong>de</strong> Robert Mitchum. Dito<br />
<strong>de</strong> outra forma, e não per<strong>de</strong>ndo tempo<br />
com o individual: que tal como os<br />
actores do cinema americano clássico<br />
Lindon não precisa <strong>de</strong> muito para<br />
mostrar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos<br />
– tomada <strong>de</strong> consciência social e política,<br />
sim, mas também olhar para um<br />
adolescente e rever a sua própria juventu<strong>de</strong><br />
– que tomaram conta <strong>de</strong>le.<br />
“Fico contente, vou dizer isso a Vincent,<br />
que também vai ficar contente.<br />
Vincent tinha a ida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al para compreen<strong>de</strong>r<br />
o essencial das coisas. Tem<br />
algo <strong>de</strong> muito terreno. Quanto aos silêncios...<br />
lêncios na verda<strong>de</strong> o filme tem mui-<br />
tos diál diálogos, mas não são explicativos.<br />
Na TV é<br />
que se explica tudo. O encon-<br />
tro entre entr tr as duas personagens [o pro-<br />
fessor <strong>de</strong> d natação e o clan<strong>de</strong>stino] ti-<br />
nha <strong>de</strong> d ser mesmo um encontro. A<br />
partir parti do momento em que Simon<br />
vê Bilal, B ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma abstracção.<br />
trac Os imigrantes ilegais estão<br />
nos jornais, vêmo-los na televisão,<br />
mas não os vemos. Bilal, personagem<br />
gem com uma energia incrível, dá<br />
uma lição <strong>de</strong> vida a Simon”.<br />
Ver crítica crít ít <strong>de</strong> filme págs. 35 e segs<br />
MUSEU DO ORIENTE<br />
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