Conhece esta mulher? - Fonoteca Municipal de Lisboa
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ENRIC VIVES-RUBIO<br />
São a banda que David Lynch fez questão<br />
<strong>de</strong> ter na banda sonora do seu casamento<br />
com Emily Stofle, em Fevereiro<br />
<strong>de</strong>ste ano, e na apresentação do<br />
seu livro “Catching the Big Fish”, em<br />
Janeiro <strong>de</strong> 2007. “Atrai-me a melancolia<br />
das canções das Au Revoir Simone<br />
– uma melancolia alegre. [As canções]<br />
Têm a ver com os sonhos e os amores<br />
<strong>de</strong>las, mas são maiores do que a vida<br />
<strong>de</strong>las”, explicou, em Maio, ao jornal<br />
britânico “Telegraph”.<br />
O cineasta não está sozinho: os três<br />
discos do trio <strong>de</strong> Brooklyn, Nova Iorque,<br />
tornaram-se objecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção<br />
<strong>de</strong> muita gente. Actuam amanhã na<br />
Casa da Música (numa noite partilhada<br />
com outra banda <strong>de</strong> <strong>mulher</strong>es, as<br />
Slits), com um álbum, o terceiro da<br />
discografia, ainda fresco para apresentar,<br />
“Still Night, Still Light”, editado<br />
em Maio.<br />
David Lynch “é um génio”, diz Annie<br />
Hart (teclas e vozes), com evi<strong>de</strong>nte<br />
orgulho, ao telefone com o Ípsilon<br />
a partir <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong> hotel na Suíça.<br />
Tem uma voz suave e um discurso<br />
com algumas hesitações, disfarçadas<br />
pelo riso fácil - condiz com a imagem<br />
<strong>de</strong> meninas tímidas, bonitas e<br />
bem comportadas que transmitem na<br />
sua música (pop melancólica feita<br />
apenas com teclados, uma caixa <strong>de</strong><br />
ritmos e as vozes das três) e fotografias<br />
promocionais. “Ele começou da<br />
mesma forma que nós: sem querer<br />
saber se as pessoas conheciam a arte<br />
<strong>de</strong>le. [Fazer filmes] Era algo que ele<br />
precisava <strong>de</strong> fazer”.<br />
As Au Revoir Simone nasceram em<br />
2003 numa viagem <strong>de</strong> comboio em<br />
que as três perceberam que tinham<br />
um <strong>de</strong>sejo em comum: fazer uma banda<br />
<strong>de</strong> teclados. A relação com estes<br />
instrumentos já vem <strong>de</strong> longe. “Tinha<br />
oito ou nove anos e recebi um Casio<br />
pequeno como presente <strong>de</strong> natal. Há<br />
pouco tempo comprei um novo e é<br />
óptimo”, recorda Hart. Esse Casio SK1,<br />
em que “tocava horas a fio”, ocupavalhe<br />
parte dos dias da estudante. “Tinha<br />
aulas em casa, logo tinha imenso<br />
tempo livre e tocava o dia inteiro. Ainda<br />
estou muito surpreendida que as<br />
pessoas gostem <strong>de</strong> ouvir as canções<br />
que escrevo para me divertir”.<br />
Depois disso, já no liceu, Annie encontrou<br />
na cena punk-hardcore a<br />
companhia que lhe faltava – ninguém<br />
diria, agora que a vemos entretida em<br />
melodias melancólicas e em adoráveis<br />
sessões fotográficas, que fosse uma<br />
frequentadora dos concertos da cena<br />
<strong>de</strong> Long Island, em Nova Iorque. “Fiz<br />
uma fanzine [revista artesanal]. Escrevia<br />
sobre ser vegetariano, assuntos<br />
ecológicos, política, coisas <strong>de</strong>ssas”,<br />
lembra. Não tocava em nenhuma banda,<br />
só na “marching band” da escola.<br />
David Lynch<br />
teve as Au<br />
Revoir Simone<br />
no seu<br />
casamento<br />
“Quando entrei na cena hardcore fiquei<br />
muito excitada porque <strong>de</strong>scobri<br />
que havia um gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> pessoas<br />
e uma cultura que acreditavam<br />
nas mesmas coisas que eu: o ambiente,<br />
o vegetarianismo, a política, <strong>esta</strong>r<br />
envolvido com a comunida<strong>de</strong>”.<br />
Na faculda<strong>de</strong>, vieram os Pixies, os<br />
Yo La Tengo e outros grupos da cena<br />
indie rock dos anos 1980 e 1990. Essas<br />
bandas, mas sobretudo os Mo<strong>de</strong>st<br />
Mouse (cujo disco <strong>de</strong> estreia, <strong>de</strong> 1996,<br />
ouvia “quatro vezes por dia durante<br />
dois anos”), “tiveram um gran<strong>de</strong> impacto”<br />
na forma como Annie pensava<br />
em fazer música.<br />
Amor pelos teclados<br />
Desses grupos indie, as Au Revoir Simone<br />
conservam o “entrelaçar” <strong>de</strong><br />
melodias (já não <strong>de</strong> guitarras, mas <strong>de</strong><br />
teclados), diz Annie. Mas o espírito<br />
indie está, dizemos nós, sobretudo,<br />
na aura que as três transmitem, com<br />
aquele ar <strong>de</strong> meninas <strong>de</strong> biblioteca –<br />
não é pose, pelo menos no que toca<br />
Música<br />
a Hart, que trabalhou anos em bibliotecas<br />
e numa livraria - e a timi<strong>de</strong>z como<br />
<strong>esta</strong>do natural.<br />
Com as Au Revoir Simone, cada<br />
disco parece uma continuação do disco<br />
anterior, um aprimoramento da<br />
mesma caixinha <strong>de</strong> música. “Algumas<br />
bandas fazem um terceiro álbum; outras<br />
fazem antes um terceiro refinamento<br />
‘do álbum’”, <strong>de</strong>finiu bem o<br />
jornal “The Boston Phoenix”. “Still<br />
Night, Still Light” lembra o embalo<br />
“kraut” das Electrelane em “Knight<br />
Wands”, traz uma hipotética versão<br />
indie dos Abba (“Another Likely<br />
Story), uma <strong>de</strong>lícia <strong>de</strong> sintetizadores<br />
borbulhantes (“Shadows”) e mais coisas<br />
boas, sempre com as teclas como<br />
rainhas e senhoras.<br />
“Still Night, Still Light” foi sendo<br />
feito ao longo <strong>de</strong> quatro meses, entre<br />
os apartamentos dos membros e alguns<br />
estúdios profissionais. Perseguindo<br />
o trio, Thom Monahan (que<br />
trabalhou com gente como os Vetiver<br />
e Devendra Banhart) ia gravando as<br />
A fixação pelos teclados<br />
levou-as até a uma<br />
empresa <strong>de</strong> música<br />
para anúncios à<br />
procura <strong>de</strong><br />
instrumentos antigos.<br />
“Havia cinco teclados<br />
antigos, órgãos e sintetizadores.<br />
Estivemos<br />
num escritório durante<br />
duas semanas, íamos<br />
almoçar com os<br />
trabalhadores”, lembra<br />
Annie Hart, a rir-se<br />
As Au Revoir<br />
Simone nasceram<br />
em 2003<br />
numa viagem<br />
<strong>de</strong> comboio<br />
em que as três<br />
perceberam<br />
que tinham<br />
um <strong>de</strong>sejo em<br />
comum: fazer<br />
uma banda<br />
<strong>de</strong> teclados<br />
várias camadas <strong>de</strong> teclados, vozes e<br />
ritmos. “Queríamos alguém que fizesse<br />
a nossa música soar menos electrónica<br />
e mais humana. Queríamos<br />
trabalhar com Thom e acabámos por<br />
<strong>de</strong>scobrir que ele queria trabalhar<br />
connosco porque adora teclados, música<br />
electrónica e coisas minimais,<br />
como os Suici<strong>de</strong>, a Kate Bush... Ele foi<br />
excelente: no passado sabíamos como<br />
queríamos que as nossas canções soassem,<br />
mas não como lá chegar. O<br />
Thom sabia como pôr as canções a<br />
soar da forma como a <strong>de</strong>screvíamos”.<br />
A fixação pelos teclados levou-as<br />
até a uma empresa <strong>de</strong> música para<br />
anúncios à procura <strong>de</strong> instrumentos<br />
antigos. “Havia cinco teclados antigos,<br />
órgãos e sintetizadores. Estivemos<br />
num escritório durante duas semanas,<br />
íamos almoçar com os trabalhadores”,<br />
lembra Annie, a rir-se.<br />
Ver agenda <strong>de</strong> concertos págs. 33<br />
e segs.<br />
Au Revoir Simone,<br />
as meninas da caixinha <strong>de</strong> música<br />
Têm nos teclados objectos <strong>de</strong> culto. Curioso <strong>de</strong>stino<br />
para um trio a que pertence uma ex-frequentadora<br />
<strong>de</strong> concertos hardcore. Actuam amanhã na Casa da<br />
Música e segunda-feira na Aula Magna. Pedro Rios<br />
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