A garganta do diabo - Cabine Cultural
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Paulo Sérgio agora a tem como protegida, não quer<br />
imaginar um fim trágico a Adriana. Seria destruir parte de um<br />
futuro promissor, uma mulher aproveitável em alguma ação <strong>do</strong><br />
grupo, nada de casual desperdício.<br />
Não acataria toda a ordem de Ubal<strong>do</strong>. Faria o possível<br />
para agradá-lo: os homens, bandi<strong>do</strong>s e bons profissionais, mas<br />
para esta mulher não, crime grosseiro e banal, sem necessidade.<br />
O que poderia comentar Adriana? Nada, ela não se<br />
envolvia nos assuntos <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, somente o acompanhava nas<br />
viagens e agora demonstrava interesse em separar-se.<br />
Se dependesse de Paulo Sérgio cabia compaixão e<br />
Adriana era merece<strong>do</strong>ra desse sentimento. Lembrava-se das<br />
primeiras palavras que ela proferiu “Quem ama salva a vida e<br />
<strong>do</strong>a a sua”. Será que o amor poderia ser momentâneo, ou a<br />
covardia impedia a atrocidade? Ele sabia de antemão que tais<br />
atos de violência ficavam aquém de suas mãos. Mesmo se<br />
Ubal<strong>do</strong> quisesse levar o fim à determinação, os companheiros<br />
seriam orienta<strong>do</strong>s a convencer Adriana <strong>do</strong>s perigos.<br />
Como se um redemoinho houvesse entra<strong>do</strong> na cabeça<br />
de Adriana, ela tão logo se aproximou daquela mansão onde<br />
Paulo Sérgio residia começou a dizer palavras jamais dirigidas a<br />
seu mari<strong>do</strong>. Mesmo porque sua paixão por Marcos André havia<br />
si<strong>do</strong> pouco arrebata<strong>do</strong>ra, fora mais um sentimento secundário,<br />
pois seu mari<strong>do</strong> demonstrava afeto, amava-a, fazia-lhe carícias,<br />
os beijos, a língua amorosa, mas as palavras não lhe saíam tão<br />
afáveis e excitantes.<br />
A caminho da casa, no silêncio gera<strong>do</strong> pela ausência de<br />
assunto, Paulo Sérgio arriscou-se a perguntar sobre o amor.<br />
Adriana discorreu sobre seus últimos dias de espera, a<br />
ausência de carícias e a frieza com que Marcos André lhe tratava.<br />
Disse-lhe da amante que possivelmente havia conheci<strong>do</strong>, e por<br />
fim mencionara a beleza da mulher que por certo a traía.<br />
Neste ínterim Paulo Sérgio teceu-lhe os melhores<br />
elogios, discorreu sobre seus olhos, tratou-lhe a boca com <strong>do</strong>ces<br />
e longos beijos, acariciou-lhe os seios, morden<strong>do</strong> os mamilos<br />
rijos com carinho, analisan<strong>do</strong> com ternura o corpo que Ubal<strong>do</strong><br />
queria o fim.<br />
Quan<strong>do</strong> na casa, a paixão crescera e com ela a certeza<br />
que Adriana era a mulher mais deliciosa que adentrara naquele<br />
recinto, não pela beleza física, mas pelos traços e o calor de seus<br />
delírios no momento da entrega e volúpia.<br />
Talvez os copos de vinho tenham completa<strong>do</strong> os<br />
acordes finais. Então os corpos se procuraram ardentes, cáli<strong>do</strong>s,<br />
ressonantes; libertos. Não havia dúvidas <strong>do</strong> prazer. Tu<strong>do</strong> fora<br />
impulsivo, sem cálculo, nem planos.<br />
Adriana precisava deliciar-se com um amor sem<br />
promessas, sem cobranças e sem ressentimentos. Entregar-se ao<br />
delírio de um corpo gostoso que lhe agradasse sem promessas e<br />
nele encontrar o prazer que a tempo estava perdi<strong>do</strong> na penumbra<br />
de seu quarto.