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50<br />

Na esfera do Estado,<br />

é visível que os negros<br />

não conseguem<br />

fazer prevalecer suas<br />

necessidades em<br />

muitas políticas<br />

públicas, pois estão<br />

sub-representados em<br />

todas as posições de poder<br />

R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />

No que diz respeito à hierarquia dos cargos, também fica confirmada a menor<br />

proporção de negros em postos de nível mais elevado. Eles são 29% dos ocupantes<br />

das posições inferiores e 22% das superiores. Outras disparidades devem existir, mas<br />

os dados disponíveis não possibilitam separar as carreiras em que os negros ingressam,<br />

tarefa que seria importante devido à heterogeneidade de poder, remuneração e<br />

prestígio entre elas. A despeito disso, o quadro geral de preconceito e de discriminação<br />

racial existente na sociedade brasileira permite supor que a situação se repita em<br />

todas as posições.<br />

AS CONSEQÜÊNCIASDASUB-REPRESENTAÇÃO DOS NEGROS<br />

NAS POSIÇÕES DE PODER DO ESTADO<br />

Os dados apontados até aqui deixam claro que os negros estão sub-representados em<br />

todas as posições de poder do Estado.A principal decorrência dessa pobreza política<br />

é sua preterição sistemática dos processos de decisão sobre os destinos dos recursos<br />

coletivos. Na esfera do Estado, é visível que os negros não conseguem fazer prevalecer<br />

suas necessidades em muitas políticas públicas, fatores que poderiam auxiliá-los a se<br />

livrar do confinamento nos escalões inferiores da sociedade. É sobretudo no âmbito<br />

federal que a sub-representação dos negros tem maiores conseqüências,pois nessa esfera<br />

são tomadas as grandes decisões sobre a administração dos recursos coletivos e<br />

é definida a agenda das políticas públicas.Tal consideração pode ser comprovada por<br />

meio da análise dos resultados da atuação de parlamentares negros e brancos em prol<br />

da igualdade racial.<br />

Até a década de 1980 somente quatro medidas haviam sido tomadas contra a<br />

discriminação racial: promulgação da Lei Afonso Arinos, em 1951; retificação da<br />

Convenção sobre a Discriminação em Matéria de Emprego e Ocupação (Convenção<br />

111 da Organização Internacional do Trabalho), em 1965; da Convenção Internacional<br />

para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, em 1968; e<br />

da Convenção contra a Discriminação na Educação (Unesco), em 1968. A partir da<br />

revisão da Lei Afonso Arinos, em 1985, e do advento da Constituição de 1988, começam<br />

a surgir no horizonte indícios de mudanças. Foram instituídas algumas leis<br />

que buscaram tipificar o crime de racismo, para que os atos de discriminação racial<br />

pudessem ser punidos. De 1950 a 2002 tramitaram 117 proposições relacionadas ao<br />

racismo e às desigualdades raciais na Câmara dos Deputados, 105 delas após a década<br />

de 1980. No entanto, a despeito do aumento das leis e da adoção de medidas de<br />

punição ao racismo, as normas não têm sido cumpridas.Além disso, em termos relativos,<br />

as condições socioeconômicas dos negros permanecem invariáveis.<br />

A sub-representação das pessoas negras na esfera política dificulta-lhes ainda a<br />

carreira. Como são minoria dentro dos partidos, têm dificuldade de se firmar como<br />

lideranças e de desempenhar funções legislativas proeminentes.<br />

A SUB-REPRESENTAÇÃO DOS NEGROS NA ECONOMIA<br />

ENOMUNDODOTRABALHO<br />

Assim como no âmbito do Estado, no mundo do trabalho não é possível empreender<br />

uma análise completa da sub-representação dos negros. Os dados disponíveis permitem<br />

verificar sua presença apenas entre os empreendedores, empregadores,<br />

Os negros estão<br />

sobre-representados nos<br />

nichos de mercado<br />

menos valorizados,<br />

como construção civil,<br />

comércio ambulante<br />

e setor de serviços,<br />

que envolvem trabalhos<br />

manuais e pesados<br />

autônomos e também nos cargos de gerência e supervisão. Pode-se ainda averiguar<br />

sua participação nos níveis mais altos da hierarquia das 500 maiores empresas do<br />

Brasil, graças a um levantamento dedicado ao tema 11 .<br />

Segundo a Pnad de 2003, em torno de 46% da PEA e 48% dos que atuam por<br />

conta própria eram profissionais negros. Mas na distribuição por grupos de atividade<br />

produtiva emergem desigualdades na representação proporcional.Estão sobrerepresentados<br />

nos nichos menos valorizados, como construção civil, comércio ambulante<br />

e setor de serviços, que envolvem trabalhos manuais e pesados. No comércio<br />

não-ambulante, entre as profissões liberais e no ramo de serviços auxiliares de<br />

atividades econômicas, que agregam trabalhos e ocupações mais valorizadas pela<br />

sociedade, estão sub-representados, independentemente da região.<br />

Na economia formal, a análise é mais precisa, embora nesse segmento exista a<br />

sub-representação das pessoas negras. Em 1999 elas constituíam 21% dos empregadores<br />

e em 2003, 25%. Além da sub-representação global, outras diferenças importantes<br />

são reveladas pelos dados da Pnad de 1999. Muitas dessas disparidades estão<br />

relacionadas a atributos de ordem socioeconômica, mas existe pelo menos uma<br />

intrinsecamente importante quando se avaliam as posições de poder ocupadas pelos<br />

empregadores negros: eles têm um número bem menor de funcionários em relação<br />

aos empregadores brancos. Enquanto 31% destes tinham mais de cinco empregados,<br />

apenas 17% dos empregadores negros se encontravam na mesma condição. Em<br />

2003 o quadro permanece: 29% dos empregadores brancos tinham mais que cinco<br />

funcionários, contra apenas 16% de empregadores negros.<br />

Finalmente, o levantamento da presença das pessoas negras nos cargos de direção<br />

e gerência das 500 maiores empresas do país reforça todas as análises anteriores.<br />

Em 2003, no nível mais elevado das hierarquias dessas companhias, apenas 1,8% dos<br />

funcionários era negro. Na esfera intermediária, as pessoas negras representavam<br />

13,5% dos supervisores e, em todo o quadro funcional, 23,4%. Como essas organizações<br />

são as que oferecem maiores possibilidades de progressão na carreira, podese<br />

concluir que as mulheres e os homens negros não só têm dificuldade de acesso a<br />

cargos de decisão no mercado de trabalho como enfrentam obstáculos para simplesmente<br />

trabalhar nessas companhias, que freqüentemente oferecem melhores empregos<br />

em termos de remuneração, proteção e benefícios.<br />

Gráfico 1 • Participação dos negros nas 500 maiores empresas –<br />

Brasil, 2003 (em %)<br />

Executivo<br />

Gerência<br />

Chefia<br />

Funcional<br />

Fonte: Instituto Ethos<br />

1,8<br />

8,8<br />

13,5<br />

23,4<br />

51<br />

15% 30%

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