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Em 2003,<br />
os homens brancos<br />
ganhavam em média<br />
113% mais que os<br />
homens negros,<br />
e as mulheres<br />
brancas, 84% mais<br />
que as mulheres negras<br />
R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />
Gráfico 3 • Taxa de desemprego, por cor/raça autodeclarada e sexo<br />
– Brasil, 1992-2003 (em %)<br />
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1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003<br />
Homens brancos Homens negros Mulheres brancas Mulheres negras<br />
Fonte: PNUD/Cedeplar 2004. Atlas Racial Brasileiro.A partir de dados da Pnad, do IBGE.<br />
na proporção de assalariadas no setor privado (46,9% entre as brancas e 36,8% entre<br />
as negras) e na categoria empregada doméstica (13,8% e 24,2%).<br />
No setor informal,que,em uma concepção mais abrangente,compreende o<br />
emprego assalariado sem carteira de trabalho assinada e o trabalho por conta própria,<br />
a participação dos negros é maior que a dos brancos, independentemente do<br />
sexo. O trabalho nesse setor, porém, não é necessariamente sinônimo de ocupação<br />
de baixa qualidade – sobretudo entre os trabalhadores por conta própria. Assim,<br />
para melhor caracterizar o setor informal pode-se usar um indicador de precariedade<br />
que leva em consideração a ocupação e os rendimentos desses trabalhadores.<br />
Nesse caso, a desigualdade entre negros e brancos é ainda mais pronunciada. Em<br />
nenhum ano do período de 1992 a 2003 o hiato de informalidade entre os dois<br />
grupos se situa abaixo de dois dígitos.<br />
As desigualdades se manifestam ainda mais claramente quando o foco é dirigido<br />
à remuneração do trabalho. Na década de 1980, em média, a remuneração do<br />
trabalho de homens brancos e mulheres brancas equivalia ao dobro da remuneração<br />
do trabalho de homens negros e mulheres negras. Em 2003, os homens brancos<br />
ainda ganhavam em média 113% mais que os homens negros e as mulheres<br />
brancas, 84% mais que as mulheres negras.<br />
Embora as disparidades de escolaridade entre os dois grupos tenham papel<br />
importante nessas discrepâncias, elas não são suficientes para explicar a diferença de<br />
remuneração. Um indício disso é que, entre grupos com o mesmo tempo de estudo,<br />
a desigualdade entre brancos e negros permanece, como se pode ver no gráfico 4. Os<br />
diferenciais por cor/raça autodeclarada são menos acentuados nos níveis mais baixos<br />
de educação entre as mulheres. Já entre os homens os maiores diferenciais relativos<br />
são observados entre os analfabetos (0 ano de estudo) e entre aqueles com 1 a 3<br />
anos de estudo. O aumento da desigualdade entre negros e brancos, sobretudo entre<br />
Ainda que haja<br />
uma convergência<br />
dos níveis educacionais,<br />
esta não se traduz<br />
em uma convergência<br />
dos níveis de<br />
rendimentos de brancos<br />
e negros<br />
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as mulheres negras, fica evidente no grupo de escolaridade mais elevado – 15 anos<br />
ou mais de estudo, que equivalem à educação de nível superior. Isso mostra que,<br />
ainda que haja uma convergência dos níveis educacionais, esta não se traduz em<br />
uma convergência dos níveis de rendimentos. Em todos os casos destaca-se a situação<br />
mais desfavorável das mulheres negras.<br />
A Região Sudeste, onde os níveis de remuneração são mais elevados, exibe os<br />
maiores hiatos: os homens brancos ganham 104% mais que os homens negros e as<br />
mulheres brancas 82% mais que as mulheres negras. Por outro lado, a Região Nordeste,<br />
cujos níveis de remuneração são mais baixos, apresenta os menores hiatos: os<br />
homens brancos ganham 77% mais que os homens negros e as mulheres brancas<br />
74% mais que as mulheres negras 8 .<br />
Assim, é possível concluir que, no início do século 21, mais de um século após a<br />
abolição da escravatura, a situação dos negros ainda é desfavorável no mercado de<br />
trabalho.Dada a longa persistência dessa situação e a falta de evidências de que ela seja<br />
revertida, a discriminação racial deve ser considerada um fator decisivo dos diferenciais<br />
de remuneração no Brasil, somada às barreiras a uma inserção justa no mercado<br />
de trabalho, que propicie a democratização do acesso ao que a Organização<br />
Internacional do Trabalho considera trabalho decente.<br />
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14<br />
12<br />
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Gráfico 4 • Salário/hora médio, por cor/raça autodeclarada e sexo, segundo<br />
o nível de escolaridade – Brasil, 2003 (R$ 2002)<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Fonte: IBGE/Pnad 2003.<br />
0 1 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 +<br />
Anos de estudo<br />
Homens brancos Homens negros Mulheres brancas Mulheres negras