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R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />
Quadro 1 • O que é o Índice de Desenvolvimento<br />
Humano (IDH)<br />
Do ponto de vista aritmético,o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador sintético<br />
que varia entre 0 e 1. Quanto mais distante de 0, maior o desenvolvimento humano. Para<br />
fins analíticos, a um IDH até 0,499 se atribui a classificação de baixo desenvolvimento humano;entre<br />
0,500 e 0,799 considera-se médio desenvolvimento humano;e,acima de 0,800,<br />
alto desenvolvimento humano. Essencialmente, o IDH é composto das seguintes dimensões:<br />
Longevidade – O indicador escolhido para essa dimensão é a esperança de vida ao<br />
nascer,definida como o número de anos que um indivíduo espera viver a partir do nascimento,<br />
respeitados a estrutura e os níveis de mortalidade por idade observados naquela<br />
população no ano em questão.A inclusão desse indicador deve-se ao fato de que ter<br />
uma vida longa e saudável é uma precondição para a ampliação das capacidades e<br />
potencialidades dos indivíduos.Além disso,esse indicador de algum modo sintetiza o conjunto<br />
de indicadores da área da saúde e salubridade (mortalidade infantil, mortalidade<br />
materna, acesso a água potável, coleta de lixo, esgotamento sanitário etc.).<br />
Educação – Relacionada ao acesso ao conhecimento, essa dimensão expressa o potencial<br />
das oportunidades existentes para a tomada de decisões racionais ao longo da vida,para<br />
o alargamento das margens de escolha,para a conscientização política e cidadã<br />
e para o aumento da produtividade e do nível de rendimento pessoal e familiar. O índice<br />
dessa dimensão agrega dois indicadores: a taxa de alfabetização de pessoas maiores de<br />
15 anos (que tem peso dois) e a taxa bruta combinada de escolarização nos três níveis<br />
básicos de ensino (com peso um) – ou seja, a proporção de pessoas no ensino fundamental,<br />
médio e superior em relação à população em idade escolar.<br />
Renda – Enquanto as demais dimensões são simultaneamente um meio e um fim em si<br />
mesmas, a renda é um meio para medir a condição de manutenção de um padrão de vida<br />
digno, o acesso das pessoas a oportunidades e recursos econômicos (ocupação, emprego,<br />
renda, tecnologias, crédito, terra etc.). Para a elaboração desse índice usa-se o<br />
Produto Interno Bruto (PIB) per capita.Em sua construção,adota-se o princípio dos retornos<br />
marginais decrescentes – que leva em conta a idéia de que R$ 1 extra de renda,<br />
quando a renda é de R$ 10 mil, por exemplo, não é um insumo tão importante para o<br />
desenvolvimento humano como o mesmo R$ 1 quando a renda é de R$ 100.<br />
A aplicação do Índice de Desenvolvimento Humano (ver quadro 1) para o cálculo<br />
de desigualdades de desenvolvimento humano entre grupos raciais e étnicos no<br />
interior dos países tem sido intermitente, não existindo propriamente uma larga tradição<br />
nesse sentido. Mas, desde o começo da edição dos relatórios internacionais e nacionais<br />
de desenvolvimento humano, esse tipo de desagregação foi aplicado a nove<br />
países: África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Gabão, Guatemala,Malásia,Namíbia,<br />
Romênia e Trinidad e Tobago. Certamente este relatório do Brasil foi o que mais avançou<br />
nesse sentido, tendo em vista trabalhar com esse índice sintético desagregado por<br />
regiões e municípios.<br />
Na sociedade brasileira, a ausência de políticas sociais direcionadas aos descendentes<br />
de escravos e escravas acabou por manter boa parte da população negra na<br />
A pobreza humana<br />
não enfoca o que as<br />
pessoas possuem<br />
ou deixam de possuir,<br />
mas o que podem ou<br />
não fazer – é a privação<br />
das capacidades<br />
mais essenciais<br />
da vida<br />
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pobreza. Pobreza não apenas de renda, mas pobreza humana – um conceito introduzido<br />
pelo Relatório de Desenvolvimento Humano de 1997, que parte do princípio<br />
de que, se a renda não é a soma total do bem-estar, a insuficiência de renda não pode<br />
ser a soma total da pobreza. Por isso, a pobreza humana não enfoca o que as pessoas<br />
possuem ou deixam de possuir, mas o que elas podem ou não fazer. É a privação<br />
das capacidades mais essenciais da vida, incluindo desfrutar de uma vida longa<br />
e saudável, ter acesso ao conhecimento, ter recursos econômicos adequados para<br />
uma vida digna e poder participar da vida comunitária, defendendo seus interesses.<br />
Enquanto a pobreza de renda pode ser medida pela insuficiência de rendimentos<br />
monetários, medidas indiretas podem aferir a pobreza humana,como falta de acesso<br />
ou acesso deficiente a bens, infra-estrutura e serviços públicos – água potável, saneamento,<br />
saúde, educação, energia, comunicações –, necessários para o sustento<br />
de capacidades humanas básicas.<br />
A desagregação do IDH por grupos étnicos e raciais, assim como dos demais<br />
indicadores demográficos, sociais e econômicos, permite compreender melhor as diferenças<br />
sociais no Brasil – bem como o próprio tema da ampliação das capacidades<br />
e oportunidades. Desde 1997 simulações e estudos vêm sendo realizados com o objetivo<br />
de desagregar racialmente o IDH. Em 2003, o PNUD-Brasil lançou a edição eletrônica<br />
do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil,que contém 120 indicadores<br />
de desenvolvimento humano desagregados por cor/raça autodeclarada em nível nacional<br />
e estadual. Entre esses indicadores está o Índice de Desenvolvimento Humano<br />
Municipal (IDH-M), derivado do IDH calculado para países (ver quadro 2).<br />
Quadro 2 • O que é o Índice de Desenvolvimento Humano<br />
Municipal (IDH-M)<br />
A partir de uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no<br />
Brasil (PNUD),o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),a Fundação João Pinheiro<br />
e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi elaborado em 1998 o Índice<br />
de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) – uma adaptação do IDH calculado para<br />
países –, que permite captar a situação de desenvolvimento humano de estados e municípios.<br />
Em vez do PIB per capita, usado no IDH, leva-se em conta a renda familiar per capita;e,em<br />
vez da taxa bruta de matrícula, utiliza-se a taxa bruta de freqüência à escola, nos<br />
três níveis de ensino.<br />
O objetivo dessas mudanças é poder empregar o índice nas análises sobre os municípios.<br />
O PIB,por exemplo,mede o valor da riqueza gerada,enquanto a renda é a medida da riqueza<br />
apropriada pela população – e os dois fatos não ocorrem obrigatoriamente dentro do território<br />
limitado do município, uma vez que a riqueza gerada por uma unidade produtiva em<br />
determinada cidade não é necessariamente ali apropriada. Do mesmo modo, o volume de<br />
matrícula registrado pelas escolas de uma comunidade não necessariamente reflete o nível<br />
de escolaridade da população dessa comunidade, na medida em que suas escolas podem<br />
estar atendendo residentes de outras comunidades;a taxa de freqüência à escola,portanto,<br />
indica melhor o potencial de escolarização de um município.