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O filho de um<br />
negro pertencente<br />
ao alto escalão<br />
corre mais riscos de<br />
não se manter<br />
no mesmo nível de<br />
seus pais do que o filho<br />
de um branco de origem<br />
social semelhante<br />
R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />
As evidências da sub-representação das pessoas negras nas posições de poder<br />
da sociedade brasileira configuram, portanto, a situação de pobreza política desse<br />
grupo. Os dados apenas corroboram o que está à vista de qualquer observador:<br />
quanto mais se avança rumo ao topo das hierarquias de poder, mais a sociedade<br />
brasileira se torna branca. O fato se repete em quai squer áreas que sejam analisadas:<br />
nos meios de comunicação de massa, sindicatos e associações profissionais,<br />
movimentos sociais e organizações não-governamentais, entre outros espaços<br />
cruciais para a formação e a manutenção de poder. Não por coincidência, o mesmo<br />
ocorre quando se consideram os mais ricos, pois as relações entre riqueza e<br />
poder são sempre intensas.<br />
O quadro de sub-representação pode ser referendado, ainda, pelos estudos<br />
que relacionam estratificação e mobilidade social às desigualdades raciais. Estes<br />
mostram que nas camadas superiores da estrutura social, em que estão as posições<br />
de maior poder, a entrada dos negros é sempre mais difícil, seja qual for a sua<br />
origem. Outro ponto em comum nesses estudos é que a camada mais alta e a mais<br />
baixa são sempre as que apresentam maior grau de transmissão da situação socioeconômica<br />
de uma geração a outra. Como na camada mais alta predominam os<br />
brancos e na mais baixa os negros, os processos de mobilidade social freqüentemente<br />
asseguram aos integrantes do primeiro grupo a melhor posição.<br />
Tal tendência é confirmada também pelo fato de que, embora haja brancos e<br />
negros em todas as camadas da sociedade, a probabilidade do filho de um branco<br />
pertencente ao baixo escalão ascender socialmente é maior que a do filho de um<br />
negro na mesma situação. Por outro lado, o filho de um negro pertencente a um<br />
alto escalão corre mais riscos de não se manter no mesmo nível de seus pais do que<br />
o filho de um branco de origem social semelhante. A educação é um dos meios<br />
pelos quais essa mobilidade diferenciada é efetivada. Além de ser maior a probabilidade<br />
de mulheres e homens negros nascerem na pobreza, o que dificulta posteriormente<br />
o acesso ao sistema educacional, eles com freqüência são estigmatizados<br />
dentro das escolas, distanciando-se mesmo daqueles em situação socioeconômica<br />
semelhante.<br />
NOTAS<br />
Notas bibliográficas<br />
Capítulo 2 recorre a Instituto Ethos 2003; Johnson 2000; Líbano 2004; Moreira 1993; Nascimento e Nascimento<br />
2004; PNUD/Cedeplar 2004; Russell et. al. 1993.<br />
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1Sobre a instrumentalização eleitoral da umbanda e clientelismo, ver Brown 1985. Sobre a manipulação<br />
da capoeira, ver Líbano 2004.<br />
2 Russell 1993.<br />
3 Moreira 1993.<br />
4 PNUD 2004.<br />
5 Estamos falando de sub-representação descritiva, não substantiva. Ver Johnson 2000.<br />
6 Incluidos alguns que só ocuparam a Presidência por alguns dias, como Paschoal Ranieri Mazzilli e Carlos<br />
Luz, Tancredo Neves, que não chegou a assumir o cargo, os três membros da junta que governou o país de<br />
24 de outubro a 3 de novembro de 1930 e os três da que governou de 31 de agosto a 30 de outubro de<br />
1969, chega-se a 40 homens brancos na Presidência.As fotos de todos os ocupantes da Presidência da República,<br />
incluindo os membros de juntas e os que tiveram passagem rápida pelo cargo, podem ser encontradas<br />
na página da Presidência da República: www.planalto.gov.br.<br />
7 O caso mais expressivo é o de Nilo Peçanha, descrito como pessoa de “tez pigmentada”, mas jamais apontado<br />
por historiadores ou conterrâneos como descendente de escravos. Nascimento & Nascimento revelam<br />
que a progênie de Peçanha se recusa a reconhecer a ascendência africana do ilustre antepassado (“O<br />
Negro e o Congresso Brasileiro”,Fundação Palmares). Há também quem aponte Tancredo Neves como pardo,<br />
mas as classificações de sujeitos limítrofes estão sempre eivadas de subjetividade.<br />
8 Para um levantamento de políticos de ascendência africana que jamais se assumiram ou foram apontados<br />
por biógrafos e contemporâneos como negros e atuaram no Senado durante o império, ver Nascimento &<br />
Nascimento 2004.<br />
9 As fotografias podem ser encontradas na página da Câmara dos Deputados: www.camara.gov.br.<br />
10 Nascimento e Nascimento 2004.<br />
11 Instituto Ethos 2003.<br />
Referências bibliográficas<br />
Instituto Ethos. 2003. Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas.<br />
São Paulo: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.<br />
Johnson, Ollie. 2000. “Representação Racial e Política no Brasil: Parlamentares Negros no Congresso Nacional - 1983-1999.”Estudos Afro-Asiáticos 38: 7-29.<br />
Líbano, Carlos Eugênio. 2004.“Golpes de Mestres.”Revista Nossa História 5.<br />
Moreira, Diva. 1993. “Organizing Black People in a Racist Country:The Brazilian Case Study.”Monografia realizada para o Programa Internacional em Filantropia do<br />
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Johns Hopkins.<br />
Nascimento,Abdias do; Nascimento,Elisa Larkin.2004.“O Negro e o Congresso Brasileiro”. In Munanga, Kabengele (org.). História do Negro no Brasil. Volume 1.Brasília:<br />
Fundação Cultural Palmares/CNP.<br />
PNUD/Cedeplar. 2004. Atlas Racial Brasileiro.Brasília: PNUD/Cedeplar.<br />
Russel, Kathy Y. et al. 1993. The Color Complex.Nova York: Buntam Dobleday Publishing Group.