You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
60<br />
R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />
Tabela 1 • Valor e relação percentual entre os indicadores do IDH-M da população, por cor/raça autodeclarada<br />
– Brasil, 1980, 1991 e 2000<br />
Indicador 1980 1991 2000<br />
Esperança de vida<br />
Renda per capita<br />
Taxa de alfabetização<br />
Taxa bruta de freqüência<br />
Negra<br />
56,98<br />
132,52<br />
62,12<br />
45,31<br />
Fontes: PNUD/IBGE/Ipea. *Indicador dos negros dividido pelo indicador dos brancos.<br />
Embora os negros<br />
representem 44,7%<br />
da população do país,<br />
sua participação<br />
chega a 70% entre os 10%<br />
mais pobres e seus<br />
rendimentos, somados,<br />
correspondem a 26%<br />
do total apropriado pelas<br />
famílias brasileiras<br />
Branca<br />
60,91<br />
341,71<br />
83,85<br />
57,49<br />
N/B* (%)<br />
93,55<br />
38,78<br />
74,09<br />
78,82<br />
Negra<br />
61,79<br />
128,88<br />
70,82<br />
58,25<br />
Branca<br />
66,07<br />
316,41<br />
87,65<br />
69,60<br />
N/B (%)<br />
93,52<br />
40,73<br />
80,79<br />
83,69<br />
Negra<br />
66,15<br />
162,75<br />
80,32<br />
78,97<br />
Branca<br />
71,53<br />
406,53<br />
91,22<br />
84,88<br />
N/B (%)<br />
92,48<br />
40,03<br />
88,06<br />
93,04<br />
RENDA E DESIGUALDADE RACIAL<br />
Como mencionado anteriormente, é na dimensão renda que se encontram as maiores<br />
discrepâncias entre negros e brancos. Na década de 1980, marcada por severa<br />
crise econômica e pelas políticas de ajustes do setor público, a renda per capita contribuiu<br />
negativamente para o IDH-M, seja para a média do país (-8,6%), seja para<br />
a população branca (-9,2%) ou negra (-2,6%) – ressalve-se que o impacto foi menos<br />
intenso no IDH-M dos negros porque a renda tem peso menor na formação do índice<br />
para esse grupo.Ainda assim, ao longo das duas décadas a renda per capita dos<br />
negros representava apenas 40% da dos brancos.A população branca de 1980 tinha<br />
renda per capita 110% maior que a dos negros de 2000.<br />
A análise de indicadores desagregados por cor/raça e sexo não deixa dúvidas<br />
quanto aos aspectos fundamentais da questão racial na construção do panorama<br />
social do Brasil. Do total dos rendimentos de todas as fontes apropriadas<br />
pelas famílias brasileiras em 2000, 50% provinham de homens brancos e 24% de<br />
mulheres brancas (ou seja, a população branca respondia por 74% do total). Na<br />
outra ponta, os homens negros detinham 18% do total de rendimentos e as mulheres<br />
negras apenas 8%. Portanto, do total dos rendimentos disponíveis para as<br />
famílias no Brasil, apenas 26% tinham por origem alguma forma de remuneração<br />
de pessoas negras 2 .<br />
Não por acaso, a proporção de negros é maior nos estratos de menor renda.<br />
Embora mulheres e homens negros representem 44,7% da população brasileira, segundo<br />
dados do Censo 2000, publicados no portal do IBGE, sua participação chega<br />
a 70% entre os 10% mais pobres. À medida que se avança em direção aos estratos<br />
mais altos, sua presença diminui, até atingir apenas 16% no último estrato (os<br />
10% mais ricos) – situação que permaneceu praticamente inalterada ao longo dos<br />
anos 1990 3 .Além disso,em todas as faixas, sem exceção, o rendimento médio dos<br />
brancos é superior ao dos negros. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de<br />
Domicílios (Pnad) de 1999 revelavam que o Brasil branco era 2,5 vezes mais rico<br />
que o Brasil negro 4 .<br />
Essa desigualdade de renda resulta na maior concentração de pessoas negras<br />
abaixo das linhas de pobreza (R$ 75,50 per capita 5 em valores do ano 2000)<br />
e de indigência (R$ 37,75 per capita). Nas duas últimas décadas, a porcentagem<br />
Quadro 3 • Desigualdade e pobreza de renda nas regiões brasileiras<br />
Tabela 3 • Perfil da população pobre, por cor/raça autodeclarada – Brasil e Grandes Regiões, 2001 (em %)<br />
Branca 21 24,1 46 73,6 30,9 35,5<br />
Negra 78,8 75,6 53,5 25,9 67,9 64,1<br />
Total 7,7 49 27,6 10,5 5,2 100<br />
Fonte: IBGE/Pnad microdados. In Jaccoud e Beghin 2002.<br />
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil<br />
61<br />
Para melhor analisar a elevada incidência proporcional da pobreza e da indigência de<br />
renda sobre amplos estratos da população brasileira, deve-se considerar as desigualdades<br />
regionais. Em 2001, a Região Nordeste concentrava mais da metade (57,4%) da população<br />
vivendo abaixo da linha de pobreza no Brasil.A Região Norte vinha em segundo<br />
lugar (44,3%),porém a baixa densidade de sua população no conjunto da população brasileira<br />
fazia com que os nortistas pobres correspondessem a apenas 7,7% do total de<br />
brasileiros nessa situação (ver tabelas 2 e 3).<br />
Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza<br />
era, respectivamente, de 21,5%, 23,3% e 24,7%. Mais uma vez, os diferentes pesos<br />
relativos dos contingentes populacionais de cada uma dessas regiões no arranjo nacional<br />
faziam com que o Sudeste contribuísse em 27,6% do total de pessoas abaixo da<br />
linha de pobreza no Brasil,ao passo que o Sul e o Centro-Oeste,respectivamente,respondiam<br />
por 10,5% e 5,2%.<br />
Os indicadores acerca da pobreza de renda e das disparidades regionais também podem<br />
ser lidos em sua interseção com as desigualdades raciais.Em todas as cinco regiões geográficas<br />
do país o percentual de negros abaixo da linha de pobreza era nitidamente superior<br />
ao percentual de brancos na mesma situação. Esse perfil acaba se refletindo na<br />
composição racial da população vivendo em condições materialmente precárias no interior<br />
das regiões.Na verdade,inexiste região geográfica brasileira onde o peso dos afrodescendentes<br />
no conjunto de sua população abaixo da linha de pobreza não seja maior<br />
que seu peso no interior das respectivas populações.<br />
Tabela 2 • Percentual de pobres, por cor/raça autodeclarada – Brasil e Grandes Regiões, 2001<br />
Branca 33,6 46,9 15,6 20,4 20 22,4<br />
Negra 48,4 61,9 32,1 38,9 33,6 46,8<br />
Total 44,3 57,4 21,5 23,3 27,6 33,6<br />
Fonte: IBGE/Pnad microdados. In Jaccoud e Beghin 2002.<br />
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil