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R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />

civil comprometidas com a justiça social,a superação das desigualdades raciais e o controle<br />

social das políticas públicas.Outra instância criada foi o Fórum Intergovernamental<br />

de Promoção da Igualdade Racial (Fipir), que tem por objetivo consolidar estratégias de<br />

promoção da igualdade racial por meio de trabalho conjunto com administrações estaduais<br />

e municipais que possuam organismos similares à Seppir.<br />

Assumindo o compromisso de efetiva construção de uma política voltada às necessidades<br />

reais da população negra e de outros segmentos discriminados, o governo federal tem<br />

atuado em âmbito nacional e internacional.Em âmbito nacional,desenvolvemos a Política<br />

Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), que se fundamenta nos princípios<br />

da transversalidade, descentralização e gestão democrática. Assim, as prioridades de<br />

ação da Seppir são: política para remanescentes de quilombos; inclusão com desenvolvimento<br />

econômico para a população negra; inclusão da população negra no sistema<br />

educacional; cultura negra e combate à intolerância religiosa; saúde da população negra;<br />

segurança pública; relações internacionais; e capacitação de gestores públicos e<br />

agentes sociais para operar políticas de promoção da igualdade racial. Em âmbito internacional,<br />

a Seppir volta-se mais diretamente para a África, a América Latina e o Caribe,<br />

como forma de fortalecer a população negra e indígena.Essa proposição dá-se por acreditarmos<br />

que o combate à desigualdade racial deve estar na ordem do dia se quisermos<br />

dirimir as diferentes formas de exclusão.<br />

Na perspectiva de adotar a premissa da igualdade racial e de fortalecer a missão da Seppir<br />

como impulsionadora de tais políticas no governo federal, é preciso ter à mão dados qualitativos<br />

e quantitativos sobre as realidades raciais.A partir daí, todos os agentes teriam<br />

instrumentos para estabelecer metas e diretrizes para a superação das desigualdades nos<br />

diversos setores das políticas públicas.Também a partir do acesso aos dados é possível<br />

compreender que o racismo gera desigualdades raciais, que se desdobram em desigualdades<br />

sociais. Somente será possível efetivar as políticas de igualdade racial no momento<br />

em que considerarmos o racismo sob um prisma histórico,social e cultural de exclusão,<br />

que acaba por estruturar as relações raciais. No caso da missão da Seppir de agir em<br />

consonância com outros órgãos de governo, é preciso institucionalizar essa perspectiva<br />

junto ao gestor da política, incorporando-a numa agenda ou plano de execução.<br />

Tomemos como exemplo três áreas de atuação: educação, trabalho e saúde, em que o<br />

governo propõe políticas universalistas.Apesar desse caráter universalista, chamamos a<br />

atenção para o fato de que as desigualdades raciais fazem a diferença na qualidade do<br />

serviço e nas oportunidades. As políticas universalistas, que não devem ter seu mérito<br />

diminuído, pois permitem a inclusão cidadã para um grande número da população, não<br />

são um fim em si mesmas. É preciso tratar tais políticas “por dentro”, de forma que possam<br />

alterar todas as ações,programas e serviços que fazem parte daquela agenda política.Assim,<br />

ser agente ou gestor das políticas públicas implica lidar com a gestão da promoção<br />

da igualdade racial em qualquer programa, seja no Brasil Alfabetizado, no<br />

Programa Primeiro Emprego ou no Programa Saúde da Família, por exemplo.<br />

A institucionalização da Política de Igualdade Racial também implica uma transformação<br />

cultural dos agentes e operadores das políticas, o que significa desconstruir o racismo<br />

institucional, formado por todo o arcabouço da gestão das políticas públicas, que não<br />

considera as desigualdades raciais, como se elas não existissem nem interferissem na<br />

qualidade e no alcance da gestão.<br />

As exigências que a burocracia impõe, por exemplo, na forma de lidar com formulários<br />

não levam em conta a diversidade e as desigualdades raciais,e com isso as naturalizam.<br />

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Pensa-se a sociedade a partir de uma única referência. Devemos analisar que a pequena<br />

presença de negros, indígenas e pobres nas universidades gera uma forma de conversar<br />

e de elaborar o mundo a partir de um contexto cultural em que essa ausência vai ter<br />

influência na formulação das políticas públicas. Essas são estruturas que precisam ser<br />

desconstruídas,desnaturalizadas,sem,contudo,negar que as políticas universalistas são<br />

um avanço imensurável para a cidadania. O exercício e o alcance desse direito é que<br />

precisam ser repensados considerando as desigualdades.<br />

Assim,acreditamos que o enfrentamento do racismo,da discriminação e da desigualdade<br />

racial no Brasil, devido à complexidade e à magnitude de fenômenos históricos, exige<br />

uma política articulada e a transversalização desses objetivos no processo de formulação,<br />

implementação, monitoramento e avaliação das políticas públicas – em particular,nas<br />

áreas de combate à pobreza,trabalho,saúde,educação,previdência social,saneamento<br />

básico, habitação e planejamento urbano –, com a necessária destinação de recursos<br />

que torne possível a implementação das políticas de gênero e de raça.<br />

São grandes os desafios para a concretização de ações que naturalizem uma política<br />

amplamente inclusiva.Além dos dados estatísticos e pesquisas sobre a condição da população<br />

brasileira discriminada e excluída do ponto de vista racial e étnico, imprescindíveis<br />

para a compreensão da realidade, é necessário uma decodificação a partir da<br />

dinâmica real desses grupos. Urge uma maior inserção de negros nos espaços e nas relações<br />

de poder e da conquista de direitos, para que a necessária inclusão possibilite<br />

distribuir e utilizar melhor os recursos.Avançar na construção e consolidação da representação<br />

de movimentos sociais, ONGs e instituições sociais na definição dos rumos da<br />

política é o mote para que a nação se consolide nacional e internacionalmente.Possibilitar<br />

o empoderamento dos grupos historicamente discriminados é a única forma de garantir<br />

a eficácia das políticas sociais tratadas nos desafios anteriores.<br />

Reafirma-se, assim, a necessária relação entre os diversos setores das sociedades, em<br />

especial dos poderes públicos e a sociedade civil, rumo à construção de uma agenda<br />

política que vise a justiça social e racial. Nesse sentido, a iniciativa de instaurar 2005<br />

como Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial será marcada pela proposição,<br />

construção, acompanhamento de definição das políticas de inclusão social, estratégicas<br />

para a melhoria da qualidade de vida e o exercício da cidadania dos grupos racialmente<br />

discriminados. Concluímos, a partir de todo o ineditismo da criação da Seppir e da consolidação<br />

de suas ações e programas, que a instituição de uma política de igualdade<br />

racial reforça a agenda positiva e inclusiva, pois não há como conciliarmos um projeto<br />

de nação democrática tendo por perto o racismo.<br />

Ministra de Estado Matilde Ribeiro<br />

Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir)<br />

O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL<br />

Mesmo políticas tópicas e setoriais, como é o caso da Lei nº 10.639, que torna obrigatório<br />

nas escolas o ensino da história e da cultura afro-brasileiras, encontram resistência<br />

para sua implementação. Nos escalões superiores da burocracia o problema<br />

é diferente: o sistema de autoridade fica comprometido em razão dos incentivos pessoais<br />

provenientes dos grupos de interesse, o que, naturalmente, não é um fenômeno

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