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R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />

CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL • Igreja Católica e superação do racismo<br />

A etnia negra tem um papel e um significado importantes na formação e no desenvolvimento<br />

do nosso país.Não se pode pensar a história e o futuro do Brasil sem levar em conta<br />

os afrodescendentes, sejam eles organizados ou não.A Pastoral Afro-Brasileira parte<br />

da afirmação de que a negritude é um dom de Deus e propõe iniciativas para orientar a<br />

afirmação da identidade cultural e religiosa dos afrodescendentes. Quer ser um espaço<br />

de articulação dos grupos organizados nas comunidades,paróquias,dioceses e regionais<br />

da Conferência dos Bispos. Ela já se apresenta como um importante referencial da ação<br />

evangelizadora da Igreja. A Pastoral Afro-Brasileira iniciou com um longo processo de<br />

conscientização e militância de negros e negras. Emergiu das comunidades negras. Na<br />

década de 1970,surgiram vários movimentos,como o Movimento Negro Unificado (MNU),<br />

em 18/6/1978;o Grupo União e a Consciência Negra,em 7/9/1981;os Agentes de Pastoral<br />

Negros (APN), em 14/3/1983.<br />

Em 1988, com a Campanha da Fraternidade sobre o negro – “Ouvi o clamor deste povo”<br />

–,os grupos e a organização da Pastoral Afro-Brasileira cresceram;desde 2002,a Pastoral<br />

Afro-Brasileira passou a ser assumida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil<br />

(CNBB), na Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz.<br />

A CNBB reconhece as reivindicações das comunidades negras organizadas, conforme se<br />

lê nas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2003-2007).<br />

A Pastoral Afro-Brasileira tem os seguintes objetivos: animar os grupos negros católicos;<br />

reafirmar os valores de sua cultura; refletir sobre a auto-estima dos afrodescendentes,<br />

acentuando a negritude como dom de Deus; promover o diálogo cultural, ecumênico e inter-religioso<br />

com os afrodescendentes;promover a inclusão de negros e negras no processo<br />

de cidadania a pleno título; realizar a ação evangelizadora inculturada, facilitando a<br />

promoção da pessoa,a renovação das comunidades e a construção de uma sociedade justa<br />

e solidária; ajudar a Igreja a apoiar e a criar iniciativas contra o racismo, a discriminação,<br />

a exclusão do negro e da negra; assumir posturas de defesa do patrimônio cultural<br />

e religioso dos afrodescendentes; incentivar o surgimento de novos grupos que<br />

busquem resgatar sua identidade,na sociedade e na Igreja;promover a integração e a articulação<br />

de iniciativas e dos grupos, respeitando as suas particularidades e construindo<br />

comunidades com rosto próprio; testemunhar a fé, em profunda comunhão eclesial; e articular<br />

fé-negritude, fé-consciência negra.<br />

Entre os projetos e parcerias específicas da Pastoral Afro-Brasileira,podem ser destacados:<br />

• Consultas: Consulta Ecumênica de Teologias e Culturas Afro-Americanas e Caribenhas.<br />

Parceria com o grupo Atabaque; Cultura Negra e Teologia; Encontro de Pastoral Afro-<br />

Americana.<br />

• A Pastoral Afro-Brasileira é referência no Celam (Bogotá) e assessora a Secretaria do<br />

Departamento Missionário do Celam (Sepafro), irmandades e congados.<br />

• Parcerias: GRT, Federação Mineira de Congados e Instituto Mariama (IMA).<br />

• Elaboração de subsídios: celebrações litúrgicas inculturadas; Profampa (do Grupo<br />

Atabaque, Cultura Negra e Teologia) e a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária<br />

e Cooperação Intereclesial; Congresso de Entidades Negras Católicas (Conenc).<br />

Composição racial do clero brasileiro<br />

Uma pesquisa,primeiramente quantitativa,entre o Ceris,o IMA (que congrega padres,bispos<br />

e diáconos negros do Brasil),o Greni (órgão da Conferência dos Religiosos do Brasil)<br />

e a Pastoral Afro-Brasileira da CNBB, produziu dados, que podem não ser totalmente<br />

exatos, sobre a cor do clero.<br />

De 30.335 irmãs religiosas, 1.511 declararam-se negras. No universo de 7.592 padres,<br />

222 declararam-se negros. De 3.847 irmãos religiosos, 176 declararam-se negros. De<br />

um total do clero secular de 11.486 membros, 373 declararam-se negros; de 1.402 diáconos,<br />

31 declararam-se negros. Os números revelam que o negro é minoria no clero<br />

brasileiro e que poucos padres,irmãos e religiosas se autodefinem como afro-brasileiros.<br />

Entretanto, a pesquisa continuará, para aprofundar essa questão.<br />

Ações afirmativas das comunidades negras católicas no Brasil<br />

Pelo que ficou relatado acima, pode-se perceber que a Igreja Católica no Brasil está empenhada<br />

no enfrentamento da questão racial no país e na superação de todas as formas<br />

de racismo. Ela apóia ações afirmativas para a superação da dívida social histórica do<br />

Brasil em relação à população afrodescendente.<br />

A Pastoral Afro-Brasileira da CNBB tem parceria com o governo federal.A Igreja e os grupos<br />

reconhecem o empenho do governo em adotar ações afirmativas, em implementar<br />

ações relativas à população negra – entre elas o abandono oficial da doutrina da “democracia<br />

racial”desde a Conferência Mundial Contra a Discriminação Racial, realizada em<br />

Durban,na África do Sul –,e em implantar a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade<br />

Racial (Seppir) e seu Conselho.<br />

A Pastoral Afro-Brasileira da CNBB participa do Conselho da Seppir, que promoveu a 1ª<br />

Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial. Vemos como positiva a instituição<br />

de cotas de emprego em vários ministérios e serviços, a criação de programas<br />

voltados para os direitos humanos, para a formação profissional e para o reconhecimento<br />

do direito à titulação de propriedade de terras remanescentes de quilombos, entre outras<br />

iniciativas.<br />

As ações afirmativas do movimento negro e as políticas públicas de sua afirmação no<br />

Brasil são uma etapa contemporânea de um longo processo histórico de luta por igualdade<br />

de oportunidades.As cotas nas universidades têm um papel estratégico nesse conjunto<br />

maior de ações afirmativas que tende, felizmente, a crescer cada vez mais em nossa<br />

sociedade.<br />

Dom Odilo Pedro Scherer<br />

Secretário-Geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)<br />

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