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Os empresários que vêm<br />
aderindo aos princípios<br />
da responsabilidade<br />
social e da diversidade<br />
na empresa estão aptos<br />
a incluir em sua<br />
agenda corporativa a<br />
igualdade racial<br />
R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />
como restrito ao âmbito da empresa e de suas entidades de classe. A influência<br />
política do empresariado no processo de tomada de decisões, sua interlocução<br />
privilegiada com o Congresso e as agências governamentais, seu poder de voz por<br />
meio das várias redes de comunicação de massa usadas para veicular sua publicidade<br />
– tudo isso lhe confere uma importância inequívoca em qualquer movimento<br />
de autotransformação da sociedade e do Estado. Além disso, “os formuladores<br />
de políticas do governo não concedem participação semelhante no processo<br />
decisório político a nenhum outro grupo de cidadãos” 14 .Deriva-se daí a necessidade<br />
de tê-lo como parceiro na luta contra a desigualdade racial.<br />
Sem perder de vista a idéia de covariação de recompensas, sabe-se que uma<br />
indagação perene segundo a qual os empresários sempre obtiveram lucros adicionais<br />
decorrentes da desigualdade racial, razão porque dificilmente integrarão<br />
um movimento de luta contra o racismo, pode levar a considerações simplistas. Os<br />
empresários que vêm aderindo aos princípios da responsabilidade social e da<br />
diversidade na empresa estão aptos a incluir em sua agenda corporativa a igualdade<br />
racial. Participar de um processo em que, mesmo no curto prazo, mudanças<br />
positivas começarão a ocorrer é uma idéia que mobiliza qualquer cidadão de boa<br />
vontade e preocupado com os graves problemas de seu país. Que mudanças podem<br />
ser previstas? Políticas de reparação podem agregar interesses dos trabalhadores<br />
negros e dos empresários em um “consenso virtuoso”, como aconteceu com<br />
a socialdemocracia na Europa, por meio do qual se reduziram os conflitos operários<br />
e se aumentou a produtividade do trabalho 15 .<br />
Outra mudança que poderia advir de semelhantes consensos seria a garantia<br />
da segurança pública.Viver em uma cidade sem medo, na qual a esfera pública foi<br />
restaurada e onde não mais será preciso a proteção ilusória dos aparatos de segurança<br />
privada, que retira dos empresários o direito de ir e vir, é um objetivo de<br />
todos. Contar com uma mão-de-obra qualificada, que permita a redução dos acidentes<br />
de trabalho e ganhos de produtividade, é outra vantagem. O faturamento<br />
das empresas crescer porque seus produtos tiveram um valor agregado em razão<br />
de imagem positiva é outro benefício. O horizonte temporal de tais resultados<br />
dependerá da participação e do engajamento na construção dos consensos e acordos<br />
sobre reparação. Na sua contribuição especial o presidente da Bovespa mostra<br />
os contornos do que poderiam ser tais políticas.<br />
CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL • Abertura de capital e<br />
responsabilidade social<br />
Em 2000, chefes de Estado e de governo de vários países se reuniram na Cúpula do<br />
Milênio,promovida pela Organização das Nações Unidas,e se comprometeram a alcançar,<br />
até 2015, oito objetivos relacionados ao desenvolvimento. Um dos mais importantes e<br />
ambiciosos trata da erradicação da pobreza extrema e da fome. Diante de questão tão<br />
complexa, é infrutífero esperar que os Estados sozinhos, apenas com investimentos e<br />
políticas públicas, sejam capazes de acabar com a miséria e a má distribuição de renda,<br />
além de promover a inclusão social e a igualdade entre raças e gêneros. Cabe tam-<br />
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bém à sociedade civil arregaçar as mangas e lutar por uma ordem social e econômica<br />
mais justa. Nesse contexto, é fundamental a participação da iniciativa privada.As empresas,<br />
de modo geral, contam com recursos, organização e redes de relacionamento que<br />
podem contribuir de forma efetiva para que tais objetivos sejam alcançados.<br />
Chamar a atenção dos empresários para essas questões é, no entanto, um desafio, pois<br />
a maior parte do seu tempo e foco é direcionada para a obtenção de resultados em seu<br />
negócio.Além disso, apesar de a responsabilidade social empresarial ser um tema cada<br />
vez mais destacado no Brasil, ainda há muito por fazer, dada a magnitude dos problemas<br />
sociais do país.<br />
Defendemos que uma das formas eficazes para aumentar o envolvimento das empresas<br />
no combate às desigualdades econômicas, sociais e raciais é a promoção da abertura<br />
de capital. Essa posição tem permeado a atuação da Bolsa de Valores de São Paulo<br />
(Bovespa), que procura disseminar a cultura do investimento em ações no Brasil e, ao<br />
mesmo tempo, estimular a abertura de capital por parte das empresas. Captando novos<br />
sócios e recursos, as companhias viabilizam investimentos e contribuem para a expansão<br />
da economia com geração de empregos. A listagem em Bolsa não é um processo<br />
meramente financeiro e freqüentemente acarreta mudanças na cultura e na forma de<br />
atuação das companhias. A principal conseqüência é que passam a ser mais transparentes<br />
e a sofrer mais cobranças por parte da sociedade.<br />
Em resposta a essa exigência de accountability, ou de responsabilidade final, as companhias<br />
abertas precisam ser mais transparentes e também mais visíveis, pautando-se<br />
pelos padrões ou mais elevados possível de governança corporativa. Foi tendo isso em<br />
seu horizonte que a Bovespa implantou o Novo Mercado e os níveis especiais de governança,<br />
em 2000. Essa iniciativa aumentou a visibilidade das empresas e a confiança dos<br />
investidores no mercado, e conscientizou os empresários da importância do respeito ao<br />
acionista minoritário.Isso é bom para a economia e para a sociedade.Obrigada a fornecer<br />
direitos amplos a seus acionistas, a companhia listada nos níveis especiais adota uma<br />
cultura corporativa que, no fim das contas, reforça a crença na democracia e na governabilidade,<br />
além de encorajar a inclusão social e racial.<br />
A finalidade principal da Bolsa é a criação e manutenção de um ambiente propício para<br />
a negociação de ações e outros valores mobiliários, facilitando o encontro de investidores<br />
e empresas. Mas seu papel enquanto instituição da sociedade civil vai muito além.<br />
O que a Bovespa realizou nos últimos anos – uma ampla campanha de popularização do<br />
mercado de capitais, a implantação do Ombudsman do Mercado, a criação do Novo<br />
Mercado, a adesão ao Pacto Global da ONU e a construção de um centro esportivo numa<br />
comunidade carente de São Paulo – deve ser entendido como um esforço para promover<br />
o que o filósofo italiano Norberto Bobbio chamava de condutas desejáveis.<br />
Bobbio desenvolveu esse conceito defendendo que o direito moderno deveria, antes de<br />
reprimir,estimular comportamentos recomendáveis.As companhias podem perfeitamente,<br />
ademais de cumprirem sua missão precípua de gerar riquezas, promover condutas que<br />
fortaleçam a sociedade civil.A responsabilidade social é um exemplo.Em 2002,a Bovespa<br />
criou a Bolsa de Valores Sociais, um projeto que, replicando o modelo das Bolsas de<br />
Valores, aproxima “investidores sociais” de projetos de ONGs na área educacional. A<br />
Bovespa Social capta recursos de pessoas físicas e jurídicas e os transfere integralmente<br />
a projetos selecionados e acompanhados com rigor por uma equipe de profissionais,<br />
com apoio de um conselho de especialistas em Terceiro Setor.<br />
Muitas empresas já abraçaram a responsabilidade social e atuam nas comunidades onde