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Nos meios de<br />

comunicação, é freqüente<br />

a ausência do debate<br />

ou da abordagem racial<br />

nas matérias sobre pobreza,<br />

exclusão social e violência,<br />

geralmente ilustradas por<br />

imagens de negros<br />

R ELATÓRIO DE D ESENVOLVIMENTO H UMANO - BRASIL 2005<br />

estão instaladas. Com isso ajudam a erradicar a pobreza e outras formas de exclusão, como<br />

o racismo e o preconceito contra as mulheres. Uma democracia, como ensinou um<br />

recente relatório do PNUD sobre países latino-americanos,não se limita ao voto,mas deve<br />

dar voz e poder aos menos favorecidos – sejam pobres, sejam mulheres, sejam minorias<br />

raciais.O alvo é uma democracia cidadã.Por isso,a Bovespa tem um projeto de educação<br />

financeira dirigido ao público feminino que procura dar conta da importância da mulher<br />

na execução do orçamento familiar. E também mantém parcerias com a área sindical,<br />

abrindo as portas para uma parcela da população – os trabalhadores e pequenos investidores<br />

– que tinha pouco acesso ao mercado de capitais.<br />

O corolário dessa proximidade com os trabalhadores é a presença de um sindicalista,<br />

desde dezembro de 2004, no Conselho de Administração da Bolsa, seu órgão máximo,<br />

responsável por sua política e estratégia. Medidas como essa podem ser tomadas por<br />

várias empresas para aumentar a representatividade de parcelas que ainda não têm voz<br />

ativa em suas instituições.<br />

Dessa forma, acreditamos que a maior participação das companhias nas comunidades<br />

em que elas atuam, e os seus esforços para aprimorar não só a governança corporativa,<br />

mas também a atuação que vise a inserção das camadas menos favorecidas da população,pode<br />

gerar resultados concretos e tornar factível a meta de erradicar a pobreza<br />

extrema e a fome até 2015.<br />

Raymundo Magliano Filho<br />

Presidente da Bovespa<br />

O PAPEL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO<br />

Além de sua autoridade discursiva, a mídia tem papel central na produção de imagens,<br />

com a televisão, suas telenovelas e a publicidade. O padrão dominante de estética<br />

é conhecido: branco, louro e de olhos azuis, ficando de fora a maioria do povo<br />

brasileiro. Como exemplo, em um encarte dedicado à moda de um jornal de divulgação<br />

nacional, apareceram 202 fotografias com 222 modelos brasileiras, das<br />

quais nenhuma delas era negra. Esse fato foi constatado por um leitor do jornal e<br />

encaminhado ao seu ombudsman. A resposta do ombudsman para o leitor foi:“É<br />

correta sua observação, (...) parece que não estamos no Brasil. O editor da revista<br />

não quis comentar a mensagem. Disse apenas que concordava com o leitor.Vamos<br />

aguardar o próximo número da revista” 16 .<br />

Cabe destacar que o papel do ombudsman é o de criticar o jornal sob a perspectiva<br />

dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações. Portanto não significa<br />

necessariamente que o jornal tenha qualquer tipo de obrigação jurídica ou<br />

moral em seguir as indicações sugeridas. É positivo o fato de que os leitores reparem<br />

nesse tipo de omissão, mas é fundamental que o jornal assuma a gravidade do<br />

fato e dê tratamento diferenciado à questão.<br />

Outro exemplo é a ausência do debate ou da abordagem racial nas reportagens<br />

sobre pobreza, exclusão social e violência, geralmente ilustradas por imagens de<br />

negros. Isso significa criar uma associação do fenótipo com aspectos considerados<br />

negativos que se instala no imaginário da população brasileira.A invisibilidade dos<br />

negros relacionados com aspectos positivos configura um quadro de desigualdade<br />

Em 59 horas de<br />

programação em horário<br />

nobre das três maiores<br />

redes de televisão do país,<br />

os negros figuravam em<br />

apenas 39 comerciais.<br />

Somente em nove<br />

apareciam com fala e só<br />

em quatro tinham<br />

papel relevante<br />

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de acesso à informação que reforça a pobreza política da população negra. Os<br />

dados da pesquisa de Subervi-Velez e Oliveira, de 1991, dão uma amostra disso. Em<br />

59 horas de programação em horário nobre das três maiores redes de televisão do<br />

país, os negros figuravam em apenas 39 dos comerciais. Somente em nove apareciam<br />

com fala e só em quatro tinham papel relevante (um se referia ao Centenário da<br />

Abolição e os três outros à indústria do entretenimento) 17 .<br />

Não só nos meios de comunicação desaparece o tratamento construtivo da<br />

questão racial, mas também no mundo literário. Uma pesquisa da Universidade<br />

de Brasília (UnB) 18 que analisa 258 romances brasileiros publicados entre 1990 e<br />

2004 oferece resultados reveladores: 93,9% dos autores são brancos. Dos 1.245<br />

personagens listados nesses romances, 79,8% são brancos, 7,9% são negros e<br />

6,1%, mestiços. No total, 73,5% dos personagens negros são pobres e 12,2%<br />

deles, miseráveis.<br />

Tabela 1 • O negro na literatura<br />

De 1.245 personagens listados em 258 romances brasileiros<br />

79,8% são brancos; 7,9%, negros; 6,1%, mestiços.<br />

84,5% dos protagonistas são brancos; 5,8%, negros; 5,8%, mestiços.<br />

36,2% dos personagens brancos pertencem à elite econômica; 56,6% são de classe média.<br />

73,5% dos personagens negros são pobres; 12,2% deles, miseráveis.<br />

52,6% dos mestiços são pobres.<br />

53,3% dos indígenas são pobres.<br />

Mais de 90% de todos os personagens integrantes da elite intelectual são brancos.<br />

Fonte: Folha de S. Paulo 19 .<br />

Não se pode esquecer que os meios de comunicação são formadores de<br />

opinião fundamentais e, como tais, têm papel imprescindível na normalização do<br />

tratamento racial. O fato de ignorar a existência de 45% da população brasileira,<br />

como indica a pesquisa anterior, implica impactos psicológicos, principalmente<br />

entre as crianças negras em fase de desenvolvimento. Isso deriva na dificuldade de<br />

construir a identidade racial que se caracteriza pela baixa auto-estima e pela falta de<br />

orgulho dos brasileiros negros, seqüelas que estão relacionadas com os meios de<br />

comunicação, que retratam apenas uma parcela minoritária do povo brasileiro.<br />

PROPOSTAS PARA O RESPEITO À DIVERSIDADE CULTURAL<br />

O racismo institucional é atualmente a questão mais ampla da expressão da discriminação<br />

racial, xenofobia e intolerância. Ele refere-se a práticas institucionais que<br />

tendem a pôr o grupo vitimizado em constante posição de desvantagem em relação<br />

ao grupo dominante na sociedade em diversas áreas, tais como educação, emprego,<br />

oportunidades de carreira, habitação, saúde e outros benefícios desigualmente

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