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Caballeros Solitários Rumo do Sol Poente

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Lá fora, sob a garoa, meu pangaré paraguayo relinchava e era um sinal de que segue a<br />

vida enfim, segue a vida e eu adapto o meu velocímetro.<br />

Chivas ainda soletra uma tese. Segun<strong>do</strong> o quadrúpede, está na boemia, e não na política,<br />

a resistência, a guarda <strong>do</strong> espaço público possível nos dias de hoje.<br />

O seu generoso elogio à resistência e à flânerie, às mesas nas calçadas, aos bêba<strong>do</strong>s que<br />

vagam, elogio ao seu próprio <strong>do</strong>no. Sim, amanhã a cocheira receberá ração inglesa, a mesma<br />

<strong>do</strong>s cavalos <strong>do</strong> Príncipe Charles, valeu, grande Chivas, andava mesmo carente de teses que<br />

justiçassem as minhas perdições en la noche, grande prêmio.<br />

Cap. XXI - Donde Ezequiel faz o que pode e o que não pode para encaixar<br />

os cadáveres<br />

Nas margens <strong>do</strong> Rio Pinheiros, os urubus apuram o faro, como durante to<strong>do</strong>s os dias <strong>do</strong><br />

ano. Sobrevoam na companhia da segunda maior frota de helicópteros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, só perdemos<br />

para NY, um shopping-bunker de luxo, revenda das mais importantes grifes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e<br />

decidem o próximo destino: IML, Instituto Médico Legal, nas proximidades.<br />

Mais de cem corpos, cadáveres de policiais e de suspeitos e supostos suspeitos mortos<br />

em possíveis confrontos da Polícia com os Gângsteres <strong>do</strong> <strong>Sol</strong> Quadra<strong>do</strong>, a supracitada<br />

falange, noticiário à toda, coisas da bida, viejo amigo Kurt.<br />

O tiozinho Ezequiel faz o que pode e o que não pode para encaixar mais uns cadáveres<br />

nas câmaras frigoríficas e foge para tomar umas pingas.<br />

“Diabequeaguenta”, diz no seu cearensês da porra, cabra nasci<strong>do</strong> em Quixeramobim,<br />

terra <strong>do</strong>nde partiu Antônio Conselheiro, no prumo <strong>do</strong> que daria na sua Canu<strong>do</strong>s.<br />

Alguns corpos apodrecem.<br />

Desde o massacre <strong>do</strong>s 111 presos <strong>do</strong> Carandiru, em 2 de outubro <strong>do</strong> ano da graça de 1992,<br />

o tiozinho Ezequiel não via tanta gente morta numa mesma noite neste deserto de San Pablo.<br />

“É morto demais pra pouca geladeira”, conclui friamente no boteco Sampaio Correia,<br />

ali na Rua Teo<strong>do</strong>ro Sampaio, enquanto pega mais uma breja que neva sobre a pobre realidade<br />

fumegante que queima os de<strong>do</strong>s.<br />

Três rabos-de-galo depois, para anestesiar as narinas, volta ao serviço.<br />

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