17.04.2013 Views

Caballeros Solitários Rumo do Sol Poente

Caballeros Solitários Rumo do Sol Poente

Caballeros Solitários Rumo do Sol Poente

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Conforme o vento vinha, o naco de vinil girava e a agulha <strong>do</strong> cactus reproduzia el<br />

soni<strong>do</strong> possível naquela faixa.<br />

Repetidas noites de vento.<br />

Principalmente no mês de agosto, quan<strong>do</strong> os sertões <strong>do</strong> meu mun<strong>do</strong> vivem as mais<br />

assombradas das noites, um ventão me<strong>do</strong>nho <strong>do</strong>s desertos de dentro, perros a lamber nuestros<br />

fíga<strong>do</strong>s sob a lua nueva <strong>do</strong>s ditos loucos.<br />

Era sempre o mês cruel para Maria de la Encarnación, também da nuestra mesma<br />

família gigante, uma tia trancada num quarto escuro, sob a pecha de louca, acorrentada, los<br />

ninõs buenuelitos da área lhe atiravam pedras e gritavam loas malditas a to<strong>do</strong>s os pulmones. Eu<br />

chorava os agostos e roía as pitombas da angústia e da pouca carne da existenciazinha toda<br />

fiapo e sobejo.<br />

Na ocasião da mais cheia das luas, Encarnación rompeu las corrientes e pulou para to<strong>do</strong><br />

o siempre nas águas de um açude que sangrava as bagaceiras <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />

Habia si<strong>do</strong> casada com um caixeiro viajante, um galego com origem árabe que percorria<br />

os sertões daquela época, e antes de afogar-se por completa, hay grita<strong>do</strong> algo así que ainda hoje<br />

ecoa naquele vale <strong>do</strong>s Kariris e é reprisa<strong>do</strong> até pelas pedras quan<strong>do</strong> se batem umas nas outras:<br />

“Non hay memoria a quien el tiempo no acabe, ni <strong>do</strong>lor que muerte no le consuma.”<br />

Cap. XXIX - Do amor encoberto por nuvens baixas e escuras<br />

Teria visto Esperanza outras vezes, sobretu<strong>do</strong> nas bundas que se multiplicam nos<br />

espelhos da boate Love Story.<br />

O objeto de desejo, quan<strong>do</strong> encoberto por nuvens baixas e escuras, que nos fazem<br />

lembrar o algodão <strong>do</strong>ce azula<strong>do</strong> da infância <strong>do</strong>s dias em que o mascate fraquejava no ponto <strong>do</strong><br />

azul claro, se multiplica feito praga bíblica e vaga pelas cidades e pelos campos derre<strong>do</strong>res<br />

toman<strong>do</strong> como máscara o rosto de todas as fêmeas e também as nuvens mais baixas a nos<br />

embaçar los ojos e la pobrezita de la conciênscia que sempre foi pouca.<br />

Havia visto, ao longe, na Praça Kantuta, no bairro <strong>do</strong> Canindé, San Pablo, desta<br />

vez sorrin<strong>do</strong>, saltenha e cerveza com o nobio, carajo, mierda, que inveja, na feira<br />

boliviana <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mingos.<br />

Naquele mesmo dia enchi a cara na barraca de Berta Valdés, cerveja, aguardiente,<br />

espetinhos de coração de boi com amen<strong>do</strong>im apimenta<strong>do</strong>, de <strong>do</strong>r amorosa estoy farto,<br />

ancho, que venga o vômito.<br />

Careço devolver ao esgoto as <strong>do</strong>res que só um esgoto é capaz de escutar.<br />

San Pablo tossia como um índio com febre quan<strong>do</strong> Esperanza cruzou de novo a linha<br />

da vida da palma da mão esquerda deste cavaleiro na cartografia mais nervosa, el sub-bairro da<br />

luz vermelha.<br />

Ela agora trafega, menina perdida na selva, na palma da minha mão direita:<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!