Caballeros Solitários Rumo do Sol Poente
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Chivas ainda não sabe que podemos acreditar no sorriso de um cavalo como apostamos<br />
na metafísica de um gato vira-lata que ronrona parábolas, na ligeireza de um rato persegui<strong>do</strong><br />
por um homem a imitá-lo, como o <strong>do</strong>n Fracasso Morales, que imitava um rato como um<br />
homem de verdade deve imitar um rato, naquele armazém de milho no meio <strong>do</strong> vale quase<br />
deserto, e o rato caía no jogo como um patinho cujo lago evapora de uma hora para outra em<br />
paisagem semi-árida.<br />
O caso de Chivas não era único, naquele pueblo, de um cavalo que pula da sua estátua<br />
ou paisagem e ampara um cavaleiro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> delirante.<br />
Um amigo pintor chama<strong>do</strong> Tom Castro contara outro episódio <strong>do</strong> gênero.<br />
Quan<strong>do</strong> ouvi, apenas tirei onda e guardei no embornal de caça<strong>do</strong>r e biógrafo para não<br />
humilhar o cavaleiro Fodasno. Guardei junto com as perdizes que bicam gramíneas nas veredas<br />
<strong>do</strong>s motoboys, no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> embornal das lendas urbanas <strong>do</strong>s vagabun<strong>do</strong>s desta praça.<br />
Era a história de um desalma<strong>do</strong> cuja vida foi salva por um cavalo azul de um quadro<br />
popular da Praça da República.<br />
O vagabun<strong>do</strong> estava a lamber a lua minguante na sarjeta, quan<strong>do</strong> o cavalo saltou, ainda<br />
na montagem da feira republicana, e lhe deu amparo ímpar.<br />
Tom Castro, quan<strong>do</strong> bebe muito, tem sempre uma tese sobre tal ocorrência, não<br />
carecem ouvi-lo ainda, não derretam as ceras <strong>do</strong>s juízos:<br />
“Todas aquelas pinturas, de tão rejeitadas desde o nascimento pela Gang <strong>do</strong> Bom-<br />
Gostismo, uma das tantas que serão exterminadas mais adiante, não percam, costumam<br />
ganhar vida de verdade en la calle”.<br />
Cap. XIII - Das gazelas bulímicas e anoréxicas que saltam como boterinhas<br />
espevitadas<br />
Outro amigo, um místico pintor colombiano, dizia viver um pesadelo diário naqueles<br />
mesmos derre<strong>do</strong>res: pintava mulheres supermagras, anoréxicas até, bulímicas, gazelas,<br />
giseles, giselíssimas, e elas ganhavam as ruas com mais de 200 quilos cada uma, boterinhas<br />
faceiras, fogosas, satisfeitíssimas que em nada contribuem, há uma certa isonomia nas<br />
ventosidades de magros e gor<strong>do</strong>s, para o aquecimento <strong>do</strong> planeta.<br />
“As criaturas <strong>do</strong>s pincéis ditos populares se vingam, à vera, com sangue, sem<br />
populismos”, insiste Tom Castro.<br />
Outro pintor, cujo nombre és recomendable não mencioná-lo, tinha como tema a<br />
guerra urbana, la biolência, como nas mais elementares películas brasileñas, e viu sair<br />
<strong>do</strong>s seus quadros o horror das terríveis falanges.<br />
“Dá azar mexer com a realidade”, dizia ele, “é pior que emparedar sete gatos<br />
niegros sete seguidas vezes”.<br />
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