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Caballeros Solitários Rumo do Sol Poente

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“Uma noite...”<br />

“Uma noite... sen...”<br />

“Uma noite...”<br />

“Uma noite, sentei a...”<br />

“Uma noite, sentei a Beee<br />

lezaaaaaaa...”<br />

“Uma<br />

Uma noite, sentei a Beleza nos nos nos<br />

meus...”<br />

“Uma noite... sen... sen... sentei...<br />

“Uma noite...”<br />

“Uma noite, sentei a beleza nos meus...”<br />

“Uma noite, sentei a beleza nos meus joelhos.”(18)<br />

(18) O cavaleiro acreditava ser um sample livremente inspira<strong>do</strong> na vida e obra de Arthur Rimbaud (1854-1891)<br />

Da mesma forma acabo de ouvir o verso que ela gru<strong>do</strong>u com os lábios, gloss-urucum <strong>do</strong><br />

desespero avulso da floresta perdida, na passagem da calçada, ouvi<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, o que sempre<br />

deixo para o la<strong>do</strong> de la calle esperan<strong>do</strong> mesmo ouvir a voz <strong>do</strong>s possíveis mal-assombros.<br />

“A cidade tosse como um índio com febre” ou quase isso, talvez apenas um barulho de<br />

boca nervosa ou efeito de uma espinha de peixe que lhe atravessa a garganta desde a infância na<br />

selva como uma agulha desavisada e suja sobre um vinil de blues ou uma chica perdida no bar<br />

de Las Amistosas a gritar em alto e bom soni<strong>do</strong> “non hay banda, non hay banda, non hay banda...”<br />

“O blues se toca por si só, chica caliente, como nas canciones del viento”, diz el viejo<br />

Charles Bronson, el bigode que llora, el proprietário, também conheci<strong>do</strong> como <strong>do</strong>n Libanio.<br />

Teu avô, meu anjo, mi hija, contava que passou uns dez anos ouvin<strong>do</strong>, todas as noites,<br />

um mesmo estribilho misterioso, que el viejo não sabia mais se era zumbi<strong>do</strong> na mente <strong>do</strong><br />

deserto sertanejo <strong>do</strong> vale <strong>do</strong> Kariri ou essas coisitas sem importância que dizem haver entre o<br />

céu e a terra.<br />

O vento chegava às suas oiças, nos i<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1970, todas as noites, como se<br />

antecipasse os scratchs comuns aos DJs de hoje:<br />

“Fi-fi-fi-fica-com-com-comigo-essa-noite...<br />

E-e... não-naum-te-te-arre-pen-pen-de-de-rásss...”<br />

Somente à beira da morte, já nos seus 90, teu abuello, depois de percorrer to<strong>do</strong> o deserto<br />

<strong>do</strong> semi-ári<strong>do</strong> à sua volta, percorrer mil e uma noches <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res, desven<strong>do</strong>u o mistério.<br />

“Lá-la-lá... fo-fo-fora o frio é-é um-um açoi-te-te... Calor aqui tu-tu te-rás”.<br />

Tratava-se de um pedaço de um vinil de um cantante brasileiro de nome Nelson<br />

Gonçalves sob caprichoso espinho de mandacaru, um cactus nordestino por excelência, que<br />

funcionava como agulha de vitrola perdida na caatinga.<br />

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