Municípios devem assumir a tributação do ... - Vida Económica
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PME<br />
Forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> “Novas Oportunidades”<br />
acusam Governo de mentir<br />
O Programa Novas Oportunidades tem salários em atraso. Governo garante que a situação está a ser resolvida.<br />
Forma<strong>do</strong>res acusam Executivo de mentir.<br />
Os Cursos de Educação e Formação<br />
(CEF) <strong>do</strong> Programa Novas Oportunidades<br />
– bandeira <strong>do</strong> Governo para<br />
aumentar a qualificação profissional – são da<strong>do</strong>s<br />
por forma<strong>do</strong>res com salários em atraso.<br />
A situação é generalizada em escolas públicas<br />
(apesar da maior incidência no Norte) e, nalguns<br />
casos, as situações <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res já se<br />
tornaram “incomportáveis”.<br />
A ministra da Educação, Maria de Lurdes<br />
Rodrigues, afirmou que já “está pronto o diploma”<br />
que permite pôr fim a esta situação.<br />
“Neste momento, os centros já receberam<br />
todas as respostas <strong>do</strong> programa operacional,<br />
to<strong>do</strong>s têm o financiamento aprova<strong>do</strong>, não há<br />
qualquer problema”.<br />
Chamemos-lhe Pedro. O nome é falso por<br />
me<strong>do</strong> de represálias: “Para o ano quero continuar<br />
a trabalhar sem problemas”, refere o forma<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> CEF. A reacção pública <strong>do</strong> Governo<br />
não mu<strong>do</strong>u o cepticismo <strong>do</strong> forma<strong>do</strong>r: “Não<br />
acredito que a situação se vá resolver para já, é<br />
uma utopia”. As explicações que chegaram da<br />
ministra da Educação e <strong>do</strong> ministro <strong>do</strong> Trabalho<br />
e da Segurança Social, Vieira da Silva,<br />
merecem duras críticas. “São os <strong>do</strong>is mentirosos”,<br />
diz revolta<strong>do</strong>. Em declarações aos<br />
jornalistas, à margem de uma visita à Escola<br />
Profissional de Gaia, a ministra referiu ainda<br />
que “a maioria <strong>do</strong>s atrasos no pagamento <strong>do</strong>s<br />
vencimentos vem desde Março”, o que, na sua<br />
opinião, é “perfeitamente aceitável”.<br />
Maria de Lurdes Rodrigues acha “aceitável” atraso nos pagamentos desde Março.<br />
Contacta<strong>do</strong> pela “<strong>Vida</strong> <strong>Económica</strong>”, o gestor<br />
<strong>do</strong> Programa Operacional de Potencial<br />
Humano (POPH) – entidade responsável<br />
pelas verbas para o Programa Novas Oportunidades<br />
– não quis prestar declarações, mas,<br />
à imagem da explicação dada posteriormente<br />
por Maria de Lurdes Rodrigues, o gabinete<br />
<strong>do</strong> POPH foi referin<strong>do</strong> que o atraso se devia<br />
à “transição” <strong>do</strong>s financiamentos (antes da<br />
responsabilidade <strong>do</strong> Prodep III).<br />
A situação é cada vez mais complicada, mas<br />
os forma<strong>do</strong>res prometem não parar a luta enquanto<br />
a situação não se resolver. Garantem,<br />
no entanto, não se deixar enganar com as<br />
“desculpas” dadas pelos membros <strong>do</strong> Gover-<br />
no. “Na minha escola disseram-me que, na<br />
melhor das hipóteses, mesmo que o dinheiro<br />
chegasse esta semana, só nos poderiam regularizar<br />
a situação daqui a um mês”. A escola<br />
reagia às declarações <strong>do</strong> assessor da ministra<br />
da educação, Rui Nunes, que garantiu que,<br />
no decorrer desta semana, o dinheiro estaria<br />
na conta <strong>do</strong>s forma<strong>do</strong>res. “É impossivel que<br />
isso aconteça”, afirma Pedro.<br />
Histórias cruzam-se na precariedade<br />
“O pagamento será feito logo que haja disponibilidade<br />
de tesouraria”. A cláusula pode<br />
ler-se num <strong>do</strong>s contratos mostra<strong>do</strong>s à “<strong>Vida</strong><br />
sexta-feira, 23 Maio de 2008<br />
<strong>Económica</strong>” e justifica quaisquer atrasos no<br />
pagamento. Os forma<strong>do</strong>res passam recibos<br />
verdes to<strong>do</strong>s os meses, ainda que não tenham<br />
os pagamentos regulariza<strong>do</strong>s: “Estou<br />
a pagar IVA de dinheiro que ainda não recebi”.<br />
Pedro dá formação há dez anos, mas<br />
nunca esteve numa situação tão complicada.<br />
“Há cinco meses que não entro com dinheiro<br />
em casa; ponderei parar no final de Abril,<br />
só não o fiz pelos alunos”, refere.<br />
Pedro conta “choca<strong>do</strong>” o caso de uma colega,<br />
forma<strong>do</strong>ra numa escola pública há três anos,<br />
que não recebe desde Janeiro. “As despesas vãose<br />
acumulan<strong>do</strong> e os gastos com deslocações e<br />
alimentação estão a tornar-se incomportáveis.<br />
Não posso deixar os meus filhos passar fome”,<br />
contava, deseperada, a forma<strong>do</strong>ra. Os casos<br />
multiplicam-se e as histórias cruzam-se na<br />
precariedade. André (nome fictício mais uma<br />
vez, pelos mesmos motivos) dá formação em<br />
hotelaria. Tenta dar. “Não há talheres, copos,<br />
pratos. Não há dinheiro para nada. Vou levan<strong>do</strong><br />
coisas da minha própria casa”, denuncia o<br />
forma<strong>do</strong>r. Os próprios alunos “não recebem<br />
subsídio de alimentação” e “até uma simples<br />
visita de estu<strong>do</strong> tive que cancelar por falta de<br />
verbas. Não é possível continuar assim”. À<br />
completa desmotivação para trabalhar junta-se<br />
a incapacidade para o fazer. Os forma<strong>do</strong>res vão<br />
sustentan<strong>do</strong> o Programa <strong>do</strong> Governo.<br />
Mariana Pinto<br />
marianapinto@vidaeconomica.pt