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Municípios devem assumir a tributação do ... - Vida Económica

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Crise alimentar?<br />

Thomas Malthus “dixit”<br />

Thomas Malthus foi um economista<br />

britânico de finais <strong>do</strong> século XVIII<br />

e inícios <strong>do</strong> século XIX. Ficaram<br />

célebres os seus estu<strong>do</strong>s sobre a população,<br />

nos quais concluiu que o excesso populacional<br />

era o maior <strong>do</strong>s males da sociedade,<br />

porque as populações tendiam a crescer<br />

numa progressão geométrica, enquanto os<br />

meios de subsistência cresciam numa progressão<br />

aritmética. Por outras palavras: no<br />

ano 1 existiam X pessoas para Y alimentos;<br />

no ano 2: X*2 pessoas para Y+2 alimentos;<br />

no ano 3: X*4 pessoas para Y+4 alimentos,<br />

e por aí adiante. As teses de Malthus e <strong>do</strong>s<br />

seus discípulos deram origem a uma corrente<br />

de opinião, a economia Malthusiana,<br />

caracterizada por uma visão particularmente<br />

sombria <strong>do</strong> futuro da humanidade:<br />

1) o problema população/alimentos teria<br />

como consequência uma sobrevivência e<br />

enriquecimento <strong>do</strong>s mais fortes, em detrimento<br />

<strong>do</strong>s mais fracos (nesta medida, Malthus<br />

influenciou as teses evolucionistas de<br />

Darwin); 2) a pobreza e o sofrimento eram<br />

o destino da grande maioria das pessoas;<br />

3) qualquer melhoria em massa <strong>do</strong> padrão<br />

de vida seria temporária, pois ocasiona um<br />

inevitável aumento da população, que acaba<br />

impedin<strong>do</strong> qualquer possibilidade de<br />

melhoria sustentada.<br />

Se olharmos para o mun<strong>do</strong> de hoje e<br />

para a sua evolução desde que Malthus escreveu<br />

o seu ensaio sobre as temáticas populacionais<br />

e da riqueza, é difícil negar os<br />

pontos 1) e 2) e apenas o ponto 3) pode ser<br />

Parece algo estranho associar-se a temática<br />

<strong>do</strong> crescimento da população mundial<br />

<strong>do</strong>s países emergentes e a atracção pelas<br />

marcas como temas de investimento simultâneos.<br />

Mas as temáticas serão menos aberrantes<br />

quan<strong>do</strong> se constata que as marcas criam valor<br />

para os accionistas e um recente estu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> ActivoBank7 demonstrou que uma carteira<br />

constituída pelas 100 empresas com<br />

as marcas mais fortes, ou seja, companhias<br />

cotadas em bolsa, com forte liquidez e rebalanceada<br />

anualmente em função da revisão<br />

<strong>do</strong> ranking, com pesos relativos atribuí<strong>do</strong>s<br />

em função <strong>do</strong> valor das marcas, teria<br />

apresenta<strong>do</strong> uma rendibilidade anualizada<br />

entre Abril de 2006 e Abril último, cerca<br />

de 7,14%, o que compara com 1,49% <strong>do</strong>s<br />

índice S&P 500. O trabalho <strong>do</strong>s analistas<br />

<strong>do</strong> banco vai mais longe e conclui que se<br />

se utilizar apenas uma<br />

carteira constituída pelas<br />

empresas em que a marca<br />

contribui com mais de<br />

30% <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, as<br />

chamadas “marcas fortes”,<br />

teria gera<strong>do</strong> 10,5% em<br />

termos de rendibilidade<br />

anualizada nos <strong>do</strong>is últimos<br />

anos.<br />

E porquê associar as<br />

marcas fortes à temática<br />

das urbanizações das cidades<br />

de países emergentes,<br />

designa<strong>do</strong>s por BRIC ou<br />

EMEA, dependente da origem <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s.<br />

Porque no lote das maiores e melhores<br />

marcas, que globalmente são americanas<br />

ou japonesas, estão a entrar grandes marcas<br />

<strong>do</strong>s países BRIC, ou seja, <strong>do</strong> Brasil, Rússia<br />

Índia e China. Dentro das 100 marcas<br />

mais valiosas estudadas pela Millward Brown<br />

Optimor estão quatro marcas chineses,<br />

com a China Mobile à cabeça, mas no<br />

último ranking entrou, pela primeira vez,<br />

uma marca russa, o opera<strong>do</strong>r de telecomu-<br />

sexta-feira, 23 Maio de 2008 MERCADOS 41<br />

contesta<strong>do</strong> no que diz respeito a uma parte<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: o mun<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>.<br />

Estudei as teorias de Malthus nos tempos<br />

da universidade e lembro-me que, se por<br />

um la<strong>do</strong> se elogiava o brilhantismo <strong>do</strong> economista<br />

que previa pouco menos <strong>do</strong> que o<br />

fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, por outro la<strong>do</strong> punham-se<br />

em causa as conclusões catastróficas. Malthus<br />

era, por isso, um teórico sem razão.<br />

Um pessimista. Após Malthus vivemos<br />

<strong>do</strong>is séculos de verdadeira transformação<br />

tecnológica e de crescimento de produtividade,<br />

duas guerras mundiais, um semnúmero<br />

de guerras locais,<br />

epidemias e pestes que<br />

permitiram aliviar o ritmo<br />

de crescimento populacional.<br />

Mais recentemente, os<br />

novos méto<strong>do</strong>s de controlo<br />

da natalidade tiveram consequências<br />

evidentes no<br />

abrandamento <strong>do</strong> ritmo de<br />

crescimento populacional<br />

das economias desenvolvidas.<br />

Malthus acabou por<br />

não ter razão na aplicação<br />

das suas teorias às economias<br />

desenvolvidas, porque<br />

os factores descritos acima permitiram<br />

uma abastança mais ou menos estrutural.<br />

Contu<strong>do</strong>, por contraste e por exemplo, para<br />

o africano típico, Malthus tem e sempre teve<br />

razão: os meios de subsistência não chegam<br />

para tanta gente e, por isso, para eles a vida<br />

acaba depressa, e mal.<br />

nicações MTS e poderão entrar, em breve,<br />

a Lukoil, a Beeline e a Baltika, da Rússia, a<br />

par da ICICI da Índia, enquanto o Brasil<br />

poderá colocar como marcas muitos valiosas<br />

as cervejas Brahma, a petrolífera Petrobras<br />

e a financeira Bradesco (onde o BES tem<br />

uma posição relevante). Uma das propostas<br />

<strong>do</strong> ActivoBank7 passa pelo fun<strong>do</strong> MSS<br />

American Franchise B, que investe numa<br />

carteira concentrada de 20 a 40 empresas, e<br />

cuja grande fonte de sucesso advém de bens<br />

tangíveis, caso das marcas, direitos de autor<br />

ou méto<strong>do</strong>s de distribuição.<br />

E de que forma é que estas marcas se ligam<br />

ao crescimento das urbanizações?<br />

Nos países em desenvolvimento, ou<br />

emergentes, o acesso a uma marca é entendi<strong>do</strong><br />

como algo natural e uma subida social.<br />

Mais. Quan<strong>do</strong> os países em causa têm<br />

eleva<strong>do</strong>s recursos minerais ou energéticos, o<br />

acesso a boas marcas passará<br />

a ser uma exigência<br />

das classes médias em formação.<br />

É por isso que os<br />

analistas aconselham aos<br />

investi<strong>do</strong>res a apostarem<br />

nas rápidas urbanizações<br />

<strong>do</strong>s países em desenvolvimento<br />

como tema de<br />

aposta financeira numa<br />

óptica de muito longo<br />

prazo, ou seja, a 20 anos.<br />

O posicionamento de<br />

longo prazo em empresas<br />

a actuar nos merca<strong>do</strong>s<br />

emergentes e que actuam nos projectos e<br />

serviços associa<strong>do</strong>s às urbanizações poderá,<br />

por outro la<strong>do</strong>, ser compensa<strong>do</strong> pelo investimento<br />

relativamente seguro e de retorno<br />

garanti<strong>do</strong> no curto e médio prazo em grandes<br />

marcas e em bolsas de merca<strong>do</strong>s maduros.<br />

O mix de investimentos e merca<strong>do</strong>s<br />

geográficos distintos é uma solução em perío<strong>do</strong>s<br />

conturba<strong>do</strong>s.<br />

Nick Price, gestor <strong>do</strong> FF Emerging Europe,<br />

Middle East and Africa Fund, defende a<br />

Ajudan<strong>do</strong><br />

a resolver<br />

o problema<br />

energético, os<br />

biocombustiveis<br />

criaram uma<br />

crise alimentar<br />

Até há uns meses atrás, era difícil captar<br />

a atenção das pessoas com análises de<br />

merca<strong>do</strong> sobre o sector das “commodities”.<br />

Uma das excepções era o petróleo, sobre o<br />

qual to<strong>do</strong>s têm opinião, mesmo que seja<br />

apenas acabar com a discussão culpan<strong>do</strong> os<br />

especula<strong>do</strong>res pela escalada <strong>do</strong>s preços. Em<br />

contraste, hoje em dia, somos invadi<strong>do</strong>s<br />

com notícias sobre a crise alimentar e sobre<br />

a escalada de preços <strong>do</strong>s cereais e, mais<br />

uma vez, os especula<strong>do</strong>res fazem parte da<br />

lista <strong>do</strong>s culpa<strong>do</strong>s. Vejamos então se será<br />

assim.<br />

To<strong>do</strong>s concordarão que<br />

o mun<strong>do</strong> enfrenta <strong>do</strong>is<br />

problemas e que, sem<br />

esforço, os podemos classificar<br />

de Malthusianos:<br />

o problema clássico <strong>do</strong>s<br />

alimentos/população e<br />

um novo problema: a<br />

energia. Se Malthus fosse<br />

vivo, provavelmente<br />

diria que a melhoria das<br />

condições de vida das<br />

populações (neste caso<br />

<strong>do</strong>s chineses e indianos)<br />

gerou uma pressão sobre<br />

a procura de alimentos, que por natureza<br />

são escassos. Adicionalmente, no mun<strong>do</strong><br />

de hoje viver melhor é ter carro, electricidade,<br />

electro<strong>do</strong>mésticos, em suma: consumir<br />

energia. Portanto, a melhoria das<br />

condições de vida incentiva a procura de<br />

alimentos e de energia. Como, à seme-<br />

urbanização <strong>do</strong>s países em desenvolvimento<br />

como temática de investimento.<br />

Globalmente, este gestor da Fidelity International<br />

confirma que o aumento demográfico<br />

anual previsto para a maioria<br />

das cidades em desenvolvimento até 2020<br />

deverá situar-se entre os 3% e os 5% comparativamente,<br />

no mun<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>,<br />

antecipa-se uma redução da população ou<br />

de estagnação, caso de Londres e Nova Iorque,<br />

respectivamente.<br />

O gestor exemplifica que “a urbanização<br />

impulsiona a procura de serviços de<br />

empresas <strong>do</strong>s sectores da construção e da<br />

engenharia, bem como a procura de matérias-primas”.<br />

Depois dá o exemplo da Bell<br />

Equipment, um fornece<strong>do</strong>r de equipamento<br />

de engenharia pesada na África <strong>do</strong> Sul,<br />

Namíbia e Zâmbia e que viu as receitas se<br />

os lucros aumentarem significativamente.<br />

Adianta Nick Price que “o desenvolvimento<br />

económico em toda esta vasta região já<br />

começou a aumentar a urbanização a uma<br />

taxa sem precedentes, preven<strong>do</strong>-se que em<br />

África, por exemplo, a percentagem da população<br />

a viver em áreas urbanas aumente<br />

de 38,3% em 2005 para 50,7% até 2030”.<br />

Esta é uma tendência há muito observada<br />

nos países ocidentais, onde três quartos da<br />

população vive em áreas urbanas.<br />

Para financiar a compra/construção destas<br />

infra-estruturas, muitos destes países<br />

enquadra<strong>do</strong>s na chamada região EMEA estão<br />

a utilizar uma riqueza recente, caso <strong>do</strong><br />

petróleo e <strong>do</strong>s recursos naturais, e que tem<br />

aumenta<strong>do</strong> exponencialmente de preço nos<br />

últimos <strong>do</strong>is anos. O gestor dá o exemplo da<br />

Rússia, que irá aplicar o equivalente a 185<br />

mil milhões de dólares em infra-estruturas,<br />

enquanto o Médio Oriente e a África <strong>do</strong> Sul<br />

irão investir cerca de 150 mil milhões e 60<br />

mil milhões de dólares, respectivamente.<br />

Os grandes beneficiários e onde os investi<strong>do</strong>res<br />

poderão tirar parti<strong>do</strong> serão as empresas<br />

contratadas para desenvolverem os<br />

projectos de infra-estruturas, nomeadamen-<br />

AlexAndre MotA<br />

Consultor e Gestor<br />

de Carteiras<br />

da Golden Assets<br />

lhança <strong>do</strong>s alimentos, as fontes de energia<br />

são esgotáveis, temos de facto um problema<br />

de sustentabilidade global. Contu<strong>do</strong>,<br />

descobriu-se há pouco anos que há novas<br />

fontes de energia oriundas <strong>do</strong>s cereais e<br />

que, dessa forma, a oferta poderia aumentar<br />

e fazer face às necessidades da procura.<br />

Os biocombustíveis alargaram a oferta de<br />

energia e, por outro la<strong>do</strong>, ajudam a atacar<br />

outro problema: o aquecimento global<br />

decorrente da poluição. O problema<br />

é que os cereais, que antes serviam para<br />

alimentar as populações, servem hoje para<br />

produzir combustível. Em suma, ajudan<strong>do</strong><br />

a resolver o problema energético e da<br />

poluição, os biocombustíveis criaram uma<br />

crise alimentar.<br />

O problema poderia ser resolvi<strong>do</strong> com<br />

um aumento da área arável, mas também<br />

aqui tivemos desinvestimentos irreversíveis<br />

ao longo <strong>do</strong>s últimos 20/30 anos, terciarização<br />

das economias, aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>s campos<br />

e “boom” imobiliário. A ocupação de<br />

solos agrícolas e a relativa lentidão ou impossibilidade<br />

da sua reconversão em área<br />

arável e produtiva limitam o crescimento<br />

da oferta.<br />

Ora, se a oferta está limitada ou é rígida<br />

e a procura é crescente, o que acontece aos<br />

preços? Não é preciso um manual de economia<br />

para responder.<br />

Termino com um conselho: em vez de<br />

dar atenção à arenga sobre o papel <strong>do</strong>s especula<strong>do</strong>res<br />

nesta crise alimentar, por favor<br />

leiam Thomas Malthus.<br />

Crescimento da população e marcas são temas de investimento<br />

No lote<br />

das maiores<br />

e melhores<br />

marcas mundiais<br />

estão a entrar os<br />

países BRIC<br />

te as empresas de engenharia e as construtoras.<br />

A Fidelity dá <strong>do</strong>is exemplos de empresas<br />

para investir: a Arabtec Holding, uma<br />

empresa de construção sediada no Dubai,<br />

que tem projectos para grandes edifícios<br />

em altura, escritórios e grandes aeroportos;<br />

ou a Industries Qatar, uma companhia que<br />

aproveita a oferta abundante de gás daquele<br />

país para o converter em produtos altamente<br />

competitivos nos sectores <strong>do</strong>s adubos, <strong>do</strong><br />

aço e <strong>do</strong>s produtos químicos.<br />

Em termos genéricos, a região EMEA<br />

abrange 58 mil milhões de quilómetros<br />

quadra<strong>do</strong>s nela localizam-se 80 países, que<br />

vão desde a Rússia, passan<strong>do</strong> pelo Médio<br />

Oriente e abarcan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o continente<br />

africano. A população supera os 1500 mil<br />

milhões e detém 80% das reservas reconhecidas<br />

de petróleo <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, 97% da platina,<br />

95% <strong>do</strong> crómio, 45% <strong>do</strong> manganésio e<br />

42% <strong>do</strong> ferro. Entre as cidades com maior<br />

potencial de crescimento estão Beihai, na<br />

China, com 10,58%; ou Sana, no Iémen,<br />

com 5%; Cabul, no Afeganistão, com<br />

4,74%; Lagos, na Nigéria, com 4,44%; Luanda,<br />

em Angola, com 3,96%; ou Nairobi,<br />

no Quénia, com 3,87% de previsão de crescimento<br />

anual da população.

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